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Petrobras reage à maior queda do petróleo em 18 anos

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Com domínio de 90% da 15ª maior reserva de petróleo do mundo, com mais de 13 bilhões de barris (as possibilidades do pré-sal que respondem por 63% da produção ainda não foram completamente mensuradas), a Petrobras segue apertando os cintos, devido aos impactos do novo coronavírus (Covid-19). Isso porque os preços futuros do barril de petróleo (tipo Brent) para entrega em junho seguem baixo de US$ 30 (queda de mais de 60% no ano), em meio à queda do consumo mundial e doméstico, e da escalada de mais de 27% do dólar que impacta o seu endividamento.

Nesta sexta-feira, houve pequena alta (+1,70%) do Brent para a faixa de US$ 28,30, mas a queda de mais de 8% no petróleo americano WTI para entrega em maio, cotado US$ 18,20, na menor cotação em 18 anos, mostra a gravidade da crise do setor e recomenda corte geral de custos. Por isso, na apresentação conjunta nesta sexta-feira, 17 de abril, da diretoria da Petrobras, o diretor de Exploração& Produção, Carlos Alberto Oliveira disse que até projetos do pré-sal (onde a companhia extrai petróleo a custo inferior a US$ 7 por barril) podem ser adiados ou suspensos temporariamente.

O plano da Petrobras era fazer algumas paradas de manutenção nas plataformas em operação na Bacia de Campos e regiões de terra e águas rasas, e até mesmo na Bacia de Santos. Com a operação de menos de xifa

Além do reexame de todos os projetos cujos custos de extração estejam incompatíveis com os níveis de preços do mercado de petróleo e gás, o presidente da companhia, Roberto Castello Branco, adiantou que a companhia está forçando os grandes fornecedores a renegociar os preços pactuados para baixo. Ele ressalvou que serão poupados os pequenos e médios fornecedores, que não devem desaparecer da cadeia de apoio às atividades.

Ele disse ainda que não pretende reduzir o seu efetivo além dos 3.800 empregados com mais de 45 anos de idade, aos quais oferece plano de aposentadoria incentivada. Mas não pode garantir o mesmo quanto aos quase 90 mil empregados de empresas terceirizadas que prestam serviço à estatal. Ontem, com a determinação da Prefeitura de Itaboraí (RJ) de reduzir em 70% o efetivo de 4 mil trabalhadores, para amortecer os riscos de contágio do Covid-19, houve interrupção para 2.800, restando 1.200 nos canteiros de obras.

Castello Branco disse que a empresa vem fazendo enorme esforço para ajustar a produção de petróleo e gás (limitadas em até 2,07 milhões de barris dia de óleo em abril) à queda das exportações e da demanda interna por querosene de aviação (-84%), gasolina (-40%) e etanol (-54%), além do diesel (-10%). Mas a redução no refino afeta a capacidade de craqueamento de gás liquefeito de petróleo (que vem associado à gasolina no processo de destilação). O caso é que o GLP, usado em 90% dos lares brasileiros, foi o único combustível cuja demanda cresceu, com o forte aumento das refeições em casa.

Com todo o gás no bujão

O GLP já costuma ter parte importado. Agora, a pressão aumentou. Para fazer frente ao pico do consumo, a Petrobras, que já tinha feito três importações (duas para Santos-SP e uma para Ipojuca-PE) fez mais duas importações de 11,4 milhões de botijões de 13 kgs para suprir os mercados do Nordeste e do Sul do país. Em abril serão importados 27,4 milhões de botijões de 13kg.

Por isso, para evitar mais aumento nas compras de GLP, Castello Branco é contra o lobby dos usineiros de açúcar e álcool para elevar a incidência da CIDE sobre a gasolina nas refinarias (o que evitaria que a queda de mais de 30% nos preços deste combustível no mercado interno tire a competitividade do etanol). Para o presidente da Petrobras o consumidor seria mais afetado.

A última redução no preço do GLP foi de 10%, no dia 31/03. O preço médio do GLP nas refinarias da Petrobras é equivalente a R$ 21,85 por botijão de 13kg. No acumulado do ano, a redução é de cerca de 21%. A Petrobras conta com as distribuidoras e revendedores para que as reduções do preço do botijão de gás cheguem até o consumidor final. Até agora, ocorre o inverso: o preço do botijão cai nas refinarias, mas dispara para o consumidor, que paga mais de R$ 100, principalmente em áreas onde as milícias dominam a distribuição.

Bradesco já vê reação no PIB chinês

O Departamento Econômico do Bradesco fez interessante análise do PIB da China, que registrou tombo histórico de 6,8% no 1º trimestre, como reflexo da paralisação da economia, para conter a disseminação da Covid-19. Para o Depec está claro que o governo do país deverá adotar mais estímulos, mas vai enfrentar obstáculo às exportações, devido à retração tardia das economias mais desenvolvidas.

“A contração interanual de 6,8% no período, maior do que a esperada (-5,9%), ocorreu após uma alta de 6,0% na leitura do 4º trimestre. Na margem, houve queda de 9,8%, após o avanço anterior de 1,5%”.

O Depec sublinha que “a reabertura da economia e retomada da atividade nas últimas semanas, gradual e assimétrica, apontam para resultados melhores nas próximas divulgações. Os indicadores de março reforçam essa melhora, concentrada em grande parte na indústria, com recuperação mais lenta do consumo e dos investimentos”.

“Na comparação com o mesmo período de 2019 já se percebe uma recuperação: a produção industrial recuou 1,1% em março, após uma contração acumulada de 13,5% entre janeiro e fevereiro.

As vendas do comércio, por sua vez, caíram 15,8%, diminuindo a queda de 20,5% verificada no primeiro bimestre.

Os investimentos em ativos fixos registraram recuo de 16,1% até março, também reduzindo a retração acumulada de 24,5% nos dois meses anteriores.

E a taxa de desemprego recuou de 6,2% em fevereiro para 5,9% em março.

Olhando para frente, o Depec acredita que “parte da retomada em curso deverá ser mitigada pelo choque externo, por conta da menor demanda global, o que mantém os desafios presentes no 2º trimestre”.

Exemplo da Índia

O Banco Central da Índia deu um bom exemplo ao nosso BCB para forçar os bancos a colocarem os recursos à disposição dos clientes: o BC da Índia cortou inesperadamente sua principal taxa de depósitos nesta sexta-feira (a 2ª vez em três semanas), para desencorajar os bancos a estacionarem fundos ociosos e, em vez disso, estimular empréstimos para reanimar uma economia em crise em meio aos bloqueios em resposta ao coronavírus. A taxa está em 3,75% ao ano, como no Brasil,

Segundo o BC da Índia, o cenário econômico e financeiro do país “se deteriorou vertiginosamente” em algumas áreas.