O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Descoberta da BP depende do CO2 no gás associado

Publicado em 04/08/2025 às 15:40

Alterado em 04/08/2025 às 15:41

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O ex-presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, um especialista em petróleo e energias alternativas considerou, na rede X, que o anúncio da descoberta da BP no prospecto Bumerangue, em águas profundas no pré-sal da Bacia de Santos [a empresa calcula que a área, situada a 404 km do litoral de São Paulo, tenha um “lago de petróleo de 300 km2, e teria sido sua maior descoberta em 25 anos’], “é um achado relevante, mas, ainda depende de uma variável crítica: o teor de CO2 no gás associado.

A descoberta provocou alta de 1,5% nas ações da BP na Bolsa de Nova Iorque e foi comemorada como a mais importante descoberta em 25 anos pelo vice-presidente executivo de Produção e Operações, Gordon Birrell, em comunicado. De fato, além da descoberta realçar as possibilidades ainda por explorar do pré-sal nas bordas mais distantes da Bacia de Santos (esta é uma das descobertas mais afastadas do litoral e supera a área do mar de 200 milhas (321,9 km, aproximadamente), ela veio em boa hora para a BP.

A companhia britânica está em processo de negociação de uma fusão com a anglo-holandesa Shell, justamente porque lhe faltavam reservas para garantir escala na produção. A Shell já passou por problema semelhante na década passada, quando teve de rever para baixo suas estimativas de reservas provadas de petróleo. E, no final do século passado, após o primeiro choque do petróleo (em 1973), Shell e BP tiveram um grande impulso (junto com a estatal de petróleo da Noruega (atual Equinor) quando tornou-se viável explorar os campos de petróleo no Mar do Norte, cujas reservas estão se esgotando.

Ameaçadas pelas restrições do Acordo do Clima (ignorado por Trump), as grandes petroleiras sabem que o mundo ainda precisará do petróleo nos próximos 20 a 30 anos e estão se fundindo para ter mais capacidade de explorar áreas mais complexas. A BP e a Shell estão presentes no pré-sal do Brasil e na exploração da costa da Guiana. Também sondam as possibilidades na Margem Equatorial, onde a Petrobras inicia pesquisas exploratórias, em alto mar, distante mais de 170 quilômetros do litoral do Amapá.

Para a BP, a descoberta eleva seu cacife na negociação na fusão, que agora esperará a medição dos teores de gás carbônico no gás associado ao óleo.

Antes do tarifaço, emprego recorde

Vejam por que os Bancos Centrais (do Brasil e do mundo) estão cautelosos em mexer na política monetária antes de terem dados mais confiáveis sobre o impacto dos tarifaços do governo Trump. Nos Estados Unidos, os dados ruins do emprego em junho desagradaram a Trump, que demitiu os responsáveis pelas estatísticas do emprego (aqui a cargo do IBGE).

Aqui, o Caged divulgou os resultados de junho, com a criação de 166.621 vagas acima das demissões. No primeiro semestre de 2025, foi registada a abertura líquida de 1.222.591 vagas. O desemprego foi o mais baixo da série, do IBGE, com 5,8% no trimestre encerrado em junho. Mas tudo pode virar de cabeça para baixo com a freada de arrumação provocado em vários setores pelo tarifaço, que provocam reação em cadeia nos segmentos de serviços envolvidos com os produtos atingidos.

Evangélicos nas ruas; palanques sem políticos

Motivos, até contraditórios, não faltaram para evangélicos e bolsonaristas serem atraídos às manifestações convocadas pelo PL, partido de Jair Bolsonaro, domingo nas principais cidades do país. A afluência de público até aumentou na Avenida Paulista (37 mil), o triplo das 12 mil presenças no final de julho, quando Bolsonaro estava presente, mas menor que os 45 mil de abril e um quinto dos 185 presentes em fevereiro de 2024. Os impactos negativos do tarifaço de Trump contra o Brasil determinaram cautela aos políticos.

O que mais chamou a atenção, em São Paulo, quando os bolsonaristas eram estimulados a reagir à tornozeleira no ex-presidente (proibido de circular nos fins de semana) e à aplicação da lei Magnitsky contra Alexandre de Moraes, foi a ausência de governadores e políticos de expressão na capital econômico-financeira do país. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), que, na primeira hora, saudou o ato de Donald Trump e recuou após sentir a reação do empresariado (a economia local foi a mais atingida) e da opinião pública, faltou, alegando ter “uma ultrassonografia de tireoide marcada para domingo”!

Desta vez, também os governadores Ratinho Jr (PDS-PR), Romeu Zema (Novo-MG) e Ronaldo Caiado (União-GO) não subiram no palanque. O evento foi animado pelo pastor Silas Malafaia (da Assembleia de Deus Vitória em Cristo) que, do carro de som, chamou as justificativas de "engana trouxa" e disse que a ausência dos governadores mostra que "2026 é Bolsonaro".

Andando de lados nas pesquisas, depois que os esforços do clã Bolsonaro junto ao governo Trump para impor sanções contra o ministro Alexandre de Moraes, virou um tiro no pé, com a chantagem política e tarifária contra o Brasil, os governadores evitaram se expor. E as palavras de ordem (como fez o senador Flávio Bolsonaro, do PL-RJ) eram de centrar as críticas no relator do processo contra os golpistas no STF e pedir o seu “impeachment” no Senado.

Quem decide “impeachment” é o Senado. Na Câmara, a bancada do PL anda encolhendo (eram 99 os eleitos em 2022; agora são 85 e pode encolher mais). No Senado, o PL tem 14 representantes (a maior bancada) e um bloco de 15, em coligação com o Novo. Mas as maiores coligações são o bloco Resistência Democrática (PSD e PSB), com 19 senadores, o bloco Democracia, que reunia 25 senadores do MDB, União, Podemos e PSDB, está fracionando e ficaria com 19 representantes, com a possível coligação do União com o PP, cada um com sete senadores. O bloco PT-PDT tem nove do PT mais três do PDT.

Queda para dólar e IPCA

A pesquisa semanal Focus, colhida até sexta-feira 1º de agosto e divulgada hoje pelo Banco Central manteve a taxa do dólar em R$ 5,60 em dezembro de 2025 e R$ 5,70 em dezembro de 2026. No mercado financeiro, o dólar que subiu ante o euro, a libra e os países mais afetados pelo tarifaço (o franco suíço teve a maior queda, após tarifa de 39%). No Brasil, está em queda, negociado a R$ 5,52 (a menor cotação desde junho de 2024), baixa de 0,47%.

Em uma semana, o real valorizou 1,23%, indicando que o tarifaço, com as exceções, ficou mais suave que o previsto, mas ainda acumula baixa de 1,84% em 30 dias.

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