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Brasil salva 29% do lucro do Santander no 1º trimestre

Com 15 dias de Covid, impacto foi grande; 2º tri será duro

Reprodução -
O lucro do Santander
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Uma quinzena (menos de 20% do 1º trimestre), desde que o Conselho Monetário Nacional e o Banco Central definiram, em 16 de março, as medidas para ampliar a liquidez dos bancos para que pudessem enfrentar o tranco da retração econômica causada pelo novo coronavírus (Covid-19), foi o suficiente para impactar fortemente o balanço do Santander Brasil, divulgado nesta terça-feira, 28 de abril. O lucro líquido de R$ 3,853 bilhões, cresceu 3,4% sobre o 4º trimestre de 2019 (10,5% em 12 meses). Mas as provisões de R$ 3,424 bilhões para devedores duvidosos aumentaram 14,8% frente ao final de 2019 e em 19,2% em 12 meses. O banco admitiu que o 2º trimestre será muito duro.

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O lucro do Santander (Foto: Reprodução)

Como o Covid-19 chegou mais tarde nas Américas do que na Europa e particularmente na Espanha - que registrou casos já em fevereiro e acumula quase 24 mil mortes - o Brasil, mais uma vez, liderou os lucros em euros do conglomerado de Ana Botin e respondeu por 29% dos ganhos no período (694 milhões de euros). Foi mais que a soma da matriz espanhola (14% dos ganhos, ou 352 milhões de euros), que teve de fazer reforço de 1,6 bilhão de euros para cobrir perdas geradas pela pandemia e viu o lucro encolher 82% e os 304 milhões da filial espanhola SCI, que garantiu 12% dos ganhos globais. A filial nos Estados Unidos, lucrou 273 milhões de euros (11%).

O balanço trimestral da unidade brasileira mostra como as grandes empresas avançaram no crédito para reforçar o caixa, tão logo ficou claro que a crise seria devastadora. A carteira total, atingiu R$ 463,3 bilhões, com avanço de 7,1% no trimestre, em parte impactado pela disparada de mais de 25% do câmbio. As pessoas físicas, que lideram o segmento, com R$ 157,3 bilhões, só conseguiram +1,3% no trimestre. As grandes empresas (em parte devedoras em dólar e euros) aumentaram em 24,4% o saldo de suas operações, para R$ 117,9 bilhões.

As pequenas e microempresas, foco das liberações do Banco Central e do CMN, receberam + 9% (atingindo R$ 44,1 bilhões). O crédito ao consumo foi o que teve maior impacto, em 15 dias, com avanço de apenas 1,5% no trimestre, com saldo de R$ 59,1 bilhão. Daí a advertência de maior impacto no 2º trimestre. O Bradesco apresenta seu resultado na quinta-feira.

Inadimplência cresce e receitas caem

Vale lembrar que os indicadores preliminares da inadimplência apontam para graves impactos neste e nos próximos trimestres. Na métrica dos débitos com mais de 90 dias de atraso, o índice avançou de 2,9% para 30% (mas nos atrasos de 15 a 90 dias o movimento foi de 3,9% para 4,1%). Vale lembrar que se o segmento de pessoas físicas (líder dos créditos) ficou estável em 4%, nos atrasos de 15 a 90 dias, já houve salto de 5,2% em dezembro para 6%; nas Pessoas jurídicas o atraso com mais de 90 dias avançou de 1,3% para 1,6%.

No 1º trimestre as receitas de prestações de serviços caíram 6,7%, frente a dezembro, somando R$ 4,482 bilhões. Ficaram 1% abaixo do 1º trimestre de 2019. Os cartões de crédito, que lideram as receitas, tiveram queda trimestral de 11,5%. As receitas de tarifas em contas correntes caíram 5,7%, os ganhos em seguros encolheram 10% e as receitas na administração de fundos, 9,7%.

