O OUTRO LADO DA MOEDA
Serviços perdem tração em maio
Publicado em 11/07/2025 às 14:15
Alterado em 11/07/2025 às 14:16
Em maio, a receita real do setor de serviços subiu 0,1%, sobre abril, segundo o IBGE (3,6% na comparação anual), mas abaixo os 0,4% previstos pelo Itaú e um pouco abaixo da mediana das expectativas do mercado (0,2% m/m). Para o Itaú, a maior surpresa negativa foi 'Transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio' (-0,3%) e a maior surpresa positiva foi 'Serviços profissionais, administrativos e complementares' (3,9% a/a, contra. 2,4% esperado). Entre as 5 principais categorias, 3 avançaram e 2 contraíram na margem. Transportes e 'Serviços prestados às famílias' (-0,6%) tiveram as maiores contrações.
Com o dado de hoje, o Itaú projeta carrego estatístico para o 2º trimestre de 0,9% (índice cheio) e 0,7% (serviços prestados às famílias). Ainda assim, os dados de hoje reforçam “a visão de desaceleração da atividade econômica no segundo trimestre”.
Dólar sobe 1% e real cai 2,8% na semana
O conturbado cenário no comércio mundial e especialmente sobre as exportações brasileiras, ameaçadas por tarifaço de 50% pelo governo Trump em 1º de agosto. O dólar voltou a subir contra as principais moedas (subia 0,70% contra o euro na semana e 1,89% contra o iene nesta semana). Contra o real o dólar chegou a subir 1%, mais caía 0,77%, às 13 horas, cotado a com o dólar cotado a R$ 5,5747, após Trump admitir negociações com o Brasil. Na semana, o real acumulava queda de 2,82%.
No mercado de commodities, os produtos agrícolas brasileiros ameaçados pelas tarifas americanas caíam de preço nos mercados de Nova Iorque, Chicago e Londres, mas o alerta da Agência Internacional de Energia, de que os estoques de petróleo estavam “apertados” provocou alta de 2,56% no contrato futuro do petróleo tipo Brent para entrega em setembro, negociado a US$ 70,45.
Fazenda eleva projeção do PIB para 2,5%
Apesar das ameaças que pairam com o tarifaço de 50% de Donald Trump sobre as exportações brasileiras, o Ministério da Fazenda elevou de 2,4% para 2,5% a projeção do crescimento da economia este ano. A Fazenda atribui o reajuste ao bom desempenho do mercado doméstico, devido ao baixo desemprego e ao aumento do consumo das famílias.
E o consumo pode melhorar com a expectativa de ligeira redução da inflação. A Fazenda reduziu de 5,0% para 4,9% a expectativa de alta do IPCA em dezembro e projeta em 3,6% a queda do índice de inflação em 2026, dentro do teto da meta de inflação (3,00% + tolerância de 1,50%=4,50%).
LCA prevê IPCA de 0,35% em julho e vê pressões até setembro
Ao analisar as perspectivas para o IPCA até setembro a LCA 4Intelligence está prevendo alta de 0,35% este mês (contra 0,24% em junho), pela alta das tarifas aéreas e pela aceleração dos preços do etano em Transportes. Em. Despesas Pessoais haverá influência do reajuste nos preços de loterias da CEF. Em Comunicação, a LCA prevê pressão de reajustes em telefonia celular e serviços de “streaming”. Em Alimentação a consultoria acredita que “o grupo não repetirá a deflação observada no mês anterior.
Nos preços administrados, que subiram +0,59% em junho, a LCA 4Intelligence espera nova aceleração, como reflexo dos ajustes em energia, transportes e comunicação.
Para o acumulado até setembro, estima que a média dos núcleos de inflação ficará acima do observado no mesmo período de 2024. No grupo Habitação, destacam-se pressões previstas para junho e agosto, sobretudo em energia elétrica residencial. A mudança da bandeira tarifária de amarela para vermelha patamar 1 em unho, já impactou o índice.
Em agosto, a LCA projeta alívio relevante (0,06%) com o possível bônus de Itaipu na anergia elétrica (ainda não confirmado), que pode tirar cerca de 26 pontos-base do IPCA. Mas, setembro pode registrar o rebote desse desconto, adicionando os mesmos 26 bps ao índice, com um IPCA estimado em 0,62%.
Mais uma explicação de Galípolo
Se os números da LCA se confirmarem, como em julho de 2024 o IPCA subiu 0,38%, mas caiu 0,02% em agosto e voltou a subir 0,44% em setembro, a taxa em 12 meses no 3º trimestre vai acelerar frente aos 5,355 registrados em julho, que já levaram ao presidente do Banco Central a escrever carta ao ministro Fernando Haddad, presidente do Conselho Monetário Nacional para explicar o estouro do teto da meta de inflação (4,50%).
Na carta enviada dia 10 de julho, Galípolo disse que “diversos fatores contribuíram para o desvio (...) de 2,35 p.p. da inflação em relação à meta”. Um dos principais, você e sua família devem ficar sempre aflitos quanto chega a hora dos reajustes: os planos de saúde e os aluguéis, indexados pela inflação passada. Na carta, Galípolo diz que “a inércia dos 12 meses anteriores” tiveram contribuição de 0,69 p.p..
O peso da inflação passada superou os impactos das “expectativas de inflação (0,58 p.p.), do hiato do produto (0,47 p.p.), a inflação importada (0,46 p.p.), a bandeira tarifária de energia elétrica (0,27 p.p.) e demais fatores (-0,12 p.p.).
A engrenagem da indexação
“No caso dos preços livres, a inflação passada gerou uma pressão corrente de custos, advinda tanto de outros preços de bens e serviços utilizados como insumos, quanto de mecanismos inerciais informais de indexação salarial. Por exemplo, os reajustes nas negociações salariais não só acompanharam o movimento da inflação passada, como a superaram. Além disso, o salário-mínimo em 2025 aumentou 7,5%, o que representa 2,7 p.p. acima da inflação de 2024” (4,83%).
“Nos preços administrados, destaca-se a existência de arranjos institucionais que vinculam o reajuste dos preços à inflação passada” (planos de pedágios, tarifas de transporte, e tributos. Explica-se, portanto, porque há uma discussão no interior do governo para a desindexação parcial do reajuste dos rendimentos vinculados ao salário-mínimo das aposentadorias e pensões e do BPC. Seria garantida a reposição da inflação do IPCA ou do INPC, mas sem o ganho integral do aumento do PIB, este ano previsto em 2,5%, contra 3,4% em 2024.