O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

A quem interessa: só a Trump e Bolsonaro

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Publicado em 15/07/2025 às 17:47

Alterado em 16/07/2025 às 12:37

Eduardo Bolsonaro Foto: Reprodução

É inacreditável. O deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) que trama, nos Estados Unidos, o crime de lesa-pátria de instigar o governo Trump a impor tarifas de 50% sobre as exportações brasileiras em 1º de agosto, se o Supremo Tribunal Federal não suspender os processos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, ainda tem a cara de pau de protestar quando a PGR conclui a denúncia contra a trama golpista que culminou no 8 de janeiro de 2023, liderada por seu pai, que pode ser condenado a 43 anos de prisão, indagando: “a quem interessa [a condenação]?"

Em primeiro lugar, à Democracia e ao Estado Democrático de Direito do Brasil. O chefe do clã Bolsonaro adotou o slogan “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, em seu desastrado governo, o que mostrou ser apenas um mote enganador. Após ter tentado fugir do país com joias que pertenciam ao acervo da Presidência da República, o ex-presidente despacha o filho 03, bancado com R$ 2 milhões desviados dos R$ 17 milhões que arrecadou de aliados via Pix para “custear advogados”, a “famiglia” Bolsonaro usa a chantagem dos EUA para forçar o Congresso e o governo Lula (passando por cima do STF) a adotar “anistia ampla, geral e irrestrita” a quem sequer teve o julgamento concluído.

É muita cara de pau e desfaçatez. A verdade é que a “famiglia” Bolsonaro não se importa em respeitar os poderes constituídos, como vai sendo revelado a cada depoimento no STF, e muito menos está preocupada com os prejuízos bilionários (em dólares), além do desemprego de centenas de milhares de brasileiros que a chantagem do tarifaço de Donald Trump pode causar ao Brasil.

Cabem duas questões: 1- a quem interessa o tarifaço, se não a Jair Bolsonaro? 2- o deputado federal, que pleiteou ser o embaixador do Brasil em Washington, com a “credencial” de que “sabia falar inglês e ‘fritar’ hamburguer”, segundo o orgulhoso pai, e era o coordenador da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, tem noção do atropelo institucional de forçar os Estados Unidos a ingerir na soberania do Poder Judiciário, e tem a mínima avaliação do tamanho do estrago na economia e nas relações bilaterais?

Itaú vê perdas de US$ 16 bilhões

O banco Itaú fez uma simulação, nessa segunda (14), com base nas exportações de US$ 40,2 bilhões realizadas pelo Brasil para os Estados Unidos no ano passado. Por sinal, as projeções do Itaú batem com as estimativas do Bradesco, que adiantei na semana passada. Mas o Itaú simula que o PIB pode sofrer impacto negativo de 0,2% este ano (o banco estima 2,2% a taxa do PIB em 2025) e -0,6% ao longo de 12 meses). Como o PIB é estimado em R$ 2,219 trilhões em 2025, uma perda de 0,2% seria equivalente a R$ 4,4 bilhões e a mais de R$ 15 bilhões até agosto do ano que vem.

Na balança comercial, os produtos que lideraram as exportações em 2024 foram petróleo e combustíveis (US$ 7,6 bilhões ou 19% do total), mas estaria fora do tarifaço. O aço. que teve exportações de US$ 1,6 bilhão, com os 50%, pode perder US$ 0,8 bilhão. Peças de veículos e veículos, cobre e alumínio, que venderam US$ 0,9 bilhão em 2024, perderiam US$ 0,4 bilhão.

Na pauta de manufaturados (US$ 15,3 bilhões no ano passado ou 38% das vendas), as perdas poderiam atingir US$ 7,7 bilhões, sendo US$ 2,1 bilhões em máquinas, equipamentos e motores; US$ 1,3 bilhão em aeronaves, sobretudo da Embraer, e US$ 4,2 bilhões de outros produtos

Nas “commodities” metálicas e extrativas, que venderam US$ 9,6 bilhões (24%), as perdas poderiam ser de US$ 4,8 bilhões, lideradas por minério de ferro (US$ 3,7 bilhões), seguido por madeira e celulose (US$ 2,3 bilhão). O tarifaço atinge diretamente a Suzano, que fornece 83% da celulose importada pelos EUA. Outros produtos perderiam US$ 0,8 bilhão.

