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Socorro de US$ 60 bi do Fed ao Brasil garante linhas de crédito a bancos

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Para evitar a reprise da crise sistêmica de agosto-setembro de 2008, quando a quebra do mercado de hipotecas dos Estados Unidos afetou todo o seu sistema financeiro, levando à liquidação do Lehman Brothers e à paralisação das operações entre bancos no mundo, o Federal Reserve, o banco Central dos EUA, abriu nesta quinta-feira, 19 de março, linhas de crédito de até US$ 450 bilhões para 9 bancos centrais de países emergentes enfrentarem a retração geral causada pelo Covid-19. Para o Brasil o limite é de US$ 60 bilhões.

Este é praticamente o montante registrado em janeiro (último dado divulgado pelo Banco Central brasileiro) dos créditos de curto prazo – menos de 365 dias – a bancos (US$ 55,4 bilhões) e dos créditos a outras instituições (US$ 4,5 bilhões). O problema é que há outros US$ 248 bilhões de empréstimos intercompanhias (de matrizes para filiais no Brasil) que também serão virtualmente encolhidos com a redução dos fluxos de negócios em todo o mundo.

Como em 2008, o Fed está fazendo swaps (vendas de divisas com recompra definida) de dólares. Essa medida, que vinha sendo negociada desde domingo é que levou o BCB a anunciar ontem a recompra (com 10% de desconto) de títulos da dívida externa brasileira em poder do sistema financeiro. Além do Brasil, foram contemplados Austrália, Coreia do Sul, México, Cingapura, Suécia, Dinamarca, Noruega e Nova Zelândia.

Em 2008, dezenas de bancos brasileiros usavam as linhas de crédito internacionais para impulsionar empréstimos externos, incluindo financiamentos de veículos. Esta é uma prática muito difundida entre as montadoras estrangeiras que operam no Brasil, que usam recursos de suas matrizes para fazerem investimentos diretos disfarçados nas filiais, sob a forma de linhas de crédito. Por isso, o BCB lista essas operações como investimentos diretos.

Com a suspensão dos negócios entre bancos do primeiro mundo e os países periféricos, houve forte crise de liquidez que contraiu os negócios. Para resolver problemas imediatos, o Banco Central, então dirigido por Henrique Meirelles, que voltou ao Brasil após participar de reunião no FED em setembro, reduziu compulsórios e autorizou a cessão de créditos de bancos pequenos e médios (que ficaram sem liquidez) a grandes, que usaram os recursos dos compulsórios para tais operações. Na ocasião, como agora, houve redução das obrigações de provisões no sistema bancário.

Nem assim, o Unibanco, que tinha forte posição em linhas de crédito internacionais de curto prazo, conseguiu resolver seu desencaixe de liquidez. Os controladores do Unibanco procuraram o Bradesco para uma fusão, mas o banco da Cidade de Deus queria 100% do controle. Com toda a operação formatada, os dirigentes do Unibanco procuraram o Itaú e o negócio, fechado dia 2 de novembro de 2008, um domingo, foi anunciado oficialmente na segunda-feira, 3 de novembro. Com a fusão, o Bradesco cedeu para o Itaú-Unibanco o posto de maior banco privado do país, que detinha desde os anos 50.

Resta saber se os bancos vão atender o setor real da economia e não apenas resolver, primeiro, seus problemas de liquidez, como sempre.

Itaú e LCA apostam em nova queda da Selic

O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) reduziu ontem a taxa básica de juros (Selic) em meio ponto percentual para 3,75% a.a., sinalizando que o plano de voo inicial é o de não fazer ajustes adicionais.

Mas tanto Bradesco como Itaú e a LCA Consultores põem em dúvida, dado o tamanho das incertezas, se a Selic continuará assim até o fim do ano. O Departamento Econômico do Bradesco ressalta que “o choque imposto pelo Covid-19 no Brasil não foi tão enfatizado para explicar a decisão de ontem, ao contrário do que tem ocorrido na comunicação de outros bancos centrais”. Isso pode ser melhor definido na divulgação da Ata do Copom, na próxima terça-feira.

Para o Depec Bradesco “a despeito dessa intenção sinalizada pelo Comitê, as circunstâncias excepcionais vivenciadas deverão levar a uma reavaliação do plano de voo, caso o choque do Covid-19 não se dissipe rapidamente”.

O Itaú foi mais explícito e considera que na próxima reunião do Copom (5 e 6 de maio) a taxa sofra nova queda e termine o ano em 3,25% (baixa de 0,50 pontos percentuais em relação ao novo nível. “Acreditamos que a taxa Selic encerrará o ano em 3,25%, com cortes adicionais, uma vez que a maior parte do estresse nos mercados financeiros derivado da pandemia de coronavírus tenha se dissipado, não necessariamente até a próxima reunião de política monetária” (em maio).

A consultoria LCA também considerou cauteloso o corte de apenas 0,50% ontem.

Nova rodada de estímulos monetários.

Vários bancos centrais anunciaram entre ontem e hoje estímulos para minimizarem os impactos do Covid-19 sobre as suas economias. O Banco Central da Europa lançou um programa de compra de títulos públicos e privados, no montante de €750 bilhões, que se estenderá até o final do ano. Ao mesmo tempo, a instituição apontou que está disposta a aumentar o volume de compras, caso seja necessário.

O banco central da Austrália anunciou novo corte de taxa, para 0,25% ao ano, sinalizando que deve manter a taxa nesse patamar até observar progressos da economia em direção ao pleno emprego e à inflação na meta de 2% a 3%. A autoridade monetária da Suíça não fez alterações de juros, atualmente negativos em 0,75% ao ano, mas intensificará as suas intervenções no mercado cambial, para reduzir a atratividade do franco suíço. Os bancos centrais da Indonésia, de Taiwan e das Filipinas também promoveram reduções de juros.

PIB do Japão despenca 7,1% no 4º trimestre

Antes mesmo dos grandes impactos do coronavírus, cujos casos mais graves vieram a público a partir de janeiro deste ano, o Japão, 3ª maior economia mundial teve encolhimento de 7,1% no seu PIB em comparação anual nos três meses até dezembro, mostraram dados revisados no início deste mês, mais do que a queda indicada pela leitura preliminar, de 6,3%.

“A situação é muito mais séria do que eu esperava no início do ano”, disse Makoto Takashima, presidente da Associação Japonesa de Banqueiros e também da Sumitomo Mitsui Banking Corporation (SMBC).

“Se especialmente o turismo e a demanda domésticos continuarem em queda e afetarem o emprego, a economia japonesa poderá despencar”.