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A inflação domada e o juro real

JB -
A inflação domada e o juro real
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Três anos após o tarifaço aplicado em 2015 pela presidente reeleita Dilma, que gerou alta de 18,8% nas tarifas públicas naquele ano e fez a inflação do IPCA saltar dos 6,41% de 2014 para 10,67%, os preços administrados voltam a ficar comportados, avalia o Departamento Econômico do Bradesco. Também, não era para menos, depois da baita recessão e desemprego de 2015 e 2016 (queda de 3,5% e 3,3% no PIB, respectivamente) e uma economia em tímida reação até agora.

O Depec Bradesco decompôs o IPCA em vários núcleos. A inflação oficial ficou numa média de 5,9% de 2005 a 2016, caiu para 2,9% em 2017 e ficou em 3,75% em 2018. O banco prevê 4% este ano. Os preços administrados fecharam em 6,5% em 2018 e devem ficar em 5,2% este ano. A inflação de serviços, que andou na média de 7,3% de 2005 a 2016, caiu para 4,7% em 2017 e para 3,3% em 2018. Para 2019, prevê 3,9%.

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A inflação domada e o juro real (Foto: JB)

Outro grande impacto é o dos preços dos alimentos em casa. Apór subir 7,3% no período 2005-2016 (alimentação e bebidas consomem cerca de 25% dos orçamentos familiares), a alimentação caiu 4,9% em 2017, com a supersafra de grãos e voltou a subir 4,5% em 2018. Este ano, o Bradesco espera 4,5|%.

No frigir dos ovos, o núcleo de exclusão do IPCA, que dispensa os preços administrados e a alimentação, depois de variar 5,8% de 2005 a 2016, baixou a 2,9% em 2017, e subiu só 2,3% em 2018. Deve ficar em 3,3% este ano. Se o Banco Central considerar esse o índice da inflação neutra, a taxa de juro real poderia rodar até 4% (na faixa dos 7% - aposta da média do mercado- a 7,25%, que é quanto prevê o Bradesco. O Itaú acha que a economia está ociosa e o desemprego tão alto que a taxa básica Selic pode ser mantido em 6,5%, sem risco de recidiva da inflação.

Chicago x Funcex? Quem vale mais?

Muito já se falou da ligação que a equipe econômica comandada pelo czar da Economia, Paulo Guedes, tem com a Universidade de Chicago, que tinha como gurus os economistas ultra liberais Milton Friedman, e Frederick von Haiek, fundador da Escola Austríaca e que acabou criando uma dissidência na universidade de Illinois, quando ambos defendiam o Estado mínimo. Haiek foi deslocado para a área de estudos sociais.

Não se pode ignorar a importância da escola na formação acadêmica de Paulo Guedes, de Rubens Novaes, presidente do Banco do Brasil, e do presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco. Mas há um núcleo de trabalho no Brasil - ligado aos princípios liberais de Chicago - que ajudou a amalgamar as afinidades e as amizades entre esses três expoentes: a Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), criada em 1976.

A Funcex, no final do anos 70 e início dos anos 80 reuniu os estão jovens economistas sob a liderança de Affonso Celso Pastore, que era o diretor superintendente da Fundação e ainda os economistas Roberto Fendt e José Augusto de Castro.

Foi um tremendo network, que ajudou a sedimentar a carreira de todos. Castello Branco e Paulo Guedes já eram amigos desde o antigo Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), que era subvencionado pela Bolsa do Rio. Anos depois, Guedes e Cláudio Haddad (ex-diretor do Banco Central) compraram o Ibmec, que depois sofreu cisão: a parte paulista virou o Insper e a carioca foi passada adiante por Guedes.

O mundo gira e a Lusitana roda, Fendt, diretor executivo do Cebri, foi convidado para se “reunir” ao grupo atuando como representante do Brasil no Banco de Desenvolvimento, o banco dos Brics.

Da turma da Funcex, só Affonso Celso Pastore, decano da USP, que virou consultor de empresas depois de ter presidido o Banco Central no governo Figueiredo, e José Augusto de Castro, que preside a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), não estão ligados diretamente ao governo Bolsonaro.

Espectador privilegiado

A sabatina do economista Roberto Campos Neto, convidado para presidir o Banco Central pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, ainda não tem data marcada na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, com posterior votação em plenário pelos 81 senadores. Mas Campos Neto, nomeado assessor no gabinete do ministro Paulo Guedes desde 11 de janeiro, já está atuando até na cena internacional, como acompanhante do ministro na viagem a Davos (Suíça).

Antes de ser nomeado assessor de gabinete do ministro da Economia, Roberto Campos Neto assistiu, de camarote, na semana passada, ao lado do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, à 2ª reunião ministerial comandada pelo presidente Jair Bolsonaro. O detalhe é que Roberto Campos Neto já estava identificado como presidente do Banco Central do Brasil, cargo para o qual ainda precisa do crivo do Senado.

A função de assessor de Paulo Guedes não deixa de ser uma homenagem ao avô ilustre, o ex-ministro do Planejamento, Roberto Campos. Quando foi Senador e deputado por Mato Grosso Campos teve como assessores os jovens economistas Paulo Roberto Nunes Guedes e Paulo Rabello de Castro. O entrosamento de Guedes e Campos Neto se intensificou no Banco Bozano, Simonsen. Comprado pelo espanhol Santander nos anos 90, o ‘passe’ de Campos Neto foi junto, onde ascendeu à função de diretor de Tesouraria antes de ser convocado por Guedes, que ficou no BR Investimentos, grupo financeiro do antigo controlador, Julio Bozano.