O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

E a Selic?, com IPCA de 0,09% inflação está no teto

Publicado em 11/11/2025 às 16:52

Alterado em 11/11/2025 às 16:52

A surpresa da inflação de 0,09% em outubro, bem abaixo da mediana da projeção do mercado (0,15% na Focus, 0,17% para o Itaú e 0,12% para 4Intelligence) reduziu a inflação em 12 meses de 5,17% para 4,68%. No acumulado do ano ficou em 3,73%. Mantidas as medianas das projeções da Pesquisa Focus (0,22% em novembro e 0,50% em dezembro) o IPCA fecharia o ano em 4,48% (dentro do teto da meta de 4,50%), porque o IPCA subiu 0,39% em novembro e 0,52% em dezembro de 2024.

Na hipótese de estarem certas as medianas das respostas dos últimos cinco dias úteis (0,25% em novembro e 0,47% em dezembro) o IPCA também fecharia o ano dentro do teto de 4,48%. Ao analisar o resultado, o Bradesco, que já previa o IPCA fechando o ano em 4,50% diz que “o dado consolida a visão de que a inflação deve encerrar o ano próxima, ou até um pouco abaixo, de 4,5%, no limite superior da meta”.

O Itaú, que era dos pessimistas, depois de indicar que, na média móvel de três meses, com dados dessazonalizados e anualizados, os serviços subjacentes desaceleraram de 4,7% para 4,3% e o núcleo de industriais subjacentes caiu de 3,3% para 2,6% e a média dos núcleos recuou de 4,3% para 3,9%, considerando ainda que “o IPCA de outubro manteve composição qualitativa benigna, com baixa nos produtos industriais subjacentes, refletindo, em parte, a queda dos índices gerais de preços (IGPs) e, possivelmente, alguma antecipação da Black Friday, diz que o IPCA “traz viés de baixa para nossa projeção do ano”, que era de 4,7%.

O que fazer com os juros?
A baixa da inflação deve aquecer o debate sobre quando o Comitê de Política Monetária do Banco Central irá iniciar a baixa dos juros da taxa Selic. Mantida em 15%, com a inflação em 4,68% em 12 meses, o descompasso entre a inflação declinante e a Selic constante elevou o juro real de 9,35% para 9,86%. Se o Copom não baixar os a Selic em dezembro o juro real fecha o ano em 10% vírgula qualquer coisa.

O pior é que pode aumentar os ganhos dos “turistas” internacionais, grandes fundos e brasileiros em paraísos fiscais que especulam com o diferencial de juros entre o Brasil e os Estados Unidos, que podem baixar o piso em dezembro dos atuais 4,00% para 3,75%, criando “spread” de 11,25%.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o governo Lula, em coro com o setor produtivo, gostariam que já fosse na reunião de 10 de dezembro. O mercado, que se dividia entre a reunião de 28 de janeiro e 18 de março (a maioria), agora já trabalha, como o Itaú, com a hipótese de ser em janeiro.

O engraçado é que o Copom, segundo o Banco Central, toma “decisão com base em dados, não em datas”. A ata do Copom, em seus 21 itens divulgados hoje, repisa os mesmos conceitos de sempre das incertezas no cenário internacional e no doméstico ainda com desancoragem das expectativas.

Mas o Itaú, que compara os diversos comunicados viu ênfase na discussão sobre o impacto da isenção do IR para quem ganha acima de R$ 5 mil em 2026 como um ponto de análise do Copom. Neste caso, pesando os prós e os contras, o Itaú espera que o Comitê inicie a baixa de juros em 28 de janeiro.

Energia alivia IPCA no mês, mas lidera no ano
Em outubro, apesar do fim do impacto do bônus de Itaipu, que reduzira as tarifas em agosto e setembro, a variação negativa de 2,39% registrada na energia elétrica residencial, causou queda de 0,30% no grupo Habitação e gerou o maior impacto negativo no IPCA de outubro, com -0,10 p.p. Também caíram Artigos de residência (-0,34%) e Comunicação (-0,16%). Depois de quatro meses em baixa, Alimentação e bebidas variou 0,01% e os demais grupos subiram até 0,51%, caso do Vestuário.

O IPCA, que mede as despesas das famílias com renda até 40 salários-mínimos (R$ 60.720), tem a maior alta em 12 meses em Vitória (ES), com 5,19%, seguido de São Paulo e Aracaju, ambas com 5,17%. Já o INPC, que mede as despesas das famílias com renda até cinco salários-mínimos (R$ 7.590) subiu 0,03% em outubro, 3,65% no ano e 4,49% em 12 meses, já dentro do teto da inflação. O INPC é usado para reajustar o salário-mínimo.

O IBGE fez um balanço parcial dos produtos e serviços que mais impactaram a inflação do IPCA nos primeiros 10 meses do ano e nos últimos 12 meses. A energia elétrica liderou o impacto com alta de 13,64% (em 12 meses apenas 3,11%). Alguns itens não entram com tanto peso nas despesas das famílias enquadradas no INPC (caso de empregado doméstico, passagens aéreas e conserto de automóvel)

Os 13 produtos que responderam por 53,63% (2,61%) da inflação acumulada de 4,68% em 12 meses até outubro são liderados em alta pelo café moído (37,88% no ano). As carnes, com queda de 1,295 nos preços de janeiro a outubro (-0,74% na alcatra, - 2,495 no contrafilé e -0,83 na picanha) ajudaram a segurar os preços do óleo de soja (+4,64% em outubro e 0,62% no ano). O arroz é o alimento com maior queda no ano (-22,88% e 23,32% em 12 meses). O trio, cebola, bata-inglesa e tomate, que costuma disparar para as festas de Natal e Ano Novo acumulam preços dispares no ano: enquanto a bata-inglesa (que subiu 8,56% em outubro, após baixa de 8,55% em setembro) ainda acumula baixa de 21,04% no ano, e a cebola recuou 10,19%, o tomate encareceu 21,55%.


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