O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Alerta nas contas externas

Publicado em 19/12/2025 às 14:56

Alterado em 19/12/2025 às 14:56

Quando era ministro da Fazenda (1974-1979), na primeira crise do petróleo que dobrou a inflação no mundo e fragilizou as contas externas, Mário Henrique Simonsen cunhou uma frase lapidar: “A inflação aleija; o balanço de pagamentos mata”. Com o artifício da correção monetária, o impacto da inflação era amortecido (embora realimentado); já as contas externas, deficitárias num momento em que as exportações brasileiras eram pouco diversificadas e o café ainda era a maior fonte de divisas, podiam asfixiar o país (como veio a ocorrer em 1982, quando o Brasil quebrou e foi ao FMI, no governo do último ditador brasileiro, o general João Figueiredo, com Delfim Neto, sucessor de Simonsen, em agosto de 1979, como o czar da economia).

Lembro este fato, porque uma corrente liberal do mercado costuma dizer que “a esquerda quebrou o Brasil”. Os fatos desmentem. Quem quebrou o Brasil, em 1982, foi a direita, no regime militar, com Delfim. Outras idas ao FMI foram no governo de FHC (do PSDB, de centro-esquerda, já na redemocratização). O Banco Central divulgou nesta sexta-feira os resultados das contas externas em novembro. As reservas cambiais do país estavam em US$ 360,6 bilhões. Nos governos Geisel (1974-1979) e Figueiredo (1979-1985) ocorreram os efeitos do primeiro (setembro de 1973) e segundo choque do petróleo (dezembro de 1979). As reservas se exauriram e o Brasil perdeu acesso ao crédito para comprar petróleo e produtos essenciais em pauta de importações bem restrita.

Hoje, as importações não enfrentam restrições (apenas tarifas de importação protegendo alguns setores) e as exportações superam largamente as compras. Em novembro, foram exportados US$ 28,672 bilhões, aumento de 2,3%, contra US$ 23,553 bilhões de importações de bens, que cresceram 7,1%, mas gerando saldo comercial de US$ 5,119 bilhões.

Entretanto, se a balança comercial piorou nos primeiros 11 meses (exportações de US$ 319,897 bilhões contra importações de US$ 269,549 bilhões, em grande parte devido ao tarifaço, que encolheu o saldo comercial de US$ 61,720 bilhões, no mesmo período de 2024, para US$ 50,348 bilhões, as demais contas do balanço de pagamentos em conta corrente (balança comercial + serviços e rendas de capitais) mostraram sinais de alerta.

As despesas liquidas em serviços tiveram pequena queda de US$ 50,211 bilhões em 2024 para US$ 49,163 bilhões. Mas pioraram as despesas com Viagens, com o déficit subindo de US$ 11,353 bilhões para US$ 12,683 bilhões; com Serviços de Propriedade Intelectual (US$ 7,830 bilhões para US$ 10,096 bilhões); com Telecomunicações, Computação e Informações (US$ 6,882 bilhões para US$ 7,976 bilhões). Aluguel de Equipamentos (Petrobras lidera a área) aumentou de US$ 10,065 bilhões para US$ 10,923 bilhões. Transportes tiveram ligeira queda (compatível com a retração do volume de comércio), de US$ 13,686 bilhões para US$ 13,362 bilhões.

Com a ligeira baixa dos juros internacionais, as contas financeiras tiveram pequena redução dos montantes remetidos ao exterior, de US$ 65,263 bilhões para US$ 64,252 bilhões. Com tudo isso, o déficit em Transações correntes saltou de US$ 55,932 bilhões nos primeiros 11 meses de 2024 para US$ 67,496 bilhões em novembro de 2025. E os déficits acumulados em 12 meses pioraram, atingindo US$ 77,7 bilhões (3,47% do PIB), ante US$ 77,2 bilhões (3,49% do PIB) em outubro e US$ 61,5 bilhões (2,78% do PIB) em novembro de 2024.

Mas o investimento direto no país (IDP) mostrou força pelo terceiro mês seguido, somando ingressos líquidos de US$ 9,8 bilhões em novembro de 2025, (US$ 10,9 bilhões em outubro e US$ 5,7 bilhões em novembro de 2024). Os ingressos líquidos em participação no capital somaram US$ 7,3 bilhões, sendo US$ 3,5 bilhões em participação no capital exceto lucros reinvestidos, e US$ 3,9 bilhões em lucros reinvestidos. As operações intercompanhia somaram ingressos líquidos de US$ 2,5 bilhões. O IDP acumulado em 12 meses totalizou US$ 84,3 bilhões (3,76% do PIB) no mês, ante US$ 80,2 bilhões (3,62% do PIB) em outubro e US$ 71,9 bilhões (3,25% do PIB) em novembro de 2024.

O aumento do fluxo mostra que o alto diferencial de juros trabalhado pelo Banco Central, ao manter a Selic em 15% ao ano, enquanto os Estados Unidos, países europeus, Japão e nações emergentes reduzem os juros, está atraindo capitais para bancar as despesas com remessas de lucros e dividendos que crescem no fim do ano. Do lado do comércio exterior, os dados de novembro e início de dezembro mostram as exportações mantendo força em US$ 1,5 bilhão por dia útil, lideradas por petróleo, soja, milho e carnes, enquanto as importações recuam a US$ 1,1 bilhão por dia no início do mês. Essa melhoria da balança comercial é importante para bancar as crescentes despesas com remessas de lucros e dividendos. Já o ingresso mais robusto de IDP cobre o déficit em Contas Correntes.


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