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Os desafios externos do Brasil para 2019

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As previsões dos principais organismos internacionais - FMI, Banco Mundial e OCDE – apontam para uma recuperação do crescimento econômico do Brasil para o próximo ano. Mesmo com uma tendência de alta, a distribuição das projeções aponta para um crescimento do PIB em torno de 2,1 % a 2,5% e de 2,5% para 2020, com a hipótese de alguma reforma da previdência e um arranjo das contas públicas, inclusive dos entes federativos subnacionais, sendo que essa expectativa de crescimento está associada a um aumento no consumo das famílias, queda na taxa de juros em termos reais e melhora nas condições do mercado de trabalho.

Um eventual aumento do investimento privado poderia contribuir para reforçar a tendência de alta do indicador, da mesma forma que a retomada dos investimentos em infraestrutura e saneamento teria o efeito de alavancar o PIB de forma mais consistente.

O cenário interno pode ser ajudado quando da apresentação definitiva do projeto do futuro governo de forma mais ampla pelo próximo presidente. O mercado financeiro e o humor dos empresários podem ser definidos como dominados por relativo otimismo e em alguns segmentos de quase euforia.

A boa recepção das indicações da área econômica está servindo para estimular a sensação de mudanças, e a propositura de uma agenda liberalizante, o compromisso com o ajuste fiscal e o resgate das condições de estabilidade do estado são temas dominantes em qualquer agenda coerente de reversão do quadro de estagnação que domina a economia brasileira há cinco anos.

Contudo, o discurso ganha mais consistência quando associado com um amplo projeto de abertura comercial, de forma a agregar à economia brasileira maiores ganhos de competividade e escalas de produção compatíveis com o tamanho da economia nacional em termos internacionais.

A pauta de exportações brasileiras ainda é em sua maioria fruto de vantagens do agronegócio, setor que agrega pouco em termos de valor, por se tratar essencialmente de commodities.

A despeito da enorme vantagem competitiva, o setor é pouco propenso a inovações disruptivas, fator determinante em um mundo que tem que lidar a cada dia com graus mais complexos de industrialização, o uso de cadeias produtivas globais e a geração de valor em serviços baseados em alta tecnologia e elevada capacitação de mão de obra.

Os riscos externos e as dificuldades para a economia brasileira podem ser dimensionados no aumento do protecionismos levado a frente pela economia norte-americana e nos rearranjos das principais economias (Comunidade Europeia e China), alimentando a tese das principais instituições de pesquisa econômica do mundo, que aponta para um declínio nas projeções de crescimento no comércio e PIB mundial, com especial destaque para a atividade econômica nos Estados Unidos.

O efeito esperado pelas análises desses órgãos aponta para uma desaceleração na taxa de crescimento dos Estados Unidos, que deve sofrer um pouso nos próximos anos, saindo dos atuais 3,1% no último trimestre, para algo como 2,5% em 2019 e 2,0% em 2020, projeção aceita pelo FED (Banco Central dos EUA) como cenário base, fato que explicaria ou justificaria um comportamento menos agressivo da instituição na formação das taxas de juros de médio e longo prazo.

A esse movimento soma-se a crescente tensão norte-americana junto à OMC (Organização Mundial do Comércio) e as ameaças da administração Trump de retaliar com obstruções os julgamentos de ações de países prejudicados pela imposição de tarifas sobre a importação de bens pela atual administração. O uso de tais barreiras seria explicado pela necessidade da criação de proteção à indústria norte-americana em decorrência de possíveis aspectos relacionados à segurança nacional (por exemplo, aço e alumínio).

O cenário base para a economia mundial

O mesmo cenário de desaceleração está sendo projetado pela OCDE (Organização para a Cooperação do Desenvolvimento Econômico), conforme o relatório divulgado na semana passada, e aponta a panorama que indica também uma diminuição no ritmo de crescimento da economia da China, em decorrência da combinação dos seguintes fatores: recrudescimento da guerra de tarifas e restrições não tarifárias, redução do consumo doméstico e realinhamento de preços de ativos financeiros .

Nesse quadro, o PIB chinês sofreria um decréscimo dos atuais 6,5% para algo próximo a 6,3% em 2019 e 6,0% em 2020, o que afetaria todas as economias do sudeste asiático, área de comércio que detém fortes vínculos com o complexo industrial chinês, além de apresentar saldo na balança comercial superavitário para esses países.

A economia da Índia também seria afetada, tendo uma redução na atividade produtiva de 0,83% entre os anos de 2019 e 2020.

Por fim, a Comunidade Europeia também passaria por uma redução no nível de atividade, com impactos mais fortes na Alemanha, França e Itália.

Esses fatores, quando agregados, seriam responsáveis em uma redução de até 0,6% no PIB mundial ao longo de 2019, com efeitos maiores em 2020.

O cenário de deterioração nos fundamentos da economia global deve produzir efeitos diretos sobre os preços das commodities minerais (ferro e alumínio), petróleo e alimentos, o que pode vir a ter impacto e aumento na volatilidade dos preços associados a essas mercadorias, com maiores efeitos no PIB dos países exportadores de óleo e gás (Oriente Médio, Rússia e Ucrânia).

No lado financeiro, pode-se afirmar que uma redução na taxa de crescimento da economia mundial pode trazer a necessidade de aumento na taxa de retorno dos investimentos em países emergentes, associado à elevação da aversão ao risco de mercado e, portanto, de maior seletividade na alocação de recuros associados com projetos, cujo desempenho estejam vinculado à ampliação do comércio internacional ou a setores ligados ao petróleo e gás.

No caso da economia brasileira, a redução do crescimento do PIB, quando associado a esse cenário base, segundo a mesma instituição, OCDE, teria uma redução na taxa de crescimento em trajetória ascendente, conforme as projeções apresentadas acima, ou seja, de 0,80% ao longo de 2020, fator já descontado nas projeções.

A conclusão para essas previsões e cenários com toques de pessimismo só reforça a necessidade de um ajuste fiscal mais acelerado e de um programa de equacionamento da trajetória de crescimento da dívida pública brasileira.

Uma maior publicidade de cenários com esse perfil pode contribuir para o aumento da conscientização da população para a necessidade de caminharmos mais rápido com o ajuste fiscal, de avançar com maior flexibilização nas regras trabalhistas e de adequação das normas fiscais incidentes sobre as empresas a parâmetros internacionais.