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Os efeitos da recessão sobre a renda dos desempregados

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Os efeitos econômicos de uma entrada no mercado de trabalho em um período de recessão, podem ser compreendidos de forma intuitiva, no entanto o fenômeno nem sempre é perfeitamente explicável.

A ideologia vulgarmente encontrada na propalada defesa das vantagens do sistema meritocrático, sem a devida analise das condições reais, em que se desdobra a realidade, costuma afirmar que o sucesso profissional de uma pessoa ou de grupos está frequentemente relacionado com a conquista de ganhos oriundos do pleno desenvolvimento do talento natural, por meio do trabalho duro e da determinação inquebrantável.

A revista The Economist, de 19 de outubro de 2018, publicação expoente do liberalismo internacional há mais de 150 anos, traz, em seu penúltimo número, uma matéria muito interessante, pois apresenta evidências de que a o elemento sorte também pode desempenhar algum papel, na remuneração total das pessoas, por influência de condições econômicas favoráveis em etapas de recuperação da atividade , em decorrência de estágios do processo de crescimento de uma economia em determinada fase do ciclo datado como retomada ou de inícios de recessões.

A matéria intitulada “As crises econômicas temporárias têm consequências duradouras” apresenta elementos para a análise do fenômeno observado, que se manifesta nos altos e baixos do ciclo de negócios, demostrando ou enumerando estudos indicativos de que os estudantes que se formam em universidades durante um ciclo de recessão começam a ganhar significativamente menos, em média, do que aqueles que concluem seus estudos durante os melhores tempos. Estes ganhos menores tendem a persistir por alguns anos.

Um recente trabalho teórico com viés empírico foi publicado pelo NBER n° 25141, de autoria de Hannes Schwandt e Till M Von Walter, demonstrando que o custo econômico das recessões para os jovens trabalhadores não é distribuído de forma uniforme entre os trabalhadores.

Utilizando dados do Censo dos EUA de 1976 a 2015, economistas da North Western University e da University of Califórnia, Los Angeles, estimam que trabalhadores que entram no mercado de trabalho durante uma recessão - definida como uma desaceleração que aumenta as taxas de desemprego em três pontos percentuais - ganham cerca de 11% menos, em média, no início de suas carreiras.

Essa queda nos ganhos dura 10 anos e gera perdas acumuladas no valor de cerca de 60% do salário de um ano.

Tais efeitos são particularmente expressivos para os que abandonam o ensino médio em especial para trabalhadores não brancos.

Os graduados em uma faculdade se saem melhor, sofrendo perdas que são apenas de metade da perda medida para o trabalhador típico.

Foram encontradas perdas persistentes e reduções salariais substantivas, em especial para os entrantes menos favorecidos no mercado de trabalho, assim como a indicação de que os aumentos no apoio do governo só são parcialmente compensados.

Sendo confirmado que os resultados não são afetados pela migração seletiva ou pela entrada no mercado de trabalho não programada, no trabalho foi usada também uma taxa de desemprego média ponderada por uma dupla hipótese de entrada no mercado de trabalho para cada corte de nascimento e por uma variável baseada na média das taxas de migração estadual e nas taxas médias de educação como variável de “coorte” (coorte é um conjunto de pessoas que tem em comum um a presença em um evento que ocorreu no mesmo período).

A perda de renda pode ser definitiva

A rede social de segurança americana atenua parte dessa dor econômica, mas não em seu todo.

Os jovens trabalhadores que ingressam no mercado de trabalho durante uma recessão, por exemplo, têm maior probabilidade de fazer uso do Programa de Assistência Suplementar à Nutrição (SNAP), anteriormente conhecido como uma espécie de “bolsa-alimentação”, que tende a ajudar a aumentar da renda de extratos da renda familiar mais baixa.

Este conjunto de trabalhadores desafortunados, ou desalentados, também são mais propensos a se inscrever no chamado “Medicaid”, um programa social voltado para a oferta de seguro de saúde de natureza pública, que pode substituir temporariamente o seguro fornecido pelo empregador em caso de desemprego.

No entanto, apesar de todos esses programas públicos, os efeitos prejudiciais das recessões para os jovens trabalhadores foram identificados como sendo significativos e duradouros.

Os autores do trabalho acima mencionado também descobriram que as recessões aumentam as taxas de pobreza entre os jovens trabalhadores pelo período de 5 anos depois de entrarem no mercado de trabalho.

Mais uma prova, portanto, de que o sucesso medido, pela remuneração de uma pessoa bem-sucedida, pode estar sujeito ou relacionado a data de nascimento e de uma possível sorte, em entrar no mercado de trabalho em um período de vacas gordas.

Resumo de tudo que foi explicado acima: As perdas de renda ocorridas no Brasil ao longo dos períodos da recente de recessão, não serão recuperadas em sua totalidade, mesmo que venha ocorrer uma eventual retomada da atividade econômica ao longo dos próximos anos, admitida a hipótese acima, possíveis ganhos, o que significa que não será possível repor as perdas ocorridas pelo longo ciclo de desemprego e recessão vivenciados nos últimos cinco anos .

No momento em que, são ditas tantas bobagens, e feitas afirmações categóricas e desvios ideológicos afrontam a compreensão de fenômenos e a boa análise da realidade, fica aqui a sugestão de reflexão sobre o tema à luz de um estudo teórico, mesmo que incompleto e de outra realidade, ficando a indicação da necessidade de que mais pesquisas empíricas sérias e responsáveis, sobre o tema, sejam desenvolvidas especialmente no Brasil

O link para acesso gratuito à pesquisa pode ser obtido no site da WEB https://www.nber.org/papers/w25141.

Tags:

economia