UBS pessimista: se pior acontecer, PIB cai 10%

O banco suíço UBS divulgou hoje projeções de queda de 5,5% no PIB brasileiro este ano (em linha com o CitiBrasil e o FMI), mas ressalva que, no pior cenário (a demora na retomada das atividades econômicas) o PIB pode encolher até 10%. Em 7 de abril, o Itaú, que previu queda do PIB em 2,5%, já advertia que os cenários estavam condicionados a economia retomar o ritmo em abril. O mês está acabando e não há previsões de retomada na 1ª quinzena de maio. Isto pode implicar quedas de 10% a 13,5% no PIB do 2º trimestre (se a volta das atividades ocorrer em 27 de maio). E afetar 2020.

Hoje, ao analisar a queda da confiança nos setores de serviços e de construção, na sondagem da FGV, o Departamento Econômico do Bradesco aponta “para forte recuo do PIB no 2º trimestre”.

Itaú prevê deflação em abril e maio

País que já viveu longos períodos de hiperinflação, mesmo após mais de 25 anos de estabilização do real, o Brasil tem a maioria de sua população sem ter noção dos riscos de uma deflação. Pois o Departamento Econômico do Itaú, com base na queda de 0,01% no IPCA-15 apurado pelo IBGE até 15 de abril -

com extremos, como alta de 3,1% dos alimentos e queda de 5,8% nos combustíveis e de 14,8% nas passagens aéreas - está prevendo deflação de 0,22% em abril e de 0,38% em maio. Deflação é boa para o consumidor e ruim para o comerciante, que pode perder na depreciação dos estoques.

O Itaú lembra que a inflação de serviços subjacente registrou ligeira alta de 0,18%, mas os preços industriais recuaram 0,62%, fazendo a média de 12 meses desacelerar de 3,0% para 2,5%. Isso abre caminho para nova e forte redução dos juros básicos pelo Copom em 6 de maio.

Senador dá apoio aos livros

Partiu do combativo senador Jean Paul Prates (PT-RN) uma bela iniciativa para proteger nossa abandonada área da cultura, tão afetada nesta pandemia. Na semana passada, no projeto de Lei 2148/2020, ele propôs alterar a política nacional do livro para socorrer editoras e livrarias (fechadas). A proposta cria incentivos para a criação de linhas de financiamento destinados à implantação de sistemas de e-commerce, para fazer a ponte com o leitor, recluso em casa.

Mudança de rota

Não será fácil para a nossa Embraer, retomar a rota após tantas turbulências. Em fins de 2017, a 3ª maior produtora de aviões comerciais do mundo, privatizada no final do governo Itamar Franco, em 1994, foi atropelada pela fusão de sua maior concorrente na aviação executiva, a canadense Bombardier, com a Airbus. Era uma escalada de fusões e incorporações visando ganhos de escala e economias de custos.

Como a americana Boeing tinha absorvido a conterrânea MC-Douglas em 1997, restavam poucos pretendentes para um casamento que desse escala e maior acesso ao crédito internacional para a empresa de São José dos Campos (SP). Iniciado o namoro em meados de 2018, os termos da transação (que seriam concluídos dia 24 de abril) foram selados em fins de 2018 no governo Temer, mas com anuência do presidente eleito Jair Bolsonaro, já que apesar de 80% do capital das operações comerciais ficarem com a empresa americana, o governo brasileiro teria uma “golden-share”, com poder de veto.

Abandonada no altar, na mais grave crise econômica mundial que atingiu em cheio o mundo da aviação comercial e do turismo, com mais de 60% das frotas das companhias aéreas no chão, a Embraer tem mais dificuldades de sobreviver sozinha. O mercado de jatos CS 100 e CS 300, que iria explorar sob as asas da Boeing, encolheu e nem a Mitsubishi japonesa nem a estatal chinesa Comac parecem estar com dote suficiente para amparar a Embraer.

Dinheiro os chineses têm. Mas assim como a Mitsubishi, falta reputação aos jatos da Comac, criada em 2008 para desenvolver um avião que pudesse brigar com as gigantes Boeing e Airbus, mais especificamente com os populares 737 e A320. A Embraer poderia dar o selo de qualidade, comprovada nas famílias CS 100, mas a experiência na CS 300 viria do casamento com a Boeing.