O OUTRO LADO DA MOEDA
Itaú prevê corte da Selic em janeiro
Publicado em 13/11/2025 às 16:12
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Depois da boa surpresa da inflação de 0,09% em outubro, a diretoria de Pesquisa Macroeconômica do Itaú, apresentou nesta quinta-feira, a revisão do cenário para 2025 e 2026, com aumento na projeção do PIB do ano que vem, de 1,5% para 1,7%, face às medidas de estímulo à economia no ano eleitoral. A principal novidade é que, com o IPCA deste ano reduzido de 4,6% para 4,5% (dentro do teto da meta) e o de 2026 baixando de 4,3% para 4,2%, o banco está prevendo a primeira baixa da Selic, hoje em 15%, em 0,25% na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em 28 de janeiro e taxa de 12,75% em dezembro. O Bradesco está prevendo IPCA de 3,8% e Selic de 12,00%.
Cenários econômicos são como nuvens: mudam de uma hora para outra ao sabor dos ventos. Em fevereiro deste ano, o Itaú previa que o dólar fecharia o ano em R$ 5,90, nível que se repetiria em 2026. Com isso, o IPCA fecharia este ano em 5,8% e a Selic, que estava em 13,25% em fevereiro, fecharia o primeiro semestre em 15,75%, com quatro aumentos de 0,50%.
Pois agora, com o título de “Preparando o terreno para o corte Real: apreciação limitada à frente” para a revisão do cenário, o Itaú justifica o afrouxamento da política monetária e a própria revisão do seu cenário que prevê a taxa de câmbio em R$/US$ 5,35 para 2025 e em R$/US$ 5,50 para 2026, devido ao “enfraquecimento do dólar” este ano, mas com “menor convicção sobre a perspectiva de enfraquecimento do dólar além dos patamares atuais”.
Os passos do Copom
“O Copom parece estar ganhando confiança de que a estratégia atual de política monetária (de manter a Selic em 15% por período prolongado) está funcionando. Há sinais de moderação na atividade econômica, queda da inflação corrente e das expectativas de inflação, além do recuo da projeção de inflação para o horizonte relevante. Mantemos a projeção de início do ciclo de flexibilização em janeiro do ano que vem, levando a taxa Selic para 12,75% a.a. em 2026”.
A marcha da inflação
“Revisamos nossa projeção de inflação para 4,5% (de 4,6%) em 2025 e para 4,2% (de 4,3%) em 2026. O balanço de riscos para 2025 é simétrico, com a chance de menor pressão em alimentos compensando o possível acionamento da bandeira de energia amarela no fim do ano”.
“Para 2026, o viés é levemente baixista, refletindo a queda dos IGPs, estoques elevados e a possível redução nos preços do petróleo. Por outro lado, o mercado de trabalho permanece como o principal fator de risco altista para a inflação, em especial de serviços”.
PIB e desemprego
“Mantivemos a projeção de crescimento do PIB em 2,2% para 2025, à luz de indicadores que confirmam a desaceleração da atividade na segunda metade do ano. Para 2026, revisamos o PIB para 1,7% (de 1,5%), incorporando o impacto das medidas fiscais e creditícias anunciadas nos últimos meses. O balanço de riscos segue com viés de alta, diante da possibilidade de novas medidas contracíclicas”. A isenção do IR para quem ganhar até R$ 5 mil em 2026, com aumento do poder de compra, pode impulsionar o PIB em 0,3 pontos percentuais, calcula o Itaú.
“No mercado de trabalho, os dados recentes apontam resiliência com sinais incipientes de arrefecimento, em linha com a expectativa de leve aumento da taxa de desemprego, que deve encerrar 2025 em 6,2%. Para 2026, considerando a revisão altista do crescimento, ajustamos a projeção de desemprego para 6,4% (de 6,5%)”.
O cenário das contas externas
“Por sua vez, os fundamentos domésticos também limitam cenários mais benignos. Entre estes, não contemplamos redução do prêmio de risco, em contexto de estreitamento do diferencial de juros e de continuidade do desempenho ruim das contas externas”.
“Revisamos nossa projeção para déficit em conta corrente (balança comercial + balança de serviços e rendas de capitais) de US$ 78 bilhões em 2025 (de US$ 75 bilhões) e mantivemos a nossa projeção de US$ 77 bilhões em 2026. A piora na projeção de curto prazo reflete as maiores remessas de Lucros e Dividendos na margem. Para o ano que vem, a revisão negativa no déficit da conta de rendas foi compensada por uma revisão positiva no saldo comercial, puxado por aumento de exportações”.
“Revisamos a projeção de superávit comercial para US$ 65 bilhões (de US$ 58 bilhões) em 2026. Essa revisão positiva decorre da retirada do esperado impacto negativo das tarifas sobre as exportações, efeito que havia sido incorporado na projeção no momento do anúncio, mas que até agora não se materializou.”
Fiscal: desafios com regras mais frágeis
“Mantivemos nossas projeções de resultado primário em -0,6% e -0,8% do PIB em 2025 e 2026, respectivamente. No ano corrente, apesar de desaceleração da arrecadação e aumento do ritmo de execução das despesas, continuamos a ver o governo próximo de cumprir o limite inferior da meta de -0,6% do PIB (considerando abatimentos e a banda inferior da meta oficial de 0%)”. Em fevereiro, o Itaú previa déficit de 0,7% do PIB em 2025 e em 2027
Para 2026, o Itaú segue “enxergando um desafio de 0,4% do PIB para cumprimento do limite inferior da meta, com queda de receita conjuntural sendo compensada pelos efeitos da limitação de compensações tributárias. O principal risco fiscal à frente é a adoção de medidas que enfraqueçam, direta ou indiretamente, as restrições impostas pelo atual arcabouço fiscal bem como que reduzam sua transparência”.
“Em um país com dívida pública elevada e em trajetória ascendente, a credibilidade da política fiscal depende de regras abrangentes, previsíveis e impositivas, de modo a ancorar expectativas”, alerta o Itaú. “Nesse contexto, observamos com preocupação o montante elevado e crescente das exceções ao limite de despesas, mesmo diante de um regime que já permite expansão significativa do gasto primário”, assinala o cenário.
Varejo cresce 0,2%
Em setembro, as vendas no varejo ampliado cresceram 0,2% no comparativo mensal com ajuste sazonal (+1,1% a/a). As vendas no varejo restrito caíram 0,3% no comparativo mensal com ajuste sazonal (+0,8% a/a). Entre os 10 setores, o destaque positivo no mês foi "Artigos farmacêuticos" (+1,3% no mês), enquanto o negativo foi "Veículos e autopeças" (-0,8% no mês). No trimestre, o varejo restrito caiu 0,4%, enquanto o varejo ampliado subiu 0,2%.
Com o dado de hoje, o Bradesco considera que “o carrego estatístico para o 4º trimestre ficou em -0,1% (índice restrito) e 0,4% (índice ampliado). Para o banco, as vendas do varejo ampliado ficaram abaixo das expectativas. Na abertura dos dados, “Supermercados” e “Combustíveis e Lubrificantes” apresentaram desempenho abaixo do esperado, parcialmente compensadas pelo resultado mais forte em “Atacado Especializado em Alimentos”.
Em setembro, tanto as categorias sensíveis ao crédito quanto as sensíveis à renda permaneceram relativamente estáveis. Os resultados mais fracos de vendas no varejo encerram o ciclo de dados do terceiro trimestre confirmando a desaceleração da atividade econômica.