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A visão do Itaú, dos maiores bancos locais, sobre a Argentina

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Um dos maiores bancos da Argentina, com mais de 99 agências e 140 caixas eletrônicos em todo o país, e mais de 400.000 clientes, o Banco Itaú fez uma análise detalhada da vitória do candidato da Frente de Todos, Alberto Fernández para presidente da Argentina, tendo a ex-presidente Cristina Kirchner como vice. Pragmático, o Itaú dança no ritmo do tango e não resmunga como o presidente Jair Bolsonaro.

“O bilhete peronista Fernández-Kirchner (Frente de Todos) obteve 48,0% dos votos nas eleições gerais, seguido pelo bilhete Macri-Pichetto (Juntos por el Cambio) com 40,4%. Como Fernández obteve mais de 45% dos votos, não haverá segundo turno. Estimamos que o partido peronista (em coalizão com a esquerda kirchnerismo) terá a maioria no Senado e será a primeira minoria na Câmara baixa. Axel Kicillof, ex-ministro da economia Cristina Kirchner, foi eleito governador da Província de Buenos Aires com 52% dos votos”. Já a capital, Buenos Aires, será comandada por aliado de Macri.

Em um discurso de vitória curto e moderado, Alberto Fernandez disse que há tempos difíceis pela frente. O presidente eleito acrescentou que colaborará com o presidente na transição.

Desafios de Fernández

Fernández e Macri tiveram nesta manhã a primeira reunião para definir quem formará dos dois lados, as equipes de transição para passar informações relevantes sobre o estado da economia até a transmissão do cargo em 10 de dezembro (cerca de 50 dias). Anteriormente, Cristina Kirchner pediu a Macri que tomasse todas as medidas necessárias até 10 de dezembro (data de inauguração) para aliviar a crise econômica.

Para o Itaú, Fernández terá a tarefa imediata de reestruturar a dívida federal, parar uma corrida no peso, consolidar ainda mais as contas fiscais e reduzir a inflação. O banco central anunciou um novo aperto dos controles de capital reduzindo para US$ 200 de US$ 10.000 o montante máximo que pode ser comprado por indivíduos para fins de poupança. Não há restrições ao uso de cartões de crédito. A Argentina não tem acesso aos mercados, um baixo nível de reservas internacionais e uma negociação pendente com o FMI.

Equipe de transição

Fernández confirmou uma equipe de economistas heterodoxos para trabalhar durante a transição. A equipe é formada por Matias Kulfas (ex-gerente do Banco Central), Cecilia Todesca (ex-assessora-chefe do governador do banco central), Miguel Pesce (ex-governador do Banco Central) e Guillermo Nielsen (ex-secretário de Finanças.

Fuga de divisas

Segundo o jornal argentino “Âmbito Financiero”, houve uma fuga em massa de divisas na semana passada. O jornal estima ter havido uma perda de US$ 2,2 bilhões em uma semana com a dolarização e o saque progressivo de depósitos. Só na sexta-feira, 25 de outubro, o Banco Central perdeu US$1,755 bilhão. A corrida de saques de depósitos em dólares foi de takl ordem que em algumas agências faltaram notas e o Banco Central da República Argentina teve de sair em auxilio dos bancos fornecendo cerca de US$ 800 milhões físicos. Diante da falta de dólar papel, alguns investidores optaram por comprar pesos uruguaios ou reais. Qualquer coisa valia, menos ficar com pesos nas contas no fim de semana.

E a intuição salvou os poupadores. Diante da evidência de escassez de dólares, houve a decisão de reduzir o limite de compras da moeda americana drasticamente de US$ 10 mil para US$ 200., sob pena de o Banco Central ficar com reservas insuficientes para cumprir com as obrigações do serviço da dívida e, ao mesmo tempo intervir no mercado para conter os preços da moeda

A situação Argentina é dramática. Segundo o Âmbito, as reservas totais caíram a US$ 43,503 bilhões, mas os recursos disponíveis seriam somente de US$ 6,500 bilhões. Analistas observaram que “desde que começaram a usar os dólares que o FMI havia liberado, para reforçar as reservas, já não tem sentido falar em reservas de livre disponibilidade”.

Juros no pé

O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) se reúne amanhã e quarta-feira para mais uma rodada de queda de juros básicos no país. A decisão sobre a taxa Selic deve sair às 18 horas, três horas depois de o Federal Reserve Bank decidir sobre os juros nos Estados Unidos. Bradesco aposta que o Fed vai baixar o piso dos juros para a faixa de 1,50% a 1,75% ao ano.

O movimento torna mais confortável a baixa dos juros no Brasil. Todos apostam que a Selic cairá agora para 5% ao ano e terá nova queda de 0,50 ponto percentual em dezembro, fechando o ano em 4,50% ao ano. Esta é a taxa que a média do mercado e o Bradesco projetam para o fim de 2020.

Mas o Itaú está indo além e prevê que a Selic vai fechar 2020 em 4%. Resta saber se espera uma definitiva queda de 0,50% na reunião de 4 e 5 de fevereiro ou duas quedas de 0,25 p.p. em fevereiro e 17 e 18 de março de 2020.