O OUTRO LADO DA MOEDA
A carne é o fraco na inflação de Trump
Publicado em 05/12/2025 às 15:43
Alterado em 05/12/2025 às 15:43
A medida preferida do Federal Reserve para a inflação acumulada em 122 meses se manteve abaixo de 3% em setembro e indicou um aumento moderado mês a mês nos preços, improvável de impedir a consideração de um novo corte de juros de 0,25% na reunião do Federal Reserve Bank, dia 10, disse o “Wall Street Journal”.
Os preços ao consumidor, medidos pelo índice de preços de despesas de consumo pessoal, aumentaram 0,3% em setembro, informou o Departamento de Comércio nesta sexta-feira, em um relatório que foi adiado por mais de um mês devido à recente paralisação do governo. Isso resultou em um leve aumento na taxa de inflação PCE de 12 meses para 2,8%, ante 2,7% em agosto. A taxa subjacente, que exclui os preços voláteis de alimentos e energia, caiu para 2,8%, ante 2,9% em agosto.
Um dos principais fatores de alta do custo de vida para os americanos foi a carne. O preço da carne atingiu o equivalente a R$ 150 por libra, com aumento de 2,2% em setembro e de 9% nos últimos seis meses. Os tarifaços aplicados ao México e ao Brasil (o 2º e o 1º fornecedor de carne aos Estados Unidos, explicam boa parte da disparada da inflação, que não mostra sinais de recuo nas negociações dos contratos de Boi Gordo e Novilho nas bolsas dos EUA.
O contrato do Boi Gordo para entrega em dezembro registra alta diária de 1% e sobe 3,76% na semana. Mas cai 1,43% em 30 dias e acumula alta de 19,64% em 12 meses. Já o contrato de Novilho para entrega em janeiro de 2026, sobe 4,25% na semana, 6,13% em 30 dias e acumula alta de 33,95% em um ano. A solução para a queda do preço da carne está no fim das tarifas alfandegárias de 40% à carne brasileira, essencial à preparação dos hamburguers.
Duplo fiasco do tarifaço
O fato é que o tarifaço de Trump, anunciado com pompa em abril, como o “Dia da Libertação” (“Liberation Day”), mesmo com tantas idas e vindas e recuos das ameaças a países concorrentes, se revelou um duplo fracasso: econômico e político. O site do jornal “The New York Times” exibe um gráfico na capa que mostra Trump com 52% de aprovação em fevereiro (tomou posse em 20 de janeiro) e 44% de desaprovação (quase o resultado da eleição de novembro).
Um ano depois, em pesquisa realizada no final de novembro, os números se inverteram. A aprovação encolheu de 52% para 42% (menos dez pontos) e a desaprovação saltou de 44% para 55%, ou seja, um aumento de 11 pontos.
Apontado pela família Bolsonaro, que tentou “vender” o governo Lula como uma ditadura que travava uma perseguição tipo “caça às bruxas” ao ex-presidente Jair Bolsonaro, julgado com amplo direito de defesa na Suprema Corte, o Brasil chegou a ser tratado como uma nação inimiga (com o Departamento de Estado ignorando 201 anos de amplas relações diplomáticas).
Aos poucos, Trump viu que tinha embarcado numa canoa furada e, por pressão dos empresários dos dois países, aproximou-se de Lula na ONU, em setembro, e desde então, foram restabelecendo tratativas e reduções de tarifas. Que ainda estão altas na carne e no café, dois itens que pesam muito na mesa dos americanos.
O contrato futuro do Café para entrega em março na Nymex, tem queda diária de 1,27%, de 1,46% na semana e de 9,34% em um mês, embora ainda suba 18,9% em 12 meses. O movimento do mercado, com queda de mais de 4% em todos os vencimentos de março em diante indicam a expectativa de retirada das tarifas. Ou seja, o Brasil longe de ser problema, é solução para os EUA.