O OUTRO LADO DA MOEDA
O que é ruim para GM também é para EUA?
Publicado em 22/07/2025 às 16:12
Alterado em 22/07/2025 às 16:12
Charles Wilson, que presidiu a General Motors no começo dos anos 50, foi nomeado pelo presidente Eisenhower (1953-1961) como secretário da Defesa. Na sua confirmação, ainda acionista da GM, foi indagado se não haveria conflito de interesses entre os dois papéis. Wilson disse a frase que ficou famosa: "O que é bom para a América é bom para a General Motors e vice-versa". A GM era, então, a maior empresa americana e o maior construtor de automóveis do mundo.
Pano rápido, estamos em julho de 2025, e o governo Trump acaba de completar seis meses. A GM não é mais a primeira empresa dos Estados Unidos e está longe de ser a maior montadora do mundo. A liderança é da japonesa Toyota que produziu 9,8 milhões de veículos em 2024. A GM ficou em 4º lugar, com 5,48 milhões de unidades, sendo superada pelo grupo Volkswagen e pelo grupo coreano Hyunday-Kia Motors.
Mas os números foram apurados antes de Donald Trump tomar posse e ameaçar o mundo com os tarifaços de destruíram as cadeias integradas de produção da indústria na era da globalização – combatida por Trump que quer trazer de volta para o solo americano a produção manufatureira. E a ameaça, vista pelo retrovisor da GM e de outras fábricas, vinha em 7º lugar: era a chinesa BYD, com forte produção robotizada de carros elétricos, que já desbancara a Tesla de Elon Musk e ultrapassara a Ford em mais de 500 mil unidades ao crescer 43,9% no ano passado somando 4,5 milhões de carros.
Por enquanto só se tem o lado ruim do tarifaço: os custos aumentaram para as indústrias e para os consumidores. Não está sendo bom para a GM nem para os Estados Unidos, como decretara Charles Wilson. As ações da GM caem mais de 6% na Bolsa de Nova Iorque. O S&P 500 cai 0,15% em meio à reavaliação do impacto das tarifas nos balanços das grandes empresas.
Nesta terça-feira, 21 de julho, a GM divulgou o balanço do 2º trimestre, e o lucro líquido da maior montadora dos EUA caiu 35%, apesar dos fortes ganhos nas vendas nas concessionárias. É, porque, se o mercado doméstico ficou restrito para as concorrentes estrangeiras, os custos das peças e componentes dos veículos também foram impactados em mais US$ 1,1 bilhão pelas tarifas. E a GM já alertou, segundo o “Wall Street Journal” que “o impacto será maior no próximo trimestre, com a nova rodada de tarifas prevista em 1º de agosto.
A reação dos empresários e consumidores americanos contra os efeitos inflacionários dos tarifaços é que pode ajudar o Brasil a fazer o governo Trump ceder na disposição – até aqui irremovível – de ceder nos níveis de tarifas ou de adiar os prazos de implantação. O secretário do Tesouro, Scott Bessent, informou que estendeu por mais 12 dias, até 12 de agosto, o prazo para definir o nível tarifário com o governo chinês, enquanto prosseguem as negociações. Por enquanto, o governo Trump não abriu o diálogo em relação ao Brasil.
Impactos setoriais
Dois segmentos mais dependentes de commodities vindas do Brasil – o suco de laranja, que abastece 58% do mercado americano, e o café, que supre mais de 45% da demanda das torrefadoras e redes de cafeterias do país – podem ganhar bons advogados para a abertura de negociações evitando pesados prejuízos para os dois lados. No primeiro governo Trump, esse argumento valeu para os exportadores de aço para os Estados Unidos.
Na sexta-feira, 18 de julho, o grupo Johanna Foods, de Nova Jersey, entrou com medida cautelar no Tribunal de Comércio Internacional dos EUA, argumentando que as razões de Trump para o aumento da taxa – incluindo o apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro – não representam ameaças “incomuns e extraordinárias” que lhe dão autoridade de emergência para contornar o poder de tributação do Congresso.
A empresa estima que as tarifas de 50% aumentariam seus custos de suco de laranja não concentrado do Brasil em US$ 68 milhões nos próximos 12 meses e elevariam os custos de varejo para os consumidores entre 20% e 25%. O caso é mais um a aumentar a pilha de contestações legais sobre as políticas tarifárias de Trump. Numa declaração anexa ao processo de 150 páginas, o diretor executivo da Johanna Foods e Johanna Beverage Company, Robert Facchina alega que a taxação vai dar prejuízo ao grupo, provocará aumento para os consumidores de aproximadamente 20-25% do preço de varejo e também poderá causar demissões nos EUA.
Várias cadeias de negócios dependem de mercadorias vindas do Brasil, como aa produção de hamburguers (com carne de dianteiro), açúcares (a demanda tende a aumentar com a pressão de Donald Trump, já acolhida pela Coca-Cola, de trocar o xarope de milho por açúcar de cana como adoçante, celulose (a Suzano é a maior exportadora de pasta de eucalipto – fibra longa). Mas há casos complexos, como o das frutas frescas, mais perecíveis, como a manga.
Sobe e desce nos mercados
O dólar tem uma jornada de recuperação contra as principais após o anúncio de Scott Bessent, o que influi no preço das “commodities” cotadas em dólar. O ouro sobe 0,97%, reforçando as desconfianças dos bancos centrais no dólar. O barril do petróleo Brent para entrega em setembro tem queda de 1,30%, cotado a US$ 68,30. O café sobe 1,49% na Nymex, acumulando baixa de 9,49% em 30 dias. O açúcar tem queda de 1,31% (-2,66% no mês) e o suco de laranja sobe 0,82%, acumulando alta de 41% em 30 dias.