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Deflação mostra que BC foi lento na baixa dos juros

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Com a deflação de 0,04 em setembro, puxada pela baixa de 0,43% no grupo Alimentação e Bebidas (o de maior peso no índice), a inflação medida em 12 meses pelo Índice Nacional dos Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), com o qual o IBGE mede a cesta de consumo das famílias com renda até 40 salários mínimos, caiu abaixo de 3%, despencando dos 3,43% registrados em agosto para 2,89% em setembro. Esta é a menor taxa para o mês em 21 anos e a menor taxa acumulada em 12 meses desde maio de 2018 (2,86%), quando a greve dos caminhoneiros provocou uma explosão de preços.

Como a taxa do IPCA subiu 0,45% em outubro de 2018 e o mercado está esperando taxa bem menor para este mês (abaixo de 0,20%), a taxa do IPCA em 12 meses continuará caindo e se mantendo abaixo de 3%. Muito aquém do centro da meta de inflação perseguida pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central, que é de 4,25% para 2019, 4% para 2020 e 3,75% para 2021.

Ou seja, mesmo com a alta do dólar recente não há riscos para a inflação desgarrar (porque os preços das commodities está caindo em dólar). Mesmo com repique na taxa de 12 meses em novembro (que teve deflação de 0,21% no ano passado), o mercado não cré que o IPCA feche o ano acima de 3,5%. Para 2020 as previsões são também abaixo da meta.

Em outras palavras, os modelos de previsão de inflação do Banco Central (mesmo levando em conta o horizonte mais longo, de 9 a 12 meses à frente) não estão captando a tempo e hora as mudanças nas conjunturas mundial e interna, ou o Copom está sendo muito lento e conservador em baixar os juros.

Tudo pronto para queda mais intensa dos juros

Como nesta tarde de quarta-feira o presidente do Federal Reserve, James Powell, fará um discurso sobre o estado da economia, pouco antes da divulgação da ata da última reunião do Federal Open Market Committee (FOMC), o modelo inspirador do Copom, com sinais mais claros sobre o ritmo da queda dos juros nos Estados Unidos, vai ficar claro que o Copom terá o garfo e a faca nas mãos para baixar os juros até dezembro.

Principalmente com o acordo em torno da redistribuição dos royalties dos campos de petróleo da cessão onerosa que vão ser leiloados em novembro, amarrando a conclusão da reforma da Previdência

Juros abaixo de 4,75% em 2020^?

No dia 30, FOMC e Copom decidem novo round de queda de juros. O Bradesco aposta em sinais mais claros do FOMC para baixar os juros com mais três cortes de 0,25% levando a taxa para o intervalo de 1,25% - 1,00% ao ano. O banco da Cidade de Deus acredita que a taxa caia mais 0,50 pp este mês e mais 0,25 pp em dezembro (como é consenso do mercado), fechando o ano em 4,75%.

Com relação a 2020 há divergências: o Bradesco e as TOP 5 (as cinco instituições que mais acertam as previsões do BC) crêem que a taxa segue em 4,75% até dezembro; a maior parte do mercado é mais conservadora e aposta em 5%, como o Itaú.

Mas há quem espere baixa até 4,5%, a depender do efeito do desaquecimento da economia mundial sobre o PIB e o nível de emprego no Brasil.

E a Febraban discute juros

Em meio a esse cenário de descolamento da política monetária da realidade, é interessante a cara de pau da Federação Brasileira dos Bancos, a Febraban, de promover seminário, dia 4 de novembro, com jornalistas dos jornais Valor Econômico e O Globo, com o título “Precisamos Falar sobre Juros”.

Nos últimos dois anos a Febraban, presidida por Murilo Portugal, lançou livros para tentar justificar o inaceitável: o aumento dos juros bancários na contramão da queda da Selic.

A taxa básica de juros (que serve de piso à captação bancária) despencou de 14,25% ao ano em outubro de 2016 para os atuais 5,50% (uma queda matemática de 61,4%. Enquanto isso, a média dos juros bancários nos recursos livres declinou menos de 35%.

Mas a Febraban (inversamente à prática diária de cobrança pelos bancos de juros diários escorchantes e capitalizados), faz uma conta contorcionista e diz que os juros caíram mais (em pontos percentuais) que a baixa de 8,75 pp da Selic.

Chamem o VAR!