O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

A diferença do corte de 0,5% no Fed

Publicado em 13/08/2025 às 16:46

A inflação ao consumidor não subiu como o esperado em julho nos Estados Unidos (+0,2%, com taxa anual de 2,7%, estável), mas os indicadores de queda do emprego e da atividade levaram o secretário do Tesouro Scott Bessent a aumentar a pressão contra o presidente do Federal Reserve Bank, Jerome Powell, e defender uma baixa de meio ponto nos “fed funds” na reunião do Federal Open Market Committee – FOMC, dia 17 de setembro.

Os juros estão na faixa de 4,25% a 4,50% ao ano. Uma queda de meio ponto desvalorizaria o dólar e ajudaria a economia americana, já protegida nas importações, a se recuperar e se tornar mais competitiva nas exportações, mais acessíveis às outras moedas. O efeito Bessent fez o euro valorizar 0,41%, a libra esterlina subir 0,47% frente ao dólar que caía, depois do meio-dia (horário de Brasília), 0,42% frente ao iene e 0,38% perante o franco suíço.

O real, que ficaria com ganho de 11% no diferencial de juros (Selic a 15%) opera com ligeira valorização (+0,04%) ante o dólar, cotado a R$ 5,3870. Em uma semana o real valorizou 1,60%. Em um mês o dólar tem queda de 3%, que se amplia para 6,5% em seis meses. A rentabilidade anualizada do real chega a 14,7%. Nos últimos 12 meses a cotação do dólar caiu 1,58%.

Cacau e café sob ameaça

O refluxo das cotações do dólar ainda não foi transferido aos preços ao consumidor na maioria dos bens negociados no mercado internacional. O Banco JP Morgan fez um estudo especial sobre o cacau. Depois de atingir o recorde de US$ 12 mil por tonelada, as amêndoas de cacau enfrentaram uma retração de demanda na Europa, Ásia e Estados Unidos. Em julho os preços tinham recuado para US$ 8 mil por tonelada e as pesquisadoras do JP Morgan preveem que na virada de 2025 para 2026, os preços recuem 50% para US$ 6.000 por t. O tombo é maior.com o dólar em queda.

O que ocorreu com o cacau, igualmente vítima de condições climáticas adversas na África (seca na Nigéria, Gana Costa do Marfim) e na Ásia (seca na Indonésia e Malásia) e na América do Sul (estiagem na Colômbia, Brasíl e El Salvador), pode se repetir, em menor escala, com o café: com aa seca no Vietnã, 2º produtor do mundo, líder na produção do café robusta, os preços do café arábica (do qual o Brasil é o maior produtor e o 2º do robusta) dispararam.

O contrato tipo C (arábica), cotado a US$ 233 em junho de 2022, chegou a ser negociado a US$ 375 em fevereiro deste ano e tinha descido a US$ 319,90 hoje na Nymex. Por enquanto, o mercado está estressado porque os importadores americanos ainda não conseguiram convencer o governo Trump a dar status semelhante ao suco de laranja brasileiro, com tarifa geral de 10%..

Para quem gastou por conta do pico dos preços e pagou alto pela mão de obra da colheita, podem advir surpresas tão desagradáveis quanto aqueles que venderam a safra nos contratos futuros quando eles começaram a subir e depois quebraram ao não poder entregar as mercadorias com preços mais altos acima de 30% em dólar. O consumidor brasileiro espera a sua hora.

Itaú: gastos desaceleram em julho

O Idat (indicador de atividade do Itaú) registrou , em julho queda de 1,5% nas atividades ligadas a Serviços e de 1,6% nas atividades ligadas a bens (os gastos com supermercado, combustível, farmácia, vestuário, livros e papelaria, outros artigos de uso pessoal e doméstico) tiveram as maiores quedas. Os números são compatíveis com a desaceleração de 2,5% nas vendas do varejo ampliado (dependente do crédito) revelado hoje pelo IBGE. As vendas no varejo restrito contraíram 0,1% no comparativo mensal com ajuste sazonal (+0,3% a/a).

Para o Itaú, as vendas no varejo ampliado vieram abaixo das expectativas do mercado, com as vendas em supermercados, com desempenho abaixo do esperado, além dos segmentos de ‘atacarejo especializado em alimentos’ e ‘materiais de construção’, que também contribuíram para o resultado mais fraco do índice ampliado. Em junho, observamos uma queda mais acentuada nos itens sensíveis ao crédito, em linha com os dados do IDAT. Esses resultados reforçam a visão de desaceleração da atividade econômica no segundo trimestre de 2025. O varejo ampliado declinou 1,7% no 2º trimestre, pela contração dos setores sensíveis ao crédito.

Trump quer que Goldman demita economista

O Dia do Economista teve celebração diferente nos Estados Unidos. O presidente Trump está forçando o Goldman Sachs a demitir o economista que previu efeitos exagerados nas tarifas. É preciso ver com calma, pois o tarifaço se espaçou no tempo e em nível menor (exceto o Brasil).

Isso me lembra os tempos duros da ditadura, quando em pleno “milagre brasileiro”, o todo poderoso ministro da Fazenda e Planejamento, Antônio Delfim Netto afastava funcionários dos órgãos de coleta de preços e forçava os donos de jornais a demitir jornalistas com um mínimo de espírito crítico.

Aplauso ao ex-ministro do STF Celso de Mello

Ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello foi categórico ao analisar a pressão dos Estados Unidos contra autoridades brasileiras devido aos processos envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro. Para ele, a situação representa uma ruptura nos mais de 200 anos de relações diplomáticas entre EUA e Brasil. E é causada por um presidente americano “valentão”, (Donald Trump), e por “traidores da pátria”.

Ele classificou de “ultrajante” a atuação de brasileiros, notadamente de agentes públicos, em atuação no exterior ou mesmo no país, que vergonhosa e servilmente se curvam a um poder estrangeiro, como desprezíveis traidores da pátria, em detrimento dos superiores interesses nacionais, mediante ações lesivas que comprometem gravemente os símbolos majestosos da República e da democracia constitucional, na tentativa infame de transgredir, com violência ou grave ameaça, as bases luminosas do Estado Democrático de Direito!”

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