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Mau negócio: Caixa vende Petrobras e compra ações do Banco PAN

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Não fosse a receita de R$ 2,279 bilhões auferida em julho com a venda de parte da carteira de ações da Petrobras, a Caixa Econômica Federal iria apresentar um lucro bem menor que os R$ 4,212 bilhões exibidos no 2º trimestre. Parte do dinheiro serviu para cobrir as despesas extraordinárias de R$ 683 milhões com o Plano de Demissão Voluntária (mais de 2.500 funcionários aderiram) e as baixa de R$ 599 milhões nas carteiras de títulos imobiliários.

A própria CEF, retirando os efeitos extraordinários, emagreceu para R$ 3,704 bilhões o lucro recorrente. A diferença é enorme: com as ações da Petrobras o lucro cresce 22% sobre o 1º semestre de 2018; sem as ações da Petrobras o aumento é de apenas 3%, abaixo da inflação no período.

Caixa troca Petrobras por Banco Pan

Vale dizer que enquanto se desfez das ações da Petrobras, a Caixa ampliou a sua participação no capital do Banco PanAmericano. Uma fatia tinha sido comprada em 2010 pela CEF, por imposição do governo Lula, para salvar o grupo Silvio Santos, às vésperas da eleição de Dilma, que ganhou claro apoio do SBT, inclusive com uma fake news sobre a agressão ao candidato José Serra (PSDB) com uma bolinha de papel.

O BTG Pactual tinha até março 50,6% das ações do Pan e a CEF, 32,8%, com 16,6% das ações em poder do público. Num acordo entre os dois bancos, a CEF comprou em fins de março, num exercício de opções de R$ 245 milhões, 8,9% da posição do BTG Pactual, passando a deter os mesmos 41,7% do BTG-Pactual, com 16,6% permanecendo com o público.

A Caixa assinala que com o aumento da posição e a valorização das ações do Pan, a posição da CEF no Pan valorizou 481%. Francamente, você leitor, trocaria sua carteira da Petrobras por ações do Banco Pan?

Inadimplência segue recorde na CEF

Embora tenha ressaltado que as investigações internas sobre as operações as operações “A Origem”, “Cuibono”, Sepsis” e “Patmos” deflagradas pela Policia Federal e pelo Ministério Público Federal no âmbito da Operação Lava-Jato, que apontavam responsabilidades da CEF e de ex-dirigentes, com ressalvas dos auditores independentes (no caso, a PwC) desde 2016, a CEF ainda não explicou quais foram as irregularidades nem os culpados.

Mas o flagelo da inadimplência causadas por várias operações irregulares continua a fustigar os balanços da Caixa. No relatório da Administração, a CEF diz que sua carteira de crédito “permaneceu com níveis baixos de inadimplência, que totalizou 2,46% no 1S19, e manteve 90,0% de suas operações classificados com ratings de AA-C”, comparado com a média de 2,93% do Sistema Financeiro Nacional.

Mas isso é uma falácia. É que a carteira de crédito imobiliário corresponde a 66,3% da carteira de crédito. E tem inadimplência de apenas 1,70% (porém alto para o segmento).

Nas operações de saneamento e infraestrutura, que correspondem a 12,2% da carteira de crédito total, a inadimplência chegou a 2,01.

Nas operações de crédito comercial (que representam mais de 70% das operações dos bancos privados e apenas 18,0% do total da CEF) a inadimplência, mesmo com queda de 0,29 ponto percentual em 12 meses para as pessoas jurídicas (empresas) manteve recorde de 5,37%. Nas pessoas físicas a inadimplência ficou em 4,96%, redução de apenas 0,09 p.p. em 12 meses. Só 83,7% desta carteira comercial possuem 83,7% do seu saldo classificado nos ratings entre AA-C.

Carteira rural colhe pepinos

Mais fora de curva é a carteira de crédito rural da CEF, que atingiu 2,51% em junho de 2019, redução de 0,06 p.p. em 12 meses e 0,19 p.p. no trimestre. Uma das causas da alta inadimplência foi o empréstimo atípico à Atvos, o ramo de agronegócios voltado à produção de álcool do grupo Odebrecht, em recuperação judicial.

Renegociação de dívidas deu certo

Num balanço da campanha de renegociação de dívidas com atraso acima de 360 dias, com desconto de até 90%, lançada em 28 de maio e que englobou 3,0 milhões de clientes, sendo 2,7 milhões de PF e 300,0 mil PJ, a CEF informa ter dado 80% de desconto médio na quitação de débitos à vista.

Mais de 11 mil empresas renegociaram 16,5 mil contratos, que garantiram a recuperação de R$ 86,3 milhões recuperados.

Já entre as pessoas físicas, quase 100 mil clientes renegociaram 131,2 mil contratos, que totalizaram R$ 120,0 milhões. Na soma dos dois segmentos, a Caixa recuperou R$ 206,3 milhões.

Na carteira imobiliária, o programa Última Chance alcançou mais de 600,0 mil famílias, devolvendo-os o poder de compra. Um total de 90,0 mil contratos foram renegociados, no valor de R$ 8,1 bilhões.

A Caixa também ampliou o público, abrangendo o cliente com financiamento habitacional que recebeu intimação do Cartório de Registro de Imóveis e não regularizou o atraso, criando uma nova oportunidade para fazer o pagamento e garantir sua moradia. Com isso foram renegociados 3,3 mil contratos, totalizando o montante de R$ 393,9 milhões.

Créditos de R$ 29,1 bi no FCVS.

A PricewaterhouseCoopers chama a atenção no relatório da auditoria para a “existência de créditos da CEF junto ao Fundo de Compensação de Variações Salariais – FCVS no montante líquido de R$ 29.168 milhões”.

“Os financiamentos habitacionais encerrados com cobertura do FCVS, ainda não homologados, montam R$ 13.693 milhões e a sua efetiva realização depende da aderência a um conjunto de normas e procedimentos definidos em regulamentação emitida pelo FCVS.

A CAIXA possui metodologia para cálculo da provisão dos contratos a serem ressarcidos pelo FCVS para estimar o risco vinculado ao recebimento de tais ativos, para as quais constituiu provisão no valor de R$ 4.444 milhões.

Securitização, a saída

A PwC informa ainda que “a realização dos créditos relacionados a financiamentos habitacionais já homologados pelo FCVS, no montante de R$ 19.919 milhões, em 30 de junho de 2019, segue um processo de securitização (emissão de títulos por parte da União), conforme previsto na Lei 10.150 de 2000”.

Efeito Argentina

Enquanto as turbulências no mercado cambial argentina não arrefecerem, o mercado de dólar brasileiro vai continuar sob altos e baixos, exigindo atuação firma do Banco Central nas diversas formas de intervenção: à vista, venda futura com swap e leilão de linha.

Com as restrições à compra de dólar na Argentina (comprar e ter dólares em casa ou nos bancos é tradição das empresas e cidadãos do país vizinho), o mercado acalmou um pouco. O efeito manada foi regulado a conta-gotas.

Mas todo cuidado será pouco até as eleições de outubro. Atuar nesse mercado de câmbio (que opera com spreads largos entre a compra e a venda) pode trazer risco redobrado. Quem comprou quinta-feira passada contabiliza perdas fortes nesta terça-feira, 3 de setembro.