O OUTRO LADO DA MOEDA
Como o tarifaço afeta o Copom
Publicado em 28/07/2025 às 17:11
Alterado em 28/07/2025 às 17:11
Em meio ao suspense sobre os impactos do tarifaço de 50% sobre as exportações brasileiras aos Estados Unidos, a partir de 1º de agosto, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) se reúne nesta quarta-feira, três horas após decisão do Federal Reserve Bank sobre juros nos Estados. Na visão corrente do mercado, as taxas ficarão estáveis (4,25% a 4,50%, nos EUA, e em 15,00% ao ano no Brasil), mantendo o alto diferencial de juros.
O que o mercado especula é se haverá espaço para negociação posterior de um nível tarifário menor para o Brasil – nas negociações com o Japão e a União Europeia a tarifa ficou em torno de 15% e o nível médio para outros países ficou em 20% - e quando os impactos de desaceleração da economia e da inflação levarão o Copom a iniciar a baixa dos juros.
Na Pesquisa Focus, colhida até sexta-feira, 25 de julho, e divulgada hoje pelo Banco Central, a inflação de 2025, medida pelo IPCA, teve nova redução de 5,10% para 5,09% (ainda acima do teto da meta da inflação (3,00%+ 1,50% de tolerância=4,50%), assim como a projeção do dólar para dezembro, que baixou de R$ 5,65 para R$ 5,60, mas o mercado manteve em 15% a taxa Selic para dezembro de 2025 e 12,50% em dezembro de 2026.
O Grupo Consultivo Macroeconômico da ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) também espera a Selic em 15% até o fim do ano. Mas, na visão dos economistas do grupo, deve cair a 14,75% na primeira reunião de 2026. A LCA 4Intelligence manteve a projeção de inflação deste ano em 5,2%, apesar da desaceleração prevista, considerando que a força do mercado de trabalha sustentará o consumo.
Para o grupo, como assinala o coordenador Fernando Honorato, que também é chefe do Departamento de Estudos Macroeconômicos do Bradesco, onde o atual diretor de Política Monetária do Banco Central, Nilton Davi, era diretor de Tesouraria, “as projeções de desaceleração da economia brasileira no segundo semestre, de queda na inflação e de desvalorização do dólar, além do cenário atual de incertezas, abrem espaço para o Banco Central reduzir a Selic no início do ano que vem”, diz Segundo ele, os economistas abordaram os efeitos da intenção de taxação em 50% dos produtos brasileiros, mas ainda não é possível prever seus impactos no mercado doméstico.
As dúvidas do Itaú
O Itaú também viu o cenário incerto, ao fazer a habitual projeção do “Cockpit” do Copom. O banco manteve a expectativa de início do ciclo de cortes só no 1º trimestre de 2026. E entende que só uma valorização mais expressiva do câmbio ou uma desaceleração mais acentuada da atividade poderiam antecipar esse primeiro movimento para o final de 2025.
Mas a efetivação das tarifas reduz o espaço para uma apreciação da moeda, apesar do ambiente global de dólar fraco. E as tarifas aumentam a probabilidade de um enfraquecimento mais acelerado da economia. Assim, os riscos parecem pesar mais na direção de cortes de juros antecipados - por isso, será crucial acompanhar eventuais qualificações do comitê sobre as perspectivas para a atividade econômica.
Outras previsões
As estimativas para o IPCA foram revisadas de 5,3% para 5%. O dólar deve fechar o ano a R$ 5,60 ante R$ 5,75 previsto anteriormente.
As projeções para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) passaram de 2,2% para 2,3%, devido aos bons resultados do primeiro semestre, mas o grupo prevê desaceleração da economia na segunda metade do ano.
Para a política fiscal, os economistas avaliam que a dívida bruta do setor público?terá um leve recuo, de 80% para 79,8% do PIB. A estimativa para o déficit primário neste ano foi mantida em 0,6% do PIB.
Impactos nas contas externas
Uma avaliação das avaliações das projeções do mercado para os indicadores das contas externas na Pesquisa Focus mostra forte deterioração das contas externas pelo impacto global dos tarifaços aplicados pelo governo Trump na economia global e no Brasil.
Há quatro semanas o mercado espera superávit de US$ 73 bilhões na balança comercial deste ano, que encolheu de US$ 69,25 bilhões na semana anterior para US$ 66,70 bilhões, mas a mediana das projeções dos últimos cinco dias úteis elevou o saldo a US$ 69,70 bilhões.
O enfraquecimento da balança comercial impactou as previsões para o déficit do Balanço de Pagamentos em Conta Corrente (Balança comercial + serviços e rendas de capitais). Há quatro semanas era de -US$ 56,70 bilhões e subiu de US$ 57,70 bilhões para US$ 59 bilhões, mas, nas projeções dos últimos cinco dias úteis, aumentou para US$ 62 bilhões.
Entretanto, as previsões para o ingresso líquido de Investimentos Direto Estrangeiro no País (IDP) ficaram inalteradas em US$ 70 bilhões, cobrindo o déficit em conta corrente em 12 meses.
O peso dos juros
O Banco Central divulgou também hoje o balanço das operações do Sistema Financeiro Nacional até junho. Em junho, o saldo do crédito ampliado ao setor não financeiro atingiu R$19,3 trilhões (157,5% do PIB), com alta de 0,9% no mês, refletindo, sobretudo o aumento de 2,9% nos títulos públicos de dívida e de 2,1% nos títulos de dívida securitizados. Em 12 meses, o crédito ampliado cresceu 10,6%, sendo 12,2% nos títulos públicos de dívida, 10,1% nos empréstimos do SFN, 25,6% nos títulos de dívida securitizados e 16,3% nos títulos privados de dívida.
O crédito ampliado às empresas atingiu R$ 6,6 trilhões (54,1% do PIB), com redução de 0,6% no mês, com destaque para a queda de 3,8% nos empréstimos externos, devido à apreciação cambial de 4,41%. Frente a junho de 2024, houve aumento de 9,1%, com elevações de 19,9% em títulos de dívida e de 6,2% nos empréstimos do SFN.
No caso da dívida pública é claro o impacto do aumento da Selic (10,50% para 15% no período de 12 meses), mas, nos empréstimos a juros livres para as pessoas físicas cujo nível médio de juros aumentou de 52,6% para 58,3% a variação de 5,5 ponto de percentagem em 12 meses significa elevação de 10,83%.
Não admira que o nível de inadimplência das operações com recursos livres (a juros de mercado) para pessoas físicas tenha aumentado de 5,5% em junho de 2024 para 6,3%. Nas operações com recursos livres empresas, os juros são bem mais baixos (24,3% ao ano), a inadimplência também era menos da metade (3,1%).