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PIB: a ducha de água fria em janeiro

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Os dados do IBC-Br de janeiro do Banco Central, que são uma espécie de antecipação do Produto Interno Bruto (PIB) calculado pelo IBGE, devem cair como um balde de água fria na mesa dos oito integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom) que hoje têm o primeiro de dois dias de reunião da nova diretoria comandada pelo presidente Roberto Campos Neto. As quedas de 0,41% no IBC-Br de janeiro frente a dezembro, reduzindo para 0,79% a variação do PIB sobre janeiro de 2018 e para 1% na taxa em 12 meses (em dezembro os dados do IBGE arcaram 1,1%), já mudaram radicalmente as projeções dos dois maiores bancos privados do país.

O líder Itaú foi o mais radical. Cortou as projeções de expansão do PIB no 1º trimestre para 0,3% e a do ano de 2019, de 2,5% para 2,0% (o Bradesco reduziu de 2,80% para 2,40%) e, na linha do Banco Central dos Estados Unidos (o Fed) que anunciou que a desaceleração da economia mundial vai levá-lo (como queria o presidente e empresário imobiliário Donald Trump) a moderar a escalada dos juros em relação ao cenário desenhado na virada do último trimestre, o Itau está cravando que a taxa Selic – atualmente em 6,50% ao ano, vai ficar neste nível até o fim deste ano (como o Bradesco e o mercado) e se manter nesse patamar até dezembro de 2010. Isto porque com o crescimento menor, o Itaú prevê que o IPCA deste ano e o de 2920 ficarão em 3,60% (antes era 3,80%), muito abaixo do centro da meta (4,25%) visado pelo Copom. O Bradesco espera a Selic em 7,50% em dezembro do ano que vem (era de 8% até a semana passada) e o mercado desceu deste patamar para 7,75%.

O cenário desenhado ontem pelo Itaú aponta desaceleração na economia mundial de 3,8% em 2018 para 3,4% este ano e 3,3% em 2020, puxado pela descida dos Estados Unidos (respectivamente, de 2,9%, em 2018 para 2,1% este ano e apenas 1,7% em 2020 e 201). Já a China, principal destino das nossas exportações, cresceria 6,2% este ano, após os 6,6% de 2018 e desaceleraria para 6% em 2020. A Zona do Euro, 2º maior mercado do Brasil, desceria dos 1,8% de 2018 para 1,2% este ano e para apenas 1% em 2021 e 2022. O realinhamento político que o presidente Bolsonaro quer fazer com os Estados Unidos pode não render muito em termos econômicos a curto e médio prazo.

Tenho assistido, nos últimos anos, às sucessivas frustrações nas projeções sobre o desempenho do PIB a cada início de ano. O que deixa mais claro que “o Brasil é o país do futuro”, que tanto encantou ao austríaco Stefan Sweig, vai sempre adiando as expectativas. O mais extraordinário foi em 2017. O Itaú chegou a prever, em abril daquele ano – quando havia a esperança de que o governo Temer iria aprovar uma reforma mínima da Previdência em maio ou junho, para estancar o déficit público – que o PIB de 2017 cresceria até 4%. Acontece que um mês antes (em 7 de março) Temer teve suas conversas no porão do Palácio Jaburu gravadas por Joesley Batista e a divulgação das fitas, pelo jornalista Lauro Jardim, de O Globo, em 17 de maio, paralisou a reforma e o governo Temer. O PIB de 2017, graças à supersafra (plantada no ano anterior), ficou em apenas 1,1%, mesmo resultado de 2018.

Tudo isso é para dizer que apesar da contradição entre as expectativas do mercado financeiro (que ‘comprou’ o governo Bolsonaro no pressuposto da aprovação das reformas propostas pelo ‘Posto Ipiranga’, o ministro da Economia, Paulo Guedes e a resposta da economia real às situações de crescimento da demanda ainda apontam para excesso de cautela que levaram os bancos a rever as projeções econômicas para baixo. No caso do Itaú, o departamento econômico do Itaú-BBA prevê menor redução do déficit público (como parcela do PIB, pois o PIUB será menos robusto) e queda mais lenta do desemprego (11,8% no fim deste ano e 11,5% em 2020, contra taxa 12,3% em dezembro de 2018).

Em condições normais de temperatura e pressão – com maior certeza de aprovação da reforma da Previdência, era hora do Copom baixar os juros. Pelo DNA do avô e a cautela de Paulo Guedes, não deve ser desta vez. Quem sabe em maio?

Testando o Ibovespa

O mercado testou ontem o Ibovespa em 100 mil pontos. Rompeu essa barreira (100.038, às 14.40), mas não se sustentou. Fechou o dia em 99.992,83%, com alta de 0,86% no dia. No mês, o ganho é de 4,61% e a valorização acumulada do ano ficou em 13,78%. Mas o pulo da barreira já está previsto. Todos os negócios do mercado futuro estão acima dos 100 mil pontos. O mercado brasileiro está precificando a expectativa do mercado americano de que o Fed, na sua reunião de hoje, vai oferecer panorama mais suave de alta dos juros dos EUA. Isso enfraqueceu o dólar e fez o real ganhar 0,76%, cotado em R$ 3,7914, o menor valor desde 1º de março.

Petrobras anima mercado

Medidas anunciadas ontem pela Petrobras, como a recompra antecipada de dívida de R$ 7 bilhões com o Banco do Brasil, que venceria em 2022, tendo em vista que negócios previstos no Plano de Negócios e Gestão foram revistos ou arquivados, animaram os investidores. Petrobrás ON subiu 2,02% e a PN, 1,73%. Em contrapartida, as ações ON do BB caíram 0,76%.

Perderam o embarque

Um dos fatos que mais chamou a atenção, além do ágio dos leilões dos 12 terminais da Infraero realizados na sexta-feira, foi a ausência quase completa das empreiteiras brasileiras no certame. Salvo nos três terminais do Centro-Oeste, onde há participação minoritária de empresas ligadas a empreiteiras e principalmente à gestão de terminais de ônibus e mais recentemente de aviões, a gigante CCR (parceria da Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Soares Penido) perdeu uma das áreas mais disputadas.

Não se trata apenas do reconhecimento de que as empreiteiras brasileiras, à frente a Odebrecht, ficaram baleadas nas investigações da Lava-Jato (o grupo CCR acaba de fechar acordo para pagar multas de R$ 750 milhões no Paraná e reduzir pedágios, a Queiroz Galvão também não se aventurou. Trata-se de mudança de paradigma, a partir das mudanças feitas no governo Temer. Para modernizar os aeroportos, os novos sócios europeus vão contratar empreiteiras em licitações privadas. E isso já está embutido nos lances dos leilões. Antes, no governo Dilma, as empreiteiras lideraram consórcios – os operadores trariam a gestão - mas os preços baixos (e irrealistas) eram iscas para ganhar o certame e depois solicitar aditivos nos contratos. Isso parece ter acabado. Espera-se.