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Juros vão cair; para quem, cara pálida?

BC não tem mais desculpa para não forçar baixa de juros bancários

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O Bradesco, que até então apostava que a taxa básica de juros, a taxa Selic, cairia dos atuais 6,50% ao ano para 5,75% este ano e iria voltar aos 6,50% em 2020, mudou de opinião na sexta-feira, 5 de julho, e cravou 5,50% este ano e em 2020. O Itaú já tinha apostado, em meados de junho que a taxa desceria para 5% este ano e ficaria estável até o fim de 2020.

Na pesquisa Focus, que o Banco Central colhe às sextas-feiras junto a 100 bancos, consultorias e institutos de pesquisa e divulga nas segundas-feiras, a previsão tinha caído para 5,50% em 2019 e subiria para 6,00% em 2020. Parece pouco, mas há 4 semanas o mercado esperava a manutenção da Selic em 6,0% este ano e alta para 7% em 2020.

O Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne dias 30 e 31 deste mês. Pelo andar da carruagem, com a quase certa aprovação de uma reforma da Previdência com forte potência fiscal, é quase certo (considerando que o BC dos Estados Unidos, o Fed, deve baixar os juros em 0,25 ponto percentual três horas antes da decisão do Copom, dia 31), que haverá queda dos juros aqui também.

O mercado aposta em 0,25%. Pois eu considero que io(iseasi

O que mudou em um mês? Muita coisa.

1 - Para começar, a economia segue de marcha lenta a marcha ré. Na mesma revisão do nível da Selic, o Bradesco, que tinha reduzido há um mês a expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano para 0,8%, já admite que pode cair abaixo disso. Detalhe: há oito meses, entre novembro e dezembro, o Bradesco esperava até 2,50% para o PIB deste ano. As previsões para 2020, que chegaram até 3%, recuaram para 2,20%.

2 – A inflação, que chegou a assustar em abril (quando a taxa anual atingiu 4,94%) está em queda livre. Este mês, bancos e consultorias apostam em deflação (entre -0,02% e -0,05%). Como em julho de 2018, no auge da greve dos caminhoneiros, a taxa chegou a 1,26%, o IPCA anual deve despencar dos atuais 4,66% para abaixo de 3%. As projeções para 2019 e para os próximos 12 meses estão abaixo da meta de inflação, de 4,25% para 2019 e 4% para 2020.

3 – O mercado de trabalho segue reagindo lentamente, ao ritmo da fraca pulsação da economia, entre a estagnação e a recessão (há dúvidas se depois da queda de 0,2% no PIB do 1º trimestre, o 2º trimestre vai terminar com saldo positivo na metade do ano que já se foi). Há 13 milhões de desempregados na fila do emprego durante mais de dois anos e o total da mão-de-obra subaproveitada chega a 25 milhões de pessoas.

4 – Todas as economias importantes estão desacelerando, como reflexo da guerra comercial que travou os mercados de China e dos Estados Unidos e se refletiu na demanda de matérias primas. No caso brasileiro, que tem pauta de exportação baseada em produtos primários, houve ainda impacto na gripe suína africana na China, que vai contrair a importação de soja para preparado de óleo comestível e farelo para rações animais. No caso dos manufaturados, a crise da Argentina travou as exportações de automóveis, ônibus. Caminhões e tratores.

5 – Para evitar maior desaceleração e ameaça sobre o emprego, os bancos centrais de todo o mundo estão afrouxando os controles monetários e baixando os juros. O que abre espaços adicionais para o Banco Central do Brasil fazer o mesmo.

6 – Apreciação cambial. O real tem sido das poucas moedas que apresentam apreciação diante do dólar este ano, o que dificulta as exportações. A atração exercida pelas altas taxas de juros reais no Brasil (descontada a inflação) estimula mais ingresso de moedas e valoriza o real. Uma comparação com a Argentina, onde o dólar subiu 48,9% nos últimos 12 meses, contra valorização de 3% do real frente ao dólar explica, adicionalmente, a queda das exportações para a Argentina. Baixar juros e depreciar o real é fundamental para estimular as exportações.

7 – Se tudo isso não bastasse, a alegação do Comitê de Política Monetária de que havia risco fiscal, diante das incertezas sobre a aprovação de uma reforma da Previdência com potência fiscal, o cenário vai confirmando as chances da aprovação, apoiada pela maioria da população.

8 – O tal do Cadastro Positivo, outra exigência dos bancos para terem mais liberdade de executar os devedores e, supostamente, aliviar os juros para os bons pagadores, que não estão com a ficha suja no Serviço de Proteção ao Crédito ou na Serasa, foi recém aprovado.

 

Baixar Selic é fácil; quero ver forçar o cartel de bancos a baixar juros

Baixar a Selic quando a inflação despenca é fácil. No governo Temer, quando a supersafra de 2016/17 derrubou os preços agrícolas, a Selic despencou dos 14,25% ao ano para 6,50% (redução de 54%), mas os juros bancários caíram apenas 27%. Ou seja, ficaram pela metade. Isso mesmo com o Banco Central atendendo aos pleitos dos banqueiros, via Febraban, de aliviar bilhões no recolhimento compulsório, o que se repetiu neste mês de julho.

Para se ver como estão altos os juros bancários do cartel dos cinco maiores bancos que controlam 85% dos empréstimos da economia, aqui vai o resultado da última pesquisa do Banco Central sobre os juros do crédito pessoal não consignado entre os dias 18 e 25 de junho.

São todas taxas mensais acima da inflação acumulada. E a título de comparação, a taxa da financeira que mais anuncia “crédito pessoal até a negativados” (aqueles 63 milhões que estão com o nome sujo no SPC) que tem juros pornográficos de 21,64% ao mês (949,38% ao ano), a Crefisa, patrocinadora do time de coração do presidente Bolsonaro, o Palmeiras:

 

Banco                                           Taxa Anual

Banco do Brasil                                 55,42%

Itaú                                                 65,07%

Caixa Econômica Federal                   67,79%

Santander                                        70,65%

Bradesco                                          85,95%

Crefisa                                             949,38%

Fonte: Pesquisa do BCB entre 18 e 25.06.2019