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Prejuízo de Pasadena foi de US$ 798 milhões ou mais de US$ 1 bi?

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Na ponta do lápis, o prejuízo da Petrobras com a compra da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), finalmente revendida ontem por US$ 467 milhões (US$ 350 pelo capital e US$ 117 milhões pelo estoque de petróleo), foi de US$ 798 milhões. Ou de 60,4% do negócio. Mas o custo do capital parado e o desgaste para uma estatal altamente endividada foram muito maiores e são incalculáveis.

A operação começou em 2006 e foi aprovada pelo Conselho de Administração da Petrobras que era presidido pela então ministra da Casa Civil, Dilma Roussef. Já presidente e em campanha pela reeleição, ela disse, em março de 2014, ter aprovado a operação com base em um “parecer falho” do então diretor internacional da Petrobras, Nestor Cerveró (cumprindo pena domiciliar, com tornozeleira eletrônica em Itaipava, na Serra de Petrópolis-RJ). Dilma focou, apenas, no resumo do negócio, exposto num cartapácio de mais de 40 páginas, que ela e todos os conselheiros receberam com semanas de antecedência.

Naquele ano a Petrobras pagou US$ 360 milhões por 50% da refinaria, já bem enferrujada, por isso ficou conhecida como “a ruivinha”. Além de US$ 56 milhões em impostos, somando US$ 416 milhões. Só que um ano antes, a belga Astra Oil, que era controlada pelo bilionário Albert Frère, dona da Tractebel no Brasil (atual Engie), maior geradora privada de energia do país [investidora nas usinas do Rio Madeira e grande doadora nas eleições de 2006 e 2010], pagou apenas US$ 42 milhões por 100% da usina, que tinha capacidade para refinar 112 mil barris diários.

A Petrobras queria lá refinar o óleo pesado de Marlim, então o maior campo de produção da Bacia de Campos [o pré-sal foi descoberto no ano seguinte, com grande concentração na Bacia de Santos]. Adaptações foram feitas na área de refino para gerar maior valor agregado ao óleo de Marlim, menos cotado. Adicionalmente, os tanques iriam estocar álcool anidro vindo do Brasil para ser misturado à gasolina americana e reduzir a poluição por chumbo, seguindo o Protocolo de Kyoto.

Mas 2006 era o ano da reeleição de Lula e a Petrobras congelou os preços dos combustíveis (segurou a inflação e arruinou as finanças da estatal). Com a descoberta do pré-sal no ano seguinte, a Petrobras foi orientada a seguir no controle de preços e decidiu se lançar em programa de ampliação das refinarias no país (Abreu e Lima, em PE, e o Comperj, no RJ, iriam refinar juntas quase 600 mil barris). As refinarias Premium I (MA) e Premium II (CE), que produziriam 400 e 300 mil barris de refinados, foram lançadas na eleição de Dilma, em 2010, mas isso é outra história [foram sepultadas ainda pela própria Dilma, em 2015].

Pasadena pouco chegou a operar, pois já em 2008 foi alvo de um imbróglio entre os dois sócios. O recurso a arbitragem internacional, previsto no contrato obrigou a Petrobras a pagar US$ 820 milhões à metade do sócio belga. A conta chegaria a US$ 1,236 bilhão. Mas a Astra ainda conseguiu obrigar a estatal brasileira a pagar US$ 85 milhões de multas, com dispêndio total de US$ 1,321 bilhão (sem contar juros, custo do capital e o que foi efetivamente produzido e faturado).

Num momento em que os nervos estão acirrados pela determinação da Petrobras de vender metade do seu parque de refino, com capacidade para 1,1 milhão de barris, poupando apenas as refinarias Duque de Caxias (RJ) e as paulistas (Cubatão-Capuava, Paulínia, a maior do Brasil, e São José dos Campos, no Vale do Paraíba), seria bom a atual diretoria Petrobras esclarecer o resultado efetivo da operação.

Pode haver prejuízos estratégicos e financeiros tanto nas operações de compra como nas de venda de ativos estatais. Ao examinar o processo, a área técnica da Comissão de Valores Mobiliários (CVM, a xerife do mercado de capitais brasileiro) pediu a condenação de ex-diretores e ex-conselheiros da estatal, incluindo a ex-presidente Dilma, por terem faltado com o dever de diligência ao aprovar a compra da empresa. Só sobrou para Cerveró, apanhado em outras maracutaias na operação Lava-Jato.

Crescimento é o que o Brasil precisa copiar dos EUA

Duas manchetes de hoje mostram que o Brasil não está copiando os bons exemplos dos Estados Unidos. Ao contrário, tenta seguir as piores práticas, como a disseminação do uso de armas de fogo e a interferência em assuntos internos de outros países.

Vejam agora duas manchetes que mostram a contradição:

Encomendas à indústria nos EUA têm maior aumento em 7 meses

Crescimento da indústria do Brasil tem em abril menor nível em 6 meses

As duas manchetes são do noticiário da Reuters Negócios, de hoje.

No primeiro caso, as novas encomendas de produtos made in USA tiveram em março a maior alta em sete meses (1,9%), puxadas pelos equipamentos de transporte.

No Brasil, segundo as estatísticas da Pesquisa IHS Markit, que pesquisa os índices dos gerentes de compras (sigla PMI em inglês), embora em abril tenha se completado o 10% de alta seguida nas encomendas, o aumento sobre março foi o menor em seis meses.

Alguma coisa está fora de ordem.

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