O OUTRO LADO DA MOEDA
Focus põe IPCA abaixo do teto
Publicado em 01/12/2025 às 14:31
Alterado em 01/12/2025 às 14:31
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Na última Pesquisa Focus colhida pelo Banco Central até 28 de novembro e divulgada nesta segunda-feira, o mercado voltou a reduzir a previsão do IPCA, que baixou de 4,45% para 4,43% (e a 4,42% na mediana das respostas dos últimos cinco dias úteis). Ou seja, a inflação está prevista para ficar dentro do teto da meta (3,00+ tolerância de 1,50%=4,50%). Isso ocorre porque o mercado espera alta de 0,21% a 0,20% na inflação de novembro e de 0,47% a 0,46% em dezembro, que tiveram aumentos de 0,39% e 0,52% em 2024.
Para 2026, o mercado também reduziu as projeções, de 4,18% para 4,12% (últimos cinco dias) e cravou que a taxa Selic, atualmente em 15% ao ano, vai se reduzir para 12% em dezembro. O mercado manteve a variação do PIB em 2,16% este ano (2,14% nas respostas dos últimos cinco dias).
Mercado vê PIB de 0,2% a 0,3% no 3º tri
Na próxima quinta-feira, 4 de dezembro, o IBGE divulga o resultado do Produto Interno Bruto do terceiro trimestre. As expectativas são de que o período apresentará a maior desaceleração. O Itaú e a consultoria 4Intelligence preveem variação positiva de 0,25 no trimestre e de 1,7% em 12 meses. Mas o Bradesco está mais otimista e prevê 0,3% no trimestre (no ano, 2,0%).
A elevação das taxas de juros está travando o desempenho da economia. Os setores que não dependem tanto das taxas do crediário, como os de mineração e petróleo e as exportações, podem segurar a economia, mas os juros altos projetam desaceleração maior em 2026, com a Focus prevendo 1,78%.
Juros altos afetam o crédito e “dada a relativa resiliência da economia, há um debate contínuo sobre a eficácia da política monetária”, os economistas Marcelo Gazzano e Rafael Murrer, do Departamento de Pesquisas Macroeconômicas do Bradesco, “consideram que “os investimentos tendem a ser mais impactados do que o consumo doméstico durante períodos de aperto monetário, sendo o canal de crédito um dos mecanismos mais significativos para a transmissão da política monetária. Nos últimos anos, houve um crescimento notável na participação de títulos incentivados. Em especial as debêntures incentivadas.
Segundo eles, “quando uma empresa enfrenta decisões sobre investimentos, gestão de fluxo de caixa ou projetos de expansão, deve determinar a melhor forma de garantir financiamento para implementar seus planos. Fontes potenciais incluem recursos internos — como lucros retidos — crédito bancário, mercados de capitais por meio da emissão de ações, títulos para investidores ou financiamento internacional por meio de empréstimos interempresas ou emissão de dívida externa.
De acordo com dados compilados pela Fipe, as empresas brasileiras aumentaram significativamente o uso dos mercados de capitais como fonte de financiamento. Entre 2014 e 2015, esse método representou cerca de 10% das responsabilidades financeiras de corporações não financeiras; atualmente, a porcentagem ultrapassa 25%.
Por outro lado, o crédito bancário e o financiamento do BNDES perderam terreno na última década: o primeiro caiu de 27% em 2014 para 23% este ano, enquanto o BNDES teve uma queda mais acentuada, caindo de cerca de 20% para 6,5%. Outros créditos bancários direcionados também perderam participação até 2019, mas desde então se recuperaram para aproximadamente 7,5%.
O saldo total das obrigações em debêntures cresceu quase 60% entre 2018 e 2025, atingindo R$ 1,3 trilhão. Durante esse período, houve uma expansão significativa das chamadas obrigações incentivadas¹ — instrumentos financeiros que oferecem benefícios fiscais (como isenções ou reduções) para incentivar investimentos em setores considerados estratégicos para o desenvolvimento econômico e social. O estoque dessas obrigações subiu de R$ 75 bilhões em 2018 para R$ 414 bilhões atualmente, representando aproximadamente 31% do total dos títulos do mercado.
Atualmente, o estoque de créditos bancários soma aproximadamente R$ 2,8 trilhões, enquanto as emissões anuais totais de debêntures se aproximam de R$ 500 bilhões — sendo cerca de R$ 160 bilhões relacionados às obrigações incentivadas. Em termos de fluxo anual, essas emissões são pequenas; No entanto, como os horizontes de tempo no mercado de capitais são mais longos, esses títulos têm ganhado terreno gradualmente.
"Em setembro deste ano, o estoque total de crédito corporativo ascendia a R$ 2,6 trilhões (R$ 1,6 trilhão em crédito gratuito e R$ 1 trilhão em crédito dirigido). Assim, o mercado atual de debêntures incentivadas representa pouco mais de 10% do crédito bancário combinado com as obrigações não incentivadas. Vale ressaltar que, em 2015, o financiamento do BNDES representou cerca de metade do total das operações durante esse período. Dado o tamanho atual desse mercado — combinado com o fato de que essas obrigações também respondem à taxa de juros de referência (ainda que de forma menos intensa) — entendemos que seu impacto no funcionamento da política monetária é atualmente limitado", dizem ambos..
Mas oscilações bruscas da Selic afetam o mercado.