O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Fed admite baixa dos juros e dólar cai

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Publicado em 22/08/2025 às 17:03

O presidente do Federal Reserve (Fed, banco central americano), Jerome Powell, durante coletiva de imprensa AFP/Eric Baradat

No começo de dois dias do Seminário de Jackson Hole, promovido pelo Federal Reserve Bank no Wyoming, o Banco Central americano a divisão dentro do “Federal Open Market Committee” (FOMC) para a reunião de 17 de setembro se resume a quanto baixar os juros. O presidente Jerome Powell disse no discurso de abertura que as mudanças na economia já recomendam baixa nos juros, que estão na faixa de 4,25% a 4,50%.

A dúvida é se a queda será de 0,25 ponto percentual ou de 0,50 p.p. De qualquer modo, o anúncio de Powell provocou forte desvalorização do dólar ante as principais moedas por volta das 11:30 (horário de Brasília). O euro subia 0,84%, a libra esterlina valorizava 0,77%, o dólar perdia 0,95% diante do iene e 0,73% diante do franco suíço e o dólar australiano valorizava 1%.

No Brasil, o real, com o possível aumento do diferencial de juros para mais de 11%, tinha forte valorização, com o dólar cotado a R$ 5,4270, uma alta de 0,80%. As expectativas sobre a reunião do Fed (coincidente com a reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central, que decide pouco mais de três horas depois, reforçam as especulações de que a baixa de juros no Brasil possa ser antecipada para novembro (5) ou dezembro (11) e não apenas no primeiro trimestre de 2026. A próxima pesquisa Focus vai indicar a tendência.

Mudanças no Fed

Segundo o “Wall Street Journal”, as autoridades do Federal Reserve estão se preparando para recuar discretamente de uma inovação política marcante revelada há cinco anos. Em 2020, as autoridades reformularam a abordagem para a fixação de taxas, concentrando-se nos riscos trazidos por juros próximos a zero e preços baixos (aplicado na pandemia da Covid).

Hoje, com o presidente do Fed, Jerome Powell, ameaçado de ter abreviado o seu mandato, que expira em maio de 2026, as autoridades se preparam para abandonar a abordagem, agora vista como irrelevante diante do problema oposto: uma inflação alta e mais volátil.

Causador da escalada da inflação, devido à alta de preços nos produtos importados com os tarifaços, o presidente Trump, com sua visão de homem de negócios no mercado imobiliário, insiste que o Fed reduza fortemente as taxas de juros. Para evitar mais desaceleração da economia. E criar ambiente que estimule a indústria americana a fazer os planos de expansão e modernização necessários a trazer de volta parte da produção manufatureira que as matrizes espalharam mundo afora na globalização. Com a troca de dois nomes no grupo de 12 membros do FOMC este ano, Trump quer apressar a guinada do Fed.

Mas o mesmo WSJ observa que “os ataques de Trump às instituições ameaçam um baluarte da força econômica”, o jornal considera que os esforços do presidente para controlar o Federal Reserve e o Bureau of Labor Statistics (o BLS, que levanta estatísticas sobre o mercado de trabalho e preços ao consumidor, que orientam os membros do Fed, teve seu diretor demitido por Trump depois de dados que apontavam contração na criação de vagas e maior inflação) “trazem riscos”. Mas, coletivamente, as medidas podem ser ainda mais prejudiciais, alertam os economistas.

Posições divididas

Beth Hammack, presidente do Federal Reserve Bank de Cleveland, afirmou que não apoiaria a redução das taxas de juros no momento ao citar que “inflação está elevada e dados que não justificam flexibilização monetária” Hammack não tem voto no FOMC neste ano e sua postura é considerada “hawk”. Ela reconheceu preocupações com o emprego, mas ressaltou que a taxa de desemprego continua próxima do nível de pleno emprego. E que mudanças na política migratória podem ter afetado simultaneamente a oferta e a demanda por trabalho. Por isso, defende a manutenção de uma política monetária moderadamente restritiva para trazer a inflação de volta à meta.

Outros dirigentes do Fed, como Raphael Bostic (Atlanta) e Jeffrey Schmid (Kansas City), também adotaram tom conservador e comentaram que os riscos inflacionários ainda superam os desafios no mercado de trabalho.

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