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CEF promete abrir a caixa-preta do FI-FGTS

Fundo deu R$ 3 bilhões a empresas da Lava-Jato

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A diretoria da Caixa Econômica Federal, com o presidente Pedro Guimarães à frente, convocou a imprensa para uma entrevista na tarde desta quarta-feira, em Brasília, quando pretende apresentar a redução de juros em diversas linhas de crédito para as pessoas físicas e empresas. Já não era sem tempo.

Mas o fato mais aguardado são os resultados da reunião do Comitê Diretor do FI-FGTS, o Fundo de Investimentos do FGTS. Na sexta-feira passada, ao comentar a novas modalidades de saques do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, o ministro da Economia, Paulo Guedes, mencionou, em passant, o mau uso que antigos gestores da Caixa, em conluio com “criaturas do pântano”, fizeram dos recursos do FGTS, que foram direcionados para infraestrutura, no 1º governo Dilma.

No último relatório trimestral da Caixa, foi assinalado que nada menos de R$ 3 bilhões de empréstimos oriundos dos fundos do FGTS estavam comprometidos com empréstimos e investimentos em empresas que foram apanhadas em diversas etapas da operação Lava-Jato.

Entre eles, estão o grupo J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, que tomaram recursos para operações da JBS e da Eldorado Celulose e foram alvo da operação Greenfrield.

Espera-se que a divulgação das operações do FI-FGTS (que foi o maior investidor, com quase R$ 10 bilhões nas obras do Porto Maravilha - compra de Cepacs) funcione como uma espécie de abertura da caixa-preta da Caixa. Até agora, o presidente Jair Bolsonaro não está satisfeito com o grau de abertura da caixa-preta do BNDES.

Uma das operações mais estranhas, entre as várias do FI-FGTS foi a compra de 30% das ações da Odebrecht Transport, do qual a BNDESPar, subsidiária de investimento do BNDES, ficou com 10,61% do capital. O grupo Odebrecht aplicou apenas 59,39% do capital da empresa, que foi criada para investir em mobilidade urbana (trens da Supervia, metrô e VLTs do Rio e Goiás), além de portos, aeroportos e concessões de rodovias.

Na crise do grupo Odebrecht, que pediu recuperação judicial há um mês, vários negócios da OTP foram passados adiante, como a participação no Aeroporto Tom Jobim e outros terminais.

A CEF refinancia e baixa os juros

A Caixa Econômica Federal saiu na frente da cruzada para renegociar dívidas de seus quase 3 milhões de clientes endividados. Por decisão do presidente Pedro Duarte Guimarães, desde maio a CEF está oferecendo redução de até 90% nos juros dos financiamentos e dilatando os prazos para o valor das prestações caber no orçamento dos clientes.

Nesta quarta-feira, 31, a Caixa anuncia nova frente de batalha para baixar os juros do concentrado Sistema Financeiro Nacional, tanto nas operações com pessoas físicas como jurídicas.

Em imóveis, juros da CEF são altos

É bom mesmo. Apesar de ter o virtual monopólio da gestão do FGTS e de amealhar a maior fatia da captação em cadernetas de poupança, a Caixa não opera com as menores taxas do mercado imobiliário.

Entre o cartel dos cinco grandes bancos do país que controlam mais de 80% do crédito (situação que se agrava no crédito imobiliário), estava em 4º lugar no ranking.

Seus juros mensais de 0,81% ao mês ou de 10,15% ao ano, além da variação da TR, eram o 4º do ranking, só eram mais baixos que os do Banco do Brasil ( 0,84% ao mês ou 10,60% ao ano + TR), segundo levantamento feito pelo Banco Central em junho último, no segmento com taxas livres.

A menor taxa era do Itaú (0,68% ao mês ou 66,92% ao ano + TR). O Bradesco cobrava 0,72% ao mais ou 8,96% ao ano + TR. O espanhol Santander vinha em 3º lugar, com juros mensais de 0,74% e anuais de 9,27% + TR.

Estatais têm juro menor no crédito pessoal

No mais recente levantamento do BC ( entre 10 e 16 de julho) sobre os juros do crédito pessoal não consignado - é a modalidade que os bancos sugerem para quem estourou os limites do pagamento mínimo de 15% do saldo devedor do cartão de crédito – os bancos estatais estão cobrando taxas menos salgadas.

