Na semana que passou não foram só os sinais meteorológicos que mudaram de direção, provocando chuvas, inundações e tragédias com mais de duas dezenas de mortes e milhões em prejuízos. Na economia a biruta virou de lado. A inflação disparou, assustando momentaneamente os analistas. O pior foram os indicadores de que a economia segue patinando, com queda na indústria e no setor de serviços, aumentando os índices de desemprego, na semana em que o governo Bolsonaro comemorou 100 dias no poder.
Sexta-feira o IBGE e, hoje, o Banco Central confirmaram os sinais de retração na economia já na gestão Bolsonaro e não adianta o presidente criticar o “termômetro do IBGE”. O Instituto informou que a atividade de serviços (que representa mais de 70% do Produto Interno Bruto, o PIB) teve queda de 0,4% no volume em fevereiro, já descontando o efeito sazonal (mais dias de trabalho este ano, contra menos dias em 2018, quando houve Carnaval no mês).
Já o Banco Central divulgou o IBC-Br, o seu indicador que procura antecipar o PIB do IBGE. Em fevereiro o volume do IBC-Br recuou 0,73% na passagem de janeiro para fevereiro, ajustada a sazonalidade, superando a expectativa do mercado que era de uma queda de apenas 0,31%. O Departamento Econômico do Bradesco esperava queda semelhante e já refez os cálculos para o PIB do 1º trimestre, que o IBGE só deve divulgar em 30 de maio: queda de 0,1%.
O fraco desempenho do 1º trimestre, que veio acompanhado pelo aumento da taxa de desemprego, confirmando um crescimento bem mais lento da economia do que o esperado no final do ano passado, após a eleição de Jair Bolsonaro, mostra que o desempenho do PIB não depende apenas de mais ou menos confiança na nova equipe de governo. Depois do impeachment de Dilma Roussef, substituída em 12 de maio de 2016 pelo vice Michel Temer, que convidou para o ministério da Fazenda o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que Lula queria que Dilma no governo, em abril, a palavra “confiança” foi a tônica para prever uma retomada da economia. Mesmo com Meirelles e equipe inspirando mais confiança, o PIB, que tinha encolhido 3,55% em 2015 e 3,30% em 2016, cresceu apenas 1,10% em 2017, graças à supersafra agrícola de 2016-17, que derrubou os preços dos alimentos e deu folga nos orçamentos das famílias para leve recomposição do consumo.
No ano passado, quando se esperava mais crescimento (no final de 2017 as apostas variavam entre 2,5% e 3,2%), o PIB avançou apenas 1,10%. Para este ano, as apostas variavam entre 2,50% e 3,00% depois da eleição de Jair Bolsonaro. Mas o Itaú já fez a revisão de suas projeções na sexta-feira: o PIB deve crescer apenas 1,3% (era de 2% na previsão de março e de mais de 2,5% no último trimestre de 2018). A inflação (IPCA) não deve passar dos 3,6% e com o baixo crescimento, o maior banco privado do país espera que a taxa básica de juros (Selic) caia dos atuais 6,50% ao ano para 5,75% em dezembro deste ano e para 5,50% em dezembro de 2020. Há três meses, o Itaú esperava 6,5% este ano e 7,50% para 2020. O PIB previsto para 2020 encolheu de 2,70% para 2,50%.
Já a média do mercado financeiro era mais otimista no PIB – esperava ainda na Pesquisa Focus colhida pelo BC na sexta-feira e divulgada hoje 1,95% para 2019 (era 2,01% há quatro semanas) e 2,58% para 2020 (2,80% há um mês), com a Selic em 6,50% este ano e 7,50% em 2020. Assustado com a alta da inflação em março (0,75%) o mercado elevou a previsão do IPCA de 2019 para 4,06% (3,89%) há um mês) e manteve os 4% para 2020.
O Departamento Econômico do Bradesco também reviu as projeções. O PIB de 2019 foi revistou para 1,90% e o de 2020 para 2,20% (as previsões anteriores eram de 2,5% e 3%, respectivamente). Para o Bradesco, a alta da inflação de março será revertida pela queda já indicada nos preços agrícolas no atacado, no indicador do IGP, da Fundação Getúlio Vargas. O Depec Bradesco manteve a previsão de 3,80% para o IPCA deste ano e de 3,90% para 2020, com a Selic em 6,50% este ano e 7,50% para 2020, como a média do mercado financeiro.
