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Banco do Brasil ajuda a concentrar a renda no campo

Carteira do BB destina 53,9% do crédito ao grande produtor

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O balanço do Banco do Brasil no 1 º trimestre, com aumento de 40,3% no lucro líquido em relação a igual período de 2018, atingindo R$ 4,005 bilhões, foi um dos melhores desempenhos do banco estatal nos últimos três anos. Mas a decomposição de algumas carteiras, como a do agronegócio, da qual o BB é o principal agente de crédito do país, com 58,2% do crédito rural em março, mostra que o BB acaba atuando como agente de concentração de renda e de propriedades no campo.

A carteira de empréstimos ao Agronegócios fechou o 1º trimestre com R$ 197,424 bilhões, incluindo R$ 18,388 bilhões em créditos à agroindústria (9,8%), que envolve todas as etapas de beneficiamento da produção agrícola (laticínios; processamento de carnes de boi, aves e suínos, torrefação e moagem de café; produção de álcool e açúcar; indústria de suco de laranja; beneficiamento de algodão; moagem e extração de óleo de soja e beneficiamento do milho, além das atividades da fruticultura, batata e cebola e a olericultura).

Grandes produtores e pecuária levam 54% do crédito

A liderança das operações é da pecuária, com 22,5% dos créditos, incluindo a pecuária leiteira. A atividade de pecuária de corte, feita em grandes propriedades, recebeu 15% dos créditos. Somados aos 2,2% de créditos para formação de pastagens (compartilhada com a produção de leite) parece claro que o BB contribuiu para a concentração das propriedades. Até porque terras servem como garantias de hipotecas. Os financiamentos a máquinas e equipamentos (tratores de rodas, que servem a todas as lavouras. e colheitadeiras, concentradas nas lavouras de soja, milho e algodão, além de equipamentos para colheita de cana, café e demais atividades) concentram 14% dos créditos.

A soja, principal lavoura do país, concentrada em grandes e médias propriedades, recebeu 11% dos créditos diretos. Mas os 3,7% gastos com armazenagem, podem ser divididos na silagem de grãos de soja, milho, algodão, café e outras lavouras de grãos, como arroz e feijão.

De acordo com o balanço do BB, descontando os R$ 2,685 bilhões dedicados a cédulas de produtos rurais e garantias (1,4% das operações da carteira de agronegócios), os grandes e médios produtores levaram R$ 100,9 bilhões dos empréstimos (53,9%), com aumento de 7,1% sobre março de 2018. Os pequenos produtores ficaram com R$ 47,7 bilhões (25,5%), com aumento de apenas 2,4%, abaixo da variação da inflação.

As operações no Pronaf (Programa Nacional de Agricultura Familiar, que enquadra tanto pequenos como grandes produtores familiares) envolvia R$ 44 bilhões (23,5% das operações).

As empresas agrícolas levaram R$ 29 bilhões (15,5%), com redução de 16,1% nos empréstimos, e as cooperativas tomaram R$ 6,997 bilhões (3,7%), com encolhimento ainda maior, de 17,9% frente a março de 2018.

Quando se observa a origem dos tomadores da carteira de crédito, mas salta aos olhos a concentração. Pois as pessoas físicas tomaram 79,3% dos créditos, cabendo 19,2% às empresas. As cédulas de produtos rurais e garantias levaram 1,4% dos créditos. Apesar dos juros mais baixos, a carteira de agronegócios tinha índice de inadimplência (atrasos acima de 90 dias) de 1,68% em março deste ano, uma redução de 17 pontos percentuais antes os 1,85% de março de 2018. No mesmo período, a inadimplência das pessoas jurídicas caiu de 5,68% para 3,03% e a das pessoas físicas se reduziu de 3,49%, em março de 2018, para 3,25% ou 24 p.p. em março último.

O agronegócio brasileiro no mundo

Ignorando as distorções do crédito no agronegócio. O BB destaca que “o protagonismo do agronegócio brasileiro está associado à competência dos produtores rurais, recursos naturais disponíveis, tecnologia de ponta e oferta de crédito. Esse conjunto de atributos faz com que o país tenha uma posição privilegiada no cenário mundial” e destaca a posição de alguns produtos brasileiros no comércio mundial.

O Brasil é líder na exportação de suco de laranja (76%), tem mais da metade da comercialização do complexo soja, lidera as exportações de café, carne de frango, bovina, açúcar e aparece em 2º lugar na exportação de algodão, produto plantado após a colheita de soja, em rodício com o milho, no Centro-Oeste e no Oeste da Bahia.

 

O Brasil no Agronegócio Mundial em março de 2019

Item Produção Exportação % Comércio Mundial % Crédito Rural BB
Suco de Laranja 76,0% N. D.
Complexo de Soja 52,0% 11,0%
Açúcar 34,0% 2,2%
Carne de Frango 32,0% 2,1%
Café 26,0% 2,5%
Carne Bovina 21,0% 17,7%*
Milho 16,0% 4,8%
Algodão 14,0% 0,5%

Fonte: USDA – PSD online.

 

* Inclui financiamentos para pastagens, que também contempla gado de leite, que absorve 7,6% dos créditos do Banco do Brasil para Agronegócios

 

BB também amplia crédito ao setor público

Indicado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, de que é amigo desde os bancos da Universidade de Chicago, onde fizeram pós-graduação nos anos 70, o presidente do Banco do Brasil, Rubens de Freitas Novaes, não conseguiu imprimir a austeridade fiscal que Guedes deseja. No 1º trimestre os empréstimos do BB para os grandes setores da economia encolheram 4,8% frente a março de 2018, somando R$ 322,9 bilhões. Mas as operações para a administração pública cresceram 8,7%, passando a representar 14% do total emprestado (10,7% há um ano).

Os empréstimos ao setor petroleiro (basicamente à Petrobras) caíram 22,4% em 12 meses, para apenas 8,5% das operações (10,7% em março de 2018). O segundo maior tombo (20,45) foi no setor imobiliário.

Economia: corte de uma diretoria

Com salários de R$ 68.781 mensais para o presidente, quase duas vezes o teto da administração pública R$ 39,3 mil, e R$ 61.654 mil para cada um dos nove vice-presidentes, o Banco do Brasil conseguiu economizar R$ 52.177 mensais com o enxugamento de 27 para 26 no número de diretorias. Não é nada, não é nada mesmo. A maior parte dos bancos privados tem metade de diretores. Com 27 diretorias, cada uma podia ser distribuída a um estado e mais o DF. Agora, alguém sobrou na dança das cadeiras.