O menor juro é do Banco do Brasil (3,99% ao mês e 59,94% ao ano. A CEF vem em seguida, com juros de 4,36% ao mês (66,92% ao ano). É possível que o fato de a clientela do BB e da CEF ser composta de muitos funcionários públicos ofereça maior garantia no crédito.

O Itau, que é dono da maior fatia do mercado de cartões de crédito, cobrava juros de 4,43% ª,. e 68,14% a.a. O Santander vinha a seguir, com taxas de 4,51% a.m. e 69,79% a.a., respectivamente. O Bradesco cobrava 5,27% a.m. e 85,19% ao ano.

Como se vê, os bancos estatais ainda não tomaram a dianteira da baixa dos juros em todas as operações. Espera-se que a CEF faça isso hoje.

PIB de 2019 não anima o Itaú

Ao analisar a economia para 2019, o Itaú não se mostrou nada otimista.

Depois de cair 0,2% no 1º trimestre, o banco estima que a economia tenha crescido 0,4% no 2º trimestre (o IBGE divulga os números dia 29 de agosto), fique no zero a zero no 3º trimestre (julho a setembro) e suba 0,7% no 4º e último trimestre. No ano, o PIB subiria 0,8%

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(Foto: Fonte: Banco Itaú)
Tomando o ano de 2012 como ponto base, a queda acentuada na produção industrial brasileira fez disparar a linha do desemprego. Como se vê no gráfico do Itaú, a linha da produção industrial vem caindo desde a metade de 2014. Mesmo com uma aposta de recuperação neste segundo semestre estaria em 92 pontos, ou seja acumularia queda de mais de 8% frente a 2012.

e o baixo dinamismo da produção industrial (e do setor de serviços, que responde por 70% do PIB e do emprego), não muda a direção da linha do desemprego.

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(Foto: Fonte: Banco Itaú)

A concentração do crédito no Itaú

Os relatórios detalhados do desempenho do Banco Itaú-Unibanco no 2º trimestre, quando lucrou R$ 7,034 bilhões na forma gerencial e R$ 6,815 bilhões em termos contábeis, mostram que o maior banco do país exibe a maior concentração dos créditos entre todas as instituições financeiras.

Segundo as projeções do IBGE, o Brasil fechou o 1º semestre com uma população de 210 milhões de habitantes. Só a região Sudeste acolhia 42% da população. Os nove estados do Nordeste tinham 24,4% da população (51,2 milhões de habitantes). E os três estados do Sul, com 29,8 milhões de habitantes, abrigavam 14,2% dos brasileiros.

Mas a distribuição das agências e postos de atendimentos do Itaú no Brasil comprova que a concentração de renda estimula a concentração de renda onde circula o dinheiro do país. O que tende a dificultar a descentralização da riqueza no país.

O Sudeste concentrava 67,7% (2.844) das 4.199 agências e postos de atendimento do país; o 2º lugar não era do Nordeste, mas do Sul, com 15% das agências. Embora tenha 24,4% da população, o Nordeste só contava com 7,5% da rede de atendimento do maior banco privado brasileiro.

O resultado acaba traduzido na concentração dos empréstimos.

Nada menos que 71,8% das operações do Itaú foram realizadas para empresas e pessoas físicas radicadas no Sudeste.

O Sul recebeu mais créditos que o Nordeste (R$ 48,4 bilhões, contra R$ 44,1 bilhões).

O Agro não é tudo

Outra distorção revelada pelo Itaú diz respeito à abertura da sua carteira de agronegócios. Está longe de ser a maior do país. O Banco do Brasil lidera o ranking e o Bradesco vem a seguir. O Itaú disputa a 3ª posição com o Caixa Econômica Federal e o Banco do Nordeste.

Dos R$ 11 bilhões aplicados pelo Itaú na agropecuária, as diversas atividades dos produtores rurais receberam 45,7% dos créditos.

Mas boa parte da carteira era para os produtores e distribuidores de agrotóxicos e fertilizantes (alguns dos principais insumos da agricultura), que receberam 27,2% dos créditos. Em seguida vêm os créditos a produtores de alimentos e bebidas (amplo leque que abriga frigoríficos, abatedouros, fábricas de laticínios, produtores de sucos de frutas e concentrados de refrigerantes, incluindo multinacionais, produtores de suco de tomate, vinhos, entre outras), com 15,7%.

A indústria do açúcar e álcool levou 4,2% dos créditos.

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