Nas commodities agrícolas, que venderam US$ 5,3 bilhões em 205 para os Estados Unidos, as perdas são estimadas em US$ 2,6 bilhões. O conjunto das vendas de café verde e solúvel teria perdas de US$ 1 bilhão. Os sucos de fruta (sobretudo laranja) e as frutas (especialmente mangas), que venderam US$ 1,3 bilhão no ano passado, podem ter perdas de US$ 0,7 bilhão.

Mas a ironia do destino é que o fritador de hamburguer e quase ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos além de queimar seu filme e da família Bolsonaro junto aos verdadeiros patriotas, deu um rito no pé na exportação de carnes bovinas para os EUA, que tem a carne do dianteiro (usada na fabricação de hamburguer) como líder de vendas: as perdas são estimadas em US4 0,5 bilhão. Outros produtos teriam perdas de US$ 0,4 bilhão, segundo o Itaú.

Trump colhe inflação e estagflação ameaça

O comentário é do “The New York Times” – “A inflação acelerou em junho, quando as tarifas do presidente Trump começaram a deixar um impacto maior na economia, mantendo o Federal Reserve no caminho certo para manter as taxas de juros estáveis quando os formuladores de políticas se reunirem novamente neste mês (dia 30).

O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) subiu 0,3% em junho, contra 0,1% em maio e a taxa em 12 meses alcançou 2,7%, o ritmo mais rápido desde fevereiro, segundo dados divulgados pelo Departamento de Estatísticas do Trabalho (Bureau of Labor Statistics) nesta terça-feira. O índice é superior ao esperado e representa um aumento em relação ao ritmo anual de 2,4% de maio.

A inflação básica, que exclui os preços voláteis de alimentos e energia e é vista como indicador confiável das pressões subjacentes de preços, também subiu. Esses preços subiram 2,9% em relação ao mesmo período do ano passado.

O NYT sublinha que “os dados de junho ainda refletem apenas o impacto inicial da guerra comercial global de Trump”. Produtos mais expostos a tarifas, como móveis domésticos, tiveram alta de 1% nos preços, significativamente acima do aumento de 0,3% no mês passado. Os preços de eletrodomésticos, especificamente, subiram 1,9%, ante 0,8%. O índice de vestuário aumentou 0,4%, interrompendo vários meses de queda nos preços.

Os preços da gasolina subiram 1% em junho, após queda de 2,6% no mês anterior. Os preços dos alimentos também subiram, acumulando alta de 0,3% em junho. Economistas esperam que as pressões sobre os preços se intensifiquem nos próximos meses, especialmente se as novas tarifas que o presidente ameaçou contra a União Europeia e vários outros países nos últimos dias forem impostas em 1º de agosto, conforme planejado.

“Alguns desses custos tarifários estão sendo repassados”, disse Stephen Juneau, economista do Bank of America, refletindo uma decisão difícil com a qual muitas empresas em todo o país estão lutando. As tarifas forçaram as empresas a escolher entre absorver os custos das tarifas e reduzir seus lucros, ou aumentar os preços e correr o risco de provocar a ira dos consumidores.

Além da alta de preços, há grande temor nos Estados Unidos com a repetição de números negativos no crescimento da economia. No primeiro trimestre, o PIB americano encolheu 0,5% com a antecipação de importações ao tarifaço marcado para 1º de abril e adiado. Agora (mesmo com o adiamento de junho para 1º de agosto) pode haver PIB negativo.

Queda por dois trimestres seguidos configura recessão. O número só será sabido em meados de setembro. Mas, até lá os americanos que confiaram nos planos de Trump podem conviver com o pior dos mundos na economia: inflação e recessão, com ameaça de estagflação. No desespero, Trump quer forçar o Federal Reserve baixar os juros dia 30, mas a inflação desaconselha.

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