“Posto Ipiranga” ataca Petrobras
A alta de 0,75% no IPCA de março, que elevou a taxa acumulada em 12 meses para 4,58%, acima da meta de inflação do ano, que é de 4,25%, conforme divulgou o IBGE na quarta-feira passada, assustou o mercado financeiro e o presidente Bolsonaro, pouco afeito ao vai e vem da economia e às oscilações sazonais de preços. Altas dos combustíveis (refletidas no item Transporte) e Alimentação e Bebidas puxaram os preços para cima.
Insensível à questão, a Petrobras anunciou na quinta-feira, dia seguinte à divulgação do IPCA pelo IBGE reajuste recorde de 5,74% no preço do óleo diesel nas refinarias, a partir de sexta-feira, o que faria o reajuste ser captado nos indicadores do IPCA de abril e maio. Em maio do ano passado os caminhoneiros (que estão em plena movimentação da safra agrícola) se insurgiram justamente com a alta do combustível, gerando a greve que se alastrou até a primeira quinzena de junho e derrubou o PIB e fez a inflação disparar em maio e junho.
Sensível ao risco de nova revolta dos caminhoneiros, o presidente Bolsonaro, que já disse “não entender de economia”, tarefa que delegava na campanha ao seu “Posto Ipiranga”, o economista Paulo Guedes, que hoje comanda o ministério da Economia, resolveu abortar o aumento na noite de quinta-feira, 11 de abril. O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, já estava a caminho do Galeão para embarcar para os Estados Unidos, quando deu meia volta para anular o ato junto ao Conselho de Administração da estatal, soltando nota relevante ao mercado na mesma noite.
A interferência do “Posto Ipiranga” na Petrobras derrubou as ações em quase 10% na sexta-feira 12, no Brasil e na Bolsa de Nova Iorque. O valor de mercado da companhia encolheu R$ 32 bilhões. Hoje, depois da fala serena do verdadeiro Posto Ipiranga nos EUA, dizendo que iria conversar com o presidente e as explicações da Petrobras de que o hedge tinha sido mantido para defender os custos das oscilações do preços do barril e do câmbio, as ações reagiram e subiam quase 3% por volta do meio dia de hoje. E não podia ser diferente: os custos de produção da Petrobras no pré-sal, de onde vem hoje 50% da produção do petróleo, estão em US$ 7 por barril. Com o barril a US$ 71 mil, há margem suficiente para a Petrobras aguentar mais uma semana ou um mês. Situação que não era tão cômoda em 2018.
Boa notícia: a inflação vai ceder
O presidente Bolsonaro pode esfriar a cabeça e não precisa quebrar os termômetros do IBGE. Segundo as projeções das Top 5 (as cinco instituições financeiras que mais acertam as previsões na pesquisa Focus do Banco Central), a inflação de abril ainda vai subir mais do que a de abril de 2018 (0,54% contra 0,22%), o que vai provocar elevação da taxa em 12 meses dos 4,58% de março para 4,91%. Mas em maio a febre da inflação vai começar a ceder.
As Top 5 estão esperando redução dos 0,54% de abril para 0,26% (em grande parte pelo adiamento do reajuste do diesel). É que uma semana antes estava prevendo alta de 0,46%, com a reversão dos preços agrícolas, já detectada pelo Depec Bradesco no atacado. Com o não aumento do diesel (que não explode, mas é inflamável no Brasil devido à adição de gasolina na mistura, para compensar a baixa octanagem do óleo combustível que integra a composição do diesel brasileiro, ao lado do biodiesel), a taxa anual cairia de 4,91% em abril para 4,76% em maio e levaria um baita tombo em junho, voltando à faixa de 3%, com a taxa esperada de 0,22% para o IPCA. Como a base de comparação é a alta de 1,26% no IPCA de junho de 2018, a inflação despenca em dois meses (o que será confirmado em 7 de julho pelo IBGE).
Queda na inflação ajuda na tramitação da reforma da Previdência, que só deve ser aprovada em setembro. Ou não...