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Barril abaixo de US$ 30 põe a Petrobras em xeque

REUTERS/Paulo Whitaker -
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A nova queda, hoje, sexta (27), de mais de 6,5% na cotação do barril de petróleo do tipo Brent para entrega futura (3 meses), em maio, que estava cotado a US$ 24,60 às 16h30, horário GMT, acendeu o sinal vermelho na Petrobras, que ontem anunciou um plano de guerra (resiliência) para resistir aos impactos econômicos do coronavírus.

Em cinco dias, a cotação do Brent futuro caiu quase 10%, em um mês a baixa foi de mais de 50% e em três meses a retração passa de 62%. O sinal pode voltar a amarelo, mas as negociações do barril para entrega em agosto um pouco abaixo de US$ 33, e o negociado para janeiro de 2021 na faixa de US$37,50. Com esses níveis de preço e o dólar na faixa de R$ 5,00 todo o Plano Estratégico da companhia está sendo revisto.

No power point das apresentações feitas a analistas em Nova Iorque e Londres no final do ano passado sobre seu Plano Estratégico que abarcaria o período de 2020 a 2014, a Petrobras informou que estava levando em conta “o barril de petróleo na faixa de US$ 50 para o período de 2020 a 2024” e “de US$ 45 por barril no longo prazo”. Acontece que o dólar médio era calculado em R$ 3,90. Com o dólar acima de R$ 5 e o barril a menos de US$ 40, a Petrobras está em xeque.

Com o dólar médio de R$ 3,90, a Petrobras situou em US$ 16 por barril o breakeven (ponto de equilíbrio) na exploração de petróleo em 2020. (No caso do pré-sal, o custo de sustentação era confrontado com um barril médio entre US$ 45 e US$ 50. “Nota: Breakeven do desenvolvimento da produção do pré-sal entre US$ 35-45/bbl”. O cenário de preços e custos está sendo totalmente revista e a primeira providência foi suspender operações custosas em águas rasas e cortar até em 100 mil barris diários a produção de petróleo.

Para isso a companhia está passando um pente fino nos custos de produção de cada campo de petróleo. A suspensão de novas contratações de pessoal, equipamentos e investimentos, anunciada ontem, tem a ver com a revisão geral (medida que todas as empresas no país e no mundo – de grandes corporações a micro negócios) estão fazendo. Ou deveriam fazer. Nada será como antes. O adiamento de maio para dezembro no pagamento de R$ 1,7 bilhão em dividendos referentes ao lucro líquido recorde de R$ 41 bilhões em 2019 foi o primeiro sinal externo.

Plano de vendas subiu no telhado

Além das receitas correntes terem caído nas projeções de exportações futuras de petróleo e no faturamento do mercado interno, estão virtualmente suspensos os planos de desinvestimento das 9 refinarias de petróleo da empresa, ou 50% da capacidade de refino no Sul (RS e PR), Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Manaus. Transporte e distribuição de gás. Ativos em terra e em águas rasas (parte executada). Distribuição de GLP (venda da Liquigás ainda não concluída). Usinas térmicas, gasodutos offshore (marítimos) e a ativos na América do Sul (alguns já foram vendidos). Com os preços do petróleo em baixa é preciso refazer todos os cálculos de retorno e ver se há viabilidade na venda das refinarias.

Com a alta de 26% no dólar este ano, a empresa programou redução de 28% nos investimentos programados para 2020, de US$ 12 bilhões para US$ 8,5 bilhões. Isto porque estão sendo adiadas (ou revistas) atividades exploratórias, interligação de poços e construção de instalações de produção e refino (caso do Comperj). Mas outros planos subiram no telhado também, como a venda das ações 49% da Braskem (controlada pela Odebrecht), ativos no pós-sal e na Bolívia. Com menos caixa à vista e a prazo, a ordem é apertar os cintos.

Planos e realidade

Na apresentação em Nova Iorque e Londres (6 de dezembro de 2019), o diretor de Exploração e Produção, Carlos Alberto Pereira de Oliveira, era só otimismo, apostando principalmente nos baixos custos de exploração do pré-sal: “Precisamos de 16 dólares por barril para poder pagar 100% dos nossos custos e despesas”. Adiante, detalhou os custos de extração:

“Nossos custos de extração são realmente muito baixos para o pré-sal. Eles estão em torno de US $ 4 por barril, US $ 3,7 em média, e US $ 6 por barril quando se trata de E&P como um todo. Sobre o potencial breakeven do nosso portfólio, já fizemos muito investimento em infraestrutura e plataformas no pré-sal. Embora tenhamos outras plataformas para colocar em streaming, quando olhamos para todo o portfólio para 2021 e 2022, até o final da produção, vemos esses números de US $ 21 e US $ 25 por barril. Esses são muito competitivos, quando você olha para o cenário atual para o preço do petróleo e também seria competitivo mesmo em um cenário de preços mais baixos do petróleo”.

Certamente não tinha considerado nada abaixo de US$ 40.

Por que os bancos não emprestam?

O Banco Central baixou juros (a Selic, que serve de piso bancário, está em 3,75% ao ano), reduziu os limites dos encaixes compulsórios dos bancos (dia 30 bilhões estarão disponíveis nos caixas dos bancos) e ainda afrouxou regras de contabilização de provisões para operações em atraso.

Por que os bancos não fazem uma campanha maciça para prover créditos aos micro e pequenos empresários que estão sem freguesia?

Empréstimos do BC a juros zero

O último ministro da Fazenda de Dilma, Nelson Barbosa, comunga com a ideia do ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, de que os bancos têm de ser agressivos no crédito para evitar que a recessão, seguida de onda de quebradeira e desemprego, fique maior do que já está desenhada.

Para Barbosa, o Banco Central e não o Tesouro Nacional (como foi feito em 2008/09), quando R$ 500 bilhões foram transferidos em títulos da dívida para BNDES, Banco do Brasil e Caixa socorrerem as empresas do país.

Agora era hora do BC liberar os recursos a juros zero, com prazo de dois anos de carência para a quitação. No máximo, os bancos poderiam pleitear 5% de taxa de comissão em cada operação.

De que adianta os bancos sobreviverem se não terem empresas saudáveis e um mínimo de clientes com poder de compra combalido?

Os R$ 600 mensais (três vezes acima dos R$ 200 anunciados há 10 dias) ajudam a sobreviver e consumir a cesta básica, mas se o emprego sumir...