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A esculhambação do Carnaval no emprego

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O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, parece não dar muita importância para o Carnaval. Dentro de sua definição para a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, que o próprio alcaide, responsável pela organização dos serviços da urbe, classificou de “esculhambação”, o evento momesco é o principal motivador da criação de emprego, como ficou claro no Caged de fevereiro.

Como este ano o Carnaval caiu na primeira semana de março (a terça-feira foi dia 5), as contratações do setor educacional e das áreas de comércio e serviços ligadas ao movimento de turismo foram antecipadas para fevereiro, como sublinhou o Departamento Econômico do Bradesco, que não comungou da euforia oficial do governo Bolsonaro. O Itaú também considera que o mercado só vai melhorar do fim do primeiro semestre em diante.

Mas o Rio de Janeiro, por culpa do prefeito que vem fazendo tudo para esvaziar o principal espetáculo do carnaval carioca, que é o desfile das escolas de samba, ficou apenas com a geração de 3.483 vagas em fevereiro. Muito pouco para uma cidade de 6,6 milhões de habitantes.

A vizinha São João de Meriti, na Baixada Fluminense, com população estimada em 472 mil habitantes pelo IBGE, gerou novas 1.327 vagas no mês passado, mais de um terço da geração na capital. No Estado do Rio de Janeiro, que tem praticamente 17 milhões de habitantes, foram gerados apenas 9.682 vagas, o 6º melhor resultado entre os estados.

Olhando por dentro dos números, está clara a importância de se valorizar o turismo. Santa Catarina, que tem 7 milhões de habitantes, gerou 25.304 novos empregos em fevereiro, o melhor resultado proporcional entre os estados, com crescimento de 1,25% na comparação com janeiro. São Paulo liderou o placar, com 62.339 novas vagas líquidas (descontando as demissões), mas o aumento foi de apenas 0,52%. Minas Gerais, onde foram criados 26.016 empregos, teve crescimento de 0,62%. Belo Horizonte foi a região metropolitana do país a gerar mais empregos: 8.040. Depois, no terreno positivo, só Fortaleza, com 321 empregos apenas. Não dá para correlacionar a geração recorde de emprego em BH com a tragédia de Brumadinho, em fins de janeiro (25) que atraiu muita movimentação de técnicos para a capital, próxima a Brumadinho. Mesmo no município atingido pela tragédia, que destruiu negócios, como restaurantes e pousadas e deixou fechado por duas semanas o museu-parque de Brumadinho, houve a criação de 94 empregos.

O escambo pesa na na dívida externa

O Banco Central soltou hoje uma importante abertura em relação à dívida externa brasileira. A dívida total atingiu US$ 665,7 bilhões em dezembro de 2018, sendo US$ 320,6 bilhões em dívida bruta, US$ 238,6 bilhões sob a forma de dívidas intercompanhias (multinacionais, bancos estrangeiros e empresas brasileiras com filiais no exterior, como Petrobras, Vale, Gerdau e bancos nacionais) e ainda US$ 106,5 bilhões em títulos emitidos no exterior e no mercado brasileiro com referência em dólar.

O dado interessante na discriminação dos empréstimos internos intercompanhias foi o uso de mercadorias como se fosse empréstimo. Dos US$ 238,6 bilhões em empréstimos intercompanhias no fim do ano passado, mais da metade, ou 55,4% (US$ 132,2 bilhões eram de empréstimos de mercadorias entre companhias, ou seja, uma espécie da volta do escambo). A Petrobras tem uma subsidiária na Holanda, a PIB BV cujo passivo chegou a R$ 214,6 bilhões em dezembro do ano passado). A filial opera financeiramente, ora vendendo petróleo no porto de Roterdã, ora fazendo leasing de equipamentos de exploração de petróleo, como plataformas.

No total da dívida, a parte integralizada em mercadorias representa 24,4%. Só perde para os 47,8% em dívidas em dólar e supera os 22,1% dos papéis vendidos em real. A Receita Federal sempre foi atrás dessas operações e insiste em multar a Petrobras em até R$ 44 bilhões no Carf. A Petrobras diz que a dívida é de R$ 17 bilhões e que o fluxo a ser pago este ano, no leasing de embarcações, é de R$ 2,2 bilhões. Com as últimas mudanças no Repetro, a Receita está com lupas maiores para examinar as operações.

As operações intercompanhias são tão intensas que o Banco Central, muitas vezes, contabiliza como investimento direto disfarçado. É o caso de uma matriz de montadora ou fabricante de máquinas aproveita os juros mais altos do Brasil para transferir uma linha de crédito para a filial brasileira financiar os compradores domésticos. Com o diferencial dos juros no Brasil todos ganham dinheiro (matriz e filial), mesmo cobrando juros abaixo do mercado, como costuma ocorrer nos financiamentos do braço financeiro das montadoras estrangeiras no Brasil.