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O voo da galinha e o puro sangue inglês do português

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Em depoimento nesta quinta-feira, 16, na Comissão Mista do Orçamento do Congresso Nacional, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, procurou justificar o excesso de cautela do Banco Central em baixar os juros alegando a necessidade de fundamentos fiscais mais previsíveis e duradouros (leia-se reforma da Previdência) e lembrou que tentativas anteriores de relançar a economia tiveram fôlego curto, como o voo da galinha, que não se sustenta.

São praticamente as mesmas alegações, com linguagem mais acessível, que as do seu antecessor Ilan Goldfajn. O que se cobra do Banco Central não é apenas baixas as taxas básicas de juros. A Selic declinou na era Ilan Goldfajn, de 14,25% ao ano para 6,50% ao ano, patamar em que estacionou desde março de 2018. O que se quer é que não só a Selic continue a baixar (e Bradesco e Itaú esperam 5,75% ao ano até dezembro).

O que se quer é uma atuação mais firme da autoridade monetária para derrubar as taxas de juros bancárias, que estão descendo pela escada e pararam no meio do caminho. Os bancos já pediram um monte de concessões. O BC baixou o compulsório, liberando alguns bilhões e os juros não caíram. Muito menos os spreads, que até voltaram a aumentar.

Foi defendida a questão do Cadastro Positivo. Foi aprovada pelo Congresso, mas nada faz os juros caírem, apesar da economia estar na lona e os agentes produtivos estarem clamando por refresco nos financiamentos.

O grande erro é o mandato do Banco Central do Brasil falar apenas em estabilidade da moeda e controle da inflação, sem qualquer menção às pessoas (emprego), como está no mandato do Fed e dos principais bancos centrais do mundo. A economia de nada vale se não compreender a atividade das pessoas, pois o bem-estar social, que deriva do progresso e do equilíbrio econômico é sempre o mais importante.

O Itaú, cujo departamento econômico é chefiado por Mário Mesquita, que fez parte do Comitê de Política Monetária (Copom) no governo Dilma, disse também nesta quinta-feira que o juro neutro da economia (a Selic descontando a inflação dos segmentos livres) está em 2,80%, nível considerado alto e defende novas rodadas de reduções de juros. Espera que a taxa caia, a partir de setembro, após a aprovação da reforma da Previdência e que desça a 5% em dezembro de 2020.

Essa demora do Banco Central em forçar a baixa dos juros do oligopólio bancário me lembra a velha piada do cavalo puro-sangue inglês presenteado a um rico fazendeiro português. De início, o fazendeiro dava toda a rica (e cara) alimentação recomendada pelo inglês: alfafa, aveia, milho, ração, cenoura e maçã. O esperto fazendeiro achou que podia ir economizando.

Primeiro, ligou para mandar cortar a dose diária de maçãs. Depois a de cenoura. E por aí foi.

Passou mais um mês e ele foi à propriedade ver como estava o cavalo e o tratador falou resumidamente:

Doutor, segui tudo o que o senhor mandou e tudo ia bem. Quando o cavalo estava aprendendo a deixar de comer, morreu...

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coluna | economia | moeda