O OUTRO LADO DA MOEDA
IGP-M negativo reduz aluguéis?
Publicado em 30/12/2025 às 15:06
Alterado em 30/12/2025 às 15:06
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Depois de subir 6,54% no ano passado, em grande parte impulsionado pelo impacto da valorização do dólar sobre os preços dos produtos importados e bens transacionáveis com o exterior, o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), apurado pela Fundação Getúlio Vargas até 20 de dezembro, fechou o ano com queda de 1,05%. O IGP-M e o IGP-Di (que fecha hoje, dia 30) são índices híbridos, que colhem preços no atacado, no varejo e na construção.
Contribuíram para o índice negativo as quedas de 6,30% nos preços dos produtos agropecuários no atacado e de 3,35% nos bens industriais. O índice de preços ao consumidor subiu 4,08% e o índice Nacional da Construção Civil (INCC) teve alta de 6,10%. Pelas regras dos contratos de aluguéis atrelados à variação do IGP-M e do IGP-DI, as mensalidades deveriam cair no começo de 2026. Já houve renegociações negativas durante a pandemia da Covid.
Agora se apresenta um claro problema de descasamento entre custos de construção e correções das prestações de bens locados. O mercado de imóveis está passando, nas principais cidades brasileiras por uma onda de valorização de preços. A alta do INCC acentua o aquecimento de custos. Mas o que vale nos aluguéis em curso é o que está escrito nos contratos. Um grande descasamento que pode levar a um aumento na tentativa de retomada de imóveis. O inquilino deve procurar um bom advogado e fazer valer os contratos mesmo que o proprietário alegue a necessidade de uso para um parente.
Quedas dos IGPs seguram IPCA de 2026
O lado bom da queda dos índices de inflação no atacado (sobretudo alimentos, que ajudaram a reduzir a inflação oficial do IPCA) é que outros preços públicos que são atrelados ao IGP-M e IGP-DI, caso dos pedágios, poderão ter reajustes baixíssimos em 2026. O que ajuda a segurar a inflação ano que vem.
A consultoria 4Intelligence está projetando, com base em três cenários, uma taxa final de 3,5% a 3,6% para o IPCA de 2026. No cenário da última reunião do Copom (10 de dezembro), com o dólar em R$ 5,40 e a Selic seguindo a pesquisa semanal Focus de 12,50% para dezembro de 2026, o ano terminaria com inflação de 3,5%. No cenário da Focus de 26 de dezembro (câmbio de R$ 5,50 e Selic de 12,25%) o IPCA fecha 2026 em 3,6%. Por fim, no cenário da própria consultoria (R$ 5,50 para o câmbio e Selic em 15%), o IPCA ficaria em 3,5%. Na última Focus, o mercado previu IPCA de 4,05% para 2026.
Juros e INSS estouram contas públicas
O ano vai fechando com o índice de desemprego na PNAD Contínua de setembro-outubro e novembro de 5,2%. É o menor índice da série iniciada pelo IBGE em 2012. A taxa mostra redução de 0,9 ponto percentual frente aos 6,1% do final de 2024. As maiores taxas de desemprego ocorreram na pandemia (14,9% de julho-agosto e setembro de 2020 e 14,9% de janeiro-fevereiro e março de 2021). O final do governo Bolsonaro terminou com índice de desocupação de 8,6% (na PNAD de dezembro-janeiro e fevereiro de 2023
Com o mercado de trabalho aquecido e a inflação declinante (em parte pelo efeito dos altos juros da Selic sobre o câmbio), o Banco Central pode adiar de 28 de janeiro para 18 de março a primeira redução da Selic (15%), esperando o impacto da isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil no consumo. Assim, as contas fiscais do setor público seguirão ruins em dois grandes focos: os juros da dívida e o rombo do INSS, que realimentam os gastos com juros de novas dívidas.
O Banco Central divulgou hoje, dia 30, os resultados primários (receitas menos despesas, sem contar os juros da dívida) de novembro. Diante da pressão do Congresso para gastos do Orçamento e do empenho por verbas de 2025, houve um salto no rombo mensal primário para R$ 14,420 bilhões, depois de superávit de R$ 32,392 bilhões em outubro. Ou seja, uma enxurrada de R$ 46,812 bilhões de outubro para novembro. O rombo do INSS aumentou de R$ 20,721 bilhões para R$ 21,286 bilhões.
O rombo é das estatais?
A imprensa tem feito (por pressão dos economistas ligados ao mercado financeiro) críticas centradas aos déficits das estatais, em especial aos Correios, cujo modelo de negócios, que já era obsoleto (as cartas sumiram com os e-mails e os aplicativos; os bancos e operadoras não enviam mais boletos, extratos e talões de cheque via correio), perdeu mais receitas desde a taxação das blusinhas (as entregas no remoto interior eram feitas via Correios).
Agora, tardiamente (as providências deveriam ter sido tomadas no começo de 2024), fala-se em fechar mais de mil das 5 mil agências da ECT. O país tem 5.570 municípios. Destes, mais de 70% têm entre 10 mil e 20 mil habitantes. Minas Gerais lidera com 853 municípios. Tem sentido manter agências em municípios com menos de 5 mil habitantes? Uma ida de moto pode garantir a cobertura em vários municípios vizinhos de MG, Bahia. Ceará, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, por exemplo. Custa crer por que tanta demora.
Outras duas grandes fontes de rombo são as usinas nucleares e a rede de hospitais federais (que não serão privatizados por razões sociais e de Estado)
O peso dos juros
Entretanto, quando se analisam as contas públicas omite-se o rombo do INSS e, principalmente, a montanha de juros transferida pelo Tesouro Nacional aos rentistas, fundos de investimento e instituições financeiras. Em novembro, os gastos mensais de R$ 87,217 bilhões (em outubro foram R$ 113,914 bilhões, porque o Banco Central teve gastos de R$ 19,982 bilhões). De janeiro a novembro, os juros somaram R$ 885,800 bilhões e em 12 meses atingiram R$ 981,917 bilhões, enquanto o rombo do INSS acumulou R$ 317,864 bilhões.
Segundo o BC, cada um ponto de aumento na Selic (atualmente em 15% ao ano) onera o TN em R$ 61,4 bilhões ao fim de 12 meses.
A dívida bruta do governo geral (conceito do FMI) chegou a R$ 11.678,721 bilhões; pelo conceito do BC, era de R$ 9.990,926 bilhões; e a dívida liquida do setor público (deduzindo os títulos na carteira de “open market” do BC) ficou em R$ 8.247,894 bilhões. No mês de novembro a dívida liquida cresceu R$ 104,671 bilhões, sendo R$ 87,217 bilhões referentes a juros, que concentram a renda dos 10% mais ricos e do sistema financeiro.