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Banco Central tímido ante a ousadia do Fed

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Os Estados Unidos são a maior economia do mundo, com PIB de US$ 21,3 trilhões no ano passado. A China vem em 2º, com US$ 14,3 trilhões, o Japão, em 3º (US$ 5,1 trilhões), a Alemanha em 4º, com US$ 4 trilhões, e o Brasil tinha US$ 1,9 trilhão, em 9º lugar, após a Itália, com US$ 2 trilhões, e à frente do Canadá (10º, com US$ 1,8 trilhão. Todos estão sendo atacados pelo novo coronavírus (Covid-19), que fez as primeiras vítimas na China, em janeiro. Mas a comparação entre o que estão fazendo os EUA (328 milhões de habitantes) e o Brasil (211 milhões) dá a dimensão da reação econômica nos dois países.

Ontem, o BNDES anunciou pacote de R$ 55 bilhões para auxiliar empresas, dos quais apenas R$ 5 bilhões em dinheiro novo. O ex-presidente do banco, Paulo Rabello de Castro, já escreveu, aqui no JB, que uma boa medida seria reativar o cartão BNDES para micro e pequenos empresários. Os bancos, estimulados pelo Banco Central, estão oferecendo 60 dias de dilatação de prazo para as dívidas em dia. O faturamento caiu drasticamente há uma semana e há limitação para circulação nas ruas (e ida às agências para formalizar a negociação). Não seria melhor uma medida automática, pelos bancos?

Hoje, às 9 horas, antecipando-se ao virtual feriado nas principais cidades brasileiras a partir de amanhã (quinta-feira é o pico estimado da circulação do covid-19 nas principais cidades já afetadas), o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, anunciou, em Brasília, novas liberações de recursos para os bancos ampliarem sua liquidez e atender à clientela (pessoas físicas e jurídicas). O Banco Central brasileiro abriu sua caixa de ferramentas, complementando os primeiros movimentos na semana passada, com R$ 135 bilhões em redução de compulsórios e linhas de liquidez.

A partir da próxima segunda-feira, R$ 68 bilhões decorrentes da redução de nova baixa do recolhimento compulsório (de 25% para 17%, com possível reversão em 14 de dezembro). Outras medidas podem ampliar em R$ 640 bilhões os limites para expansão de crédito. Até debêntures de empresas serão aceitas como lastro de renegociação de créditos entre o BC e os bancos.

Roberto Campos Neto listou o arsenal de medidas baixadas pelo BCB para enfrentar a atual crise, somando R$ 1.216,2 bilhões. São equivalentes a 16,7% do PIB atual. Em 2008, na grande crise financeira mundial (a “moralinha” que Lula disse que não ia atingir o Brasil), o BC liberou um pacote geral de R$ 117 bilhões, sendo R$ 82 bilhões em redução de compulsórios sobre depósitos à vista e a prazo. Isso correspondeu a 3,5% do PIB da época. Se agora multiplicou por mais de 5 vezes, muito bem. Dá a dimensão da crise esperada.

MP suspende contrato de trabalho por 4 meses

Mas o governo Bolsonaro contrariou nesta segunda-feira, 23 de março, o que anunciou semana passada, quando aventou a hipótese de redução de 50% nos salários. O Diário Oficial da União trouxe hoje Medida Provisória que flexibiliza os contratos de trabalho autoriza a suspensão do contrato por 4 meses. Em entrevista ao vivo na internet o presidente disse que os trabalhadores sem carteira seriam assistidos pelo governo, sem entrar em detalhes.

Há mais de 36 milhões de trabalhadores sem carteira assinada. Até no setor público há quase 2 milhões de trabalhadores sem vínculo empregatício.

FED vai garantir empréstimos de cartões e crédito estudantil

Mas o que fez o Banco Central dos EUA? Domingo (22.03) o Federal Reserve anunciou um arsenal ainda mais extraordinário para uma economia que vai ficar em quarentena.

O Fed adotou uma vasta série de programas para compensar as “graves perturbações” na economia causadas pelo surto de coronavírus, apoiando crédito para famílias, pequenas empresas e grandes empregadores.

Os novos programas significam que o Fed garantirá empréstimos estudantis, empréstimos com cartão de crédito e empréstimos garantidos pelo governo norte-americano a pequenas empresas. As famílias terão bônus até US$ 3.000 (no Brasil os desempregados cadastrados terão R$ 200 mensais).

Além disso, comprará títulos de grandes empregadores e fará empréstimos a eles no que equivale a quatro anos de financiamento. Um novo programa que concederá crédito a pequenas e médias empresas também será anunciado “em breve”, afirmou o Fed.

As compras existentes de títulos do tesouro e de papeis lastreados em hipotecas serão expandidas o quanto for necessário “para apoiar o bom funcionamento do mercado e a transmissão efetiva da política monetária para condições financeiras e econômicas”.

Como se vê, apesar do esforço, o Brasil precisa estudar novas medidas na economia.

China e Alemanha se preparam para o pós Covid-19

Primeira a ser atingida e primeira a reduzir a contaminação interna pelo Covid-19 (os casos que hoje ocorrem, segundo a versão oficial, são basicamente importados) a China já está preparando um arsenal de medidas para reativar sua economia (embora vá depender da restauração do poder de compra dos parceiros mundiais).

O país vai cortar impostos em larga escala para estimular investimentos do setor privado e também acelerará o desenvolvimento de “infraestrutura nova” para tentar estimular a economia, afirmaram autoridades do governo chinês, no sábado.

A China deve aprofundar o desenvolvimento do 5G, e pretende construir mais centros de dados e cidades inteligentes como parte do novo esforço de infraestrutura, afirmou Zheng Jian, da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, em entrevista coletiva.

Outra autoridade, Hong Ou, afirmou que 89,1% de projetos de grandes infraestruturas e recursos naturais retomaram suas operações em 20 de março, com exceção da província de Hubei, epicentro do surto de coronavírus no país.

Um total de 1,848 trilhão de iuanes (US$ 260,47 bilhões) em títulos do governo local foram antecipados até agora em 2020, incluindo 1,29 trilhão de iuanes em títulos especiais, usados por governos locais para financiar o desenvolvimento de infraestruturas.

A Alemanha de Angela Merkel, antes de a chanceler iniciar quarentena, por suspeita de estar contaminada por médico que a vacinou e foi testado com o covid-19, anunciou investimentos de 165 bilhões de euros. E aumento de investimentos públicos de 200 bilhões de euros. Multiplique por 5,5 e veja a diferença..