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Petrobras lucrou R$ 5,1 bi ou R$ 18,8 bi?

Venda de patrimônio não pode ser fonte de lucro

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Quando era Ministro da Fazenda, Mário Henrique Simonsen, o mais brilhante economista brasileiro, costumava dizer que a gestão dos negócios públicos no Brasil era tão irresponsável quanto a decisão do chefe da família de vender o único apartamento para desfrutar uma temporada de férias na Europa.

Na quinta-feira, 1º de agosto, a Petrobras anunciou os resultados do 2º trimestre. De acordo com o fato relevante divulgado aos acionistas e ao mercado (conforme determina a Comissão de Valores Mobiliários) a estatal informa que seu lucro líquido recorrente (nas mesmas bases de exercícios anteriores, sem fatos extraordinários, como venda ou baixa com prejuízo [impairment] de ativos) foi de R$ 5,157 bilhões. Isso já representaria aumento de 10,6% sobre o lucro líquido contábil de R$ 4,661 bilhões do 1º trimestre.

Mas, no Brasil, gosta-se muito de dourar a pílula. No release divulgado ontem às 20 horas, a assessoria de imprensa da Petrobras destaca o lucro líquido trimestral recorde de R$ 18,866 bilhões (arredondado para R$ 18,9 bilhões), decorrente da incorporação das receitas de vendas de ativos. Isso representa aumento recorde e extraordinário de 368% sobre o 1º trimestre, de 87% sobre o 2º trimestre de 2018. E ainda o lucro semestral de R$ 22,897 bilhões, 34,4% superior ao do mesmo período do ano passado.

Por que dourar a pílula?

No próprio comunicado aos acionistas o presidente Roberto Castello Branco faz a ressalva do efeito extraordinário da venda de ativos, como a fatia de R$ 9,6 bilhões da BR Distribuidora, os R$ 33,5 bilhões da venda da TAG, de R$ 1,8 bilhão da refinaria de Pasadena (EUA) e de mais R$ 5,7 bilhões de campos maduros na Bacia de Campos.

Sem estes efeitos extraordinários (ou seja, sem a venda dos ‘apartamentos’) os resultados da Petrobras seriam bem mais magros. A variação do lucro semestral cai de 368% para 10,6% (resultado muito bom, considerando as paradas técnicas que levaram à queda de produção de petróleo na área do pré-sal, que, com a venda de campos maduros da Bacia de Campos, já representa 60% da produção total no país). Na comparação com o 1º trimestre de 2018 há queda de 53% (e não aumento de 87%) e o semestre registra queda de 39% frente ao avanço de 34,4% quando se incorporam as vendas de ativos.

Custos X retorno

Para analistas, a questão básica é saber se a estratégia do presidente da Petrobras, de se desfazer de ativos menos rentáveis para se concentrar nos investimentos no pré-sal (de custos baixos e maiores retornos), está mesmo dando certo.

Dizer que a Petrobras teve lucro com os R$ 1,8 bilhão arrecadado com a venda de Pasadena é um absurdo, Pois se sabe que a usina, comprada no governo Lula, com aval da ex-presidente Dilma, que então presidia o Conselho de Administração da estatal custou quase isso (mas em dólar!). Ou seja, há um enorme prejuízo.

Espera-se que na apresentação aos analistas e à imprensa a diretoria da Petrobras mostre citando, por exemplo, exemplos práticos da opção de se desfazer dos campos maduros da Bacia de Campos, para investir no pré-sal das Bacias de Campos e de Santos.

Num power point está assinalado que a estatal pretende aumentar dos atuais 55% para 88% em 2010 a participação dos investimentos em Exploração e Produção em águas profundas e ultra profundas, incluindo o pré-sal. A produção em águas rasas vai receber apenas 2% dos recursos e as atividades em terra, 10%.

Cabe esclarecer, ainda os ganhos de se desfazer da BR e da TAG. Vale explicar também os custos financeiros ganhos com abatimento de dívidas. No balanço está registrada baixa contábil de R$ 1,936 bilhão.

Alguns exemplos

No balanço apresentado ontem a Petrobras cita também alguns exemplos de perdas com investimentos mal feitos no passado, alguns envolvendo corrupção ou “malfeitos”, como tentava minimizar a ex-presidente Dilma.

No Comperj, a Petrobras deu nova baixa de R$ 914 milhões, tendo em vista a falta de perspectivas de geração de caixa e acertos de multas ambientais. O Comperj, que seria um complexo de matérias primas petroquímicas, para operar a partir de 2012, foi abatido pela crise financeira mundial de 2008 (que eliminou o sonho do barril estar nos dias de hoje entre US$ 200 e US$ 400, como consta nos Planos de Negócios e Gestão de 2007 e 2008 e estava em US$ 68,82 no trimestre passado). Até agora, o Comperj, redimensionado para ser uma unidade de transformação de gás e uma refinaria que produziria 330 mim barris dia de derivados de petróleo (que não tem prazo), gerou perdas de mais de US$ 10 bilhões à Petrobras.

Outro caso citado no balanço é o da venda do navio-sonda Vitória 10.000, que vai atuar agora no pré-sal da Bacia de Campos. Alvo de suborno em sua contratação para o grupo Schain perdoar dívida do PT de R$ 12 milhões junto ao Banco Schain (já liquidado pelo Banco Central). Está gerando baixa contábil de R$ 683 milhões.

Por sinal, a Operação Lava-Jato devolveu mais R$ 309 milhões à Petrobras no 2º trimestre, somando até agora R$ 3,277 bilhões o total devolvido à estatal em operações de suborno e superfaturamento reconhecidos em acordos de leniência com a cadeia de fornecedores.

Seccionando o que será vendido

Um dado interessante no balanço da Petrobras é que a companhia está apresentando balanços separados de unidades que pretende se desfazer.

Entre as subsidiárias destacadas estão a Petrobras Biocombustível, que teve perda R$ 18 milhões no 2º trimestre, a BR Distribuidora (lucro de R$ 37 milhões), a Gaspetro, a Petrobras Logística de Exploração e Produção, a Transpetro, a Transportadora Associada de Gás (da qual ainda tem uma fatia mínima) e a Petrobras Logística de Gás (Logigás).