O OUTRO LADO DA MOEDA
IPCA desce a 4,46% e juro real sobe a 10%
Publicado em 10/12/2025 às 14:39
Alterado em 10/12/2025 às 14:39
Sede do Federal Reserve: corte de juros Foto: reprodução
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Na quarta-feira dupla para o destino da política monetária nos Estados Unidos e no Brasil, o Comitê de Política Monetária do Banco Central ganhou presente espinhoso, com a divulgação pelo IBGE de uma alta de apenas 0,18% no IPCA de novembro. Embora tenha sido o dobro dos 0,09% de outubro, ficou abaixo dos 0,20% esperados pelo mercado. O mais importante é que a taxa acumulada em 12 meses, de 4,46% está dentro do teto da meta: 4,50%.
O mercado espera que o Federal Reserve Bank anuncie por volta das 15 horas o corte o piso dos juros nos Estados Unidos em 0,25% para 3,75% ao ano. Com isso, como a Selic está em 15% no Brasil, o diferencial de juros entre os dois países sobe para 11,25%, o que estimula o ingresso de dólares no país para especulação financeira. Mas a queda da inflação em 12 meses gerou outro incômodo para o Copom: o juro real, descontada a inflação aumentou para 10%. A taxa escandalosa amplia os ganhos dos rentistas e especuladores. E devedores contumazes, com cerco da Receita devido à nova legislação.
Estudos divulgados esta semana, pelo Banco Mundial e pelo economista francês Thomas Pikety, mostraram que nos últimos 30 anos a renda dos 10% mais ricos cresceu exponencialmente, o que lhes garantiu 75% da renda global. Já os 50% mais pobres, ficaram com 2% da renda. No Brasil, o Congresso aprovou, com grande resistência, a reforma tributária para simplificar a malha de tributos, a partir de 2027, e reduzir o peso relativo dos impostos sobre o consumo sobre a classe média e os pobres. Porém, o mesmo Congresso resistiu a aumentar a tributação sobre o patrimônio e as aplicações financeiras, o que completaria o conceito de justiça tributária no país.
Especulação gerou mais inflação
A radiografia dos fatores de inflação de novembro revelou os mesmos vilões de sempre: os preços de bens e serviços corrigidos pela inflação passada, casos dos planos de saúde, (+0,50% em novembro, alta de 5,90% até novembro e de 6,50% em 12 meses), dos aluguéis residenciais (+5,70%), da variação dos cursos regulares (0% em novembro e +6,54% no ano), os produtos farmacêuticos (+0,24% no mês e 5,02% até novembro) e ainda as despesas com empregado doméstico (+0,49% no mês e 4,86% no ano).
Mas a variação do INPC em 4,18% nos últimos 12 meses, associada à desaceleração da economia vai limitar o reajuste do salário-mínimo em 2026 a R$ 1.621, um aumento de R$ 103,00 ou 6,785% sobre o atual, de R$ 1.518. Isto porque houve limitação, imposta pelo Arcabouço Fiscal, à incorporação da variação do PIB de dois anos antes (2024, que foi de 3,4% a um teto de 2,5%) para amenizar as despesas com aposentados, pensionistas e o BPC.
Enquanto os apertos recaem sobre os programas sociais, um evento como a COP-30, em Belém, mostrou a face perversa da especulação. Os principais fatores de alta em novembro tiveram influência da Conferência do Clima no Pará: as passagens aéreas subiram 11,90% no mês passado, com os preços do querosene de aviação em baixa (no ano os bilhetes caem 4,22%, por isso); já os custos de hospedagem subiram de 0,51% em outubro para 4,09% em novembro sob o impacto da especulação com vagas em Belém. Os pacotes turísticos aumentaram 3,86% e os serviços de aplicativos encareceram 5,02%.
Gasolina compensa energia elétrica
A energia elétrica residencial continuou liderando as altas de preços, com 1,27% em novembro e 15,08% no ano. Mas a gasolina (o item de maior peso entre os 377 pesquisados pelo IBGE no IPCA) ajudou a conter o impacto da conta de luz, com queda de 0,42% no mês e alta acumulada de 1,67% no ano. E ajudou a reduzir a inflação com mais eficácia que a escalada dos juros (que conteve o dólar).
O outo fator foi a sexta queda seguida na Alimentação em domicílio (-0,20), que acumula variação bem menor que 6,46% da alimentação fora de casa. O Lanche subiu 9,71% no ano e a refeição, 4,73%. O item Alimentos e Bebidas caiu 0,01% em novembro e subiu apenas 2,67% no ano, abaixo dos 3,92% da inflação. Em novembro houve baixas do tomate (-10,38%), do leite longa vida (-4,98% e baixa de 6,89% no ano) e do arroz (-2,86%, com queda de 25,03% no ano). E o café teve nova queda (-1.36%, mas ainda sobe 36% no ano). Em sentido contrário, algumas altas preocupam, como o aumento de 1,05% das carnes, mas ainda com queda de 0,26% no ano, e a nova alta de 2,95% do óleo de soja, que tem alta de 2,89% no ano.
Itaú prevê queda da Selic em janeiro
Isto posto, o Itaú acredita que a sinalização do Copom no comunicado após a reunião que manteria a Selic em 15%, “deve permanecer flexível, sem compromisso explícito com o início do ciclo de cortes, mas reconhecendo que ajustes poderão ser feitos conforme o cenário evolua”.
O banco mantém nossa expectativa de início do ciclo de cortes em janeiro de 2026, com redução de 0,25 p.p., levando a Selic para 12,75% a.a. ao longo do ano. “O risco de postergação do início do ciclo de cortes ainda está presente: uma surpresa positiva na atividade ou no mercado de trabalho, ou uma taxa de câmbio mais depreciada, podem adiar o início da flexibilização monetária”.