O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

[email protected]

O OUTRO LADO DA MOEDA

Trump derruba ações na B3

Publicado em 10/07/2025 às 13:57

Alterado em 10/07/2025 às 14:02

O tirambaço do presidente Donald Trump, anunciando tarifaço de 50% aos produtos brasileiros a partir de 1º de agosto, por “déficits continuados para os Estados Unidos” (inexistentes desde 2009) e pela “perseguição política ao ex-presidente Jair Bolsonaro” caiu como uma bomba sobre as ações de empresas que exportam para os EUA. Às 11:30 o Ibovespa caía 1,31% na B3, onde as baixas eram lideradas pela Embraer, com queda de mais de 7% nas ações ON.

Outros papéis muito afetados são as ações de frigoríficos, como JBS (caiu e se recuperou) Marfrig (-2,75%) Minerva (-4%) e BRF (-0,22%). A Raízes, que exporta etanol para os EUA tem queda de 4,97% e a Cosan, de 3,93%. Os analistas também puseram na berlinda as ações da Suzano, WEG, CBA, Alpargatas e Azzas, dona de 4% da (ALPA4), Tupy, Metal Leve Mahle.

No mercado de café, outro produto afetado, como o suco de laranja, destaque para a Jalles Machado, negociada na B3. O tranco nas exportações aos EUA, maior mercado pode agravar a crise de muitos exportadores. O mercado de Nova Iorque reagiu com alta de 2,76%, mas em Londres houve queda de 1,79%. O suco de laranja ganhava 6% nos Estados Unidos. Cacau e açúcar tinham baixa, assim como o petróleo Brent (-1,61%), negociado a US$ 69. O dólar voltou a subir 0,75%, cotado a R$ 5,55 às 13 horas.

Siderúrgicas em alta

Como estão sujeitas, por enquanto, a tarifas menores (máximo de 25%, assim como o alumínio), as ações das siderúrgicas CSN, Usiminas e Gerdau estavam em alta no pregão. O mesmo aconteceu com as ações da Vale que abriram em baixa, mas reagiram após anúncio da China de estímulo ao setor no país, que está com excesso de estoques. As ações da Petrobras também inverteram a queda. Ao meio-dia Petrobras ON subia 0,51%, mas as PN caíam 0,22%.

LCA vê ônus político para oposição

A LCA 4Intelligence, no “Café Político” desta quinta-feira considera que “a evidente vinculação da família Bolsonaro a Donald Trump, reforçada pelo autoexílio de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos, e o alinhamento do entorno bolsonarista à figura do presidente americano, fornecerão munição para Lula, o governo e o PT atribuírem à oposição bolsonarista responsabilidade pela decisão americana de taxar em 50% as exportações aos EUA, danosa à economia brasileira” E completa que a “exaltação à defesa da soberania nacional contra o "imperialismo americano" também será usada como mensagem em prol do governo e de Lula. Já começou a circular nas redes sociais o slogan "Lula quer taxar os bilionários; Bolsonaro quer taxar o Brasil".

Do lado da oposição bolsonarista, a reação foi atribuir a Lula a culpa pela decisão de Donald Trump, porque ele não foi capaz de construir uma boa relação com o presidente americano, por causa das ações para fortalecer os Brics e das declarações de Lula a favor da utilização de uma moeda alternativa ao dólar no comércio internacional.

Tiro pela culatra

Mas a LCA conclui: “É possível dizer com segurança que a defesa de Bolsonaro feita por Trump e pelo governo americano dificilmente alterará os rumos do julgamento do ex-presidente no STF e tem boa chance de dificultar a aprovação de qualquer projeto de anistia no Congresso”.

Alimentos caem, mas IPCA sobe 0,24% em junho

O IBGE divulgou que o IPCA de junho subiu 0,24%, acima dos 0,20% previstos pelo mercado e dos 0,17% projetados pelo Itaú. Os Alimentos e Bebidas tiveram queda de 0,18% (depois de 0,17% em maio) e a alimentação em domicílio teve deflação de 0,43% (depois de 0,02% em maio), puxada pelas quedas de 6,55% em ovos, de 3,23% no arroz (a sexta seguida), de 0,35% nas carnes e estabilidade no café. O principal fator de alta foi o aumento de 2,69% na energia elétrica residencial (bandeira vermelha) que fez Habitação subir 0,99% e impactar em 0,15 ponto percentual o IPCA.

Mas em 12 meses, o IPCA acumulou alta de 5,35%, contra 5,32% em maio. Como o Conselho Monetário Nacional (CMN) adotou no ano passado a meta de inflação contínua, o teto de 4,50% (3,00% + tolerância de 1,50%) foi estourado e o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo terá de escrever carta ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, justificando o estouro.

Mas, como em inflação (como em economia) o que interessa é o futuro – incerto com o tarifaço de Trump – há um fato concreto para junho, que pode neutralizar o impacto da bandeira vermelha: as contas de luz que consomem menos de 120 KW mensais podem ter um substancial desconto.

Um dado importante é que o índice de difusão (preços em alta) caiu de 60¨em maio para 54% em junho (estava em 67% em abril). Nos produtos alimentícios, apenas 56% (menos da metade) ainda estão em alta; nos não alimentícios, 60% ainda subiam. O Itaú destacou as surpresas altistas em transporte por aplicativo (13,77%) e impactou na alta de 0,40% nos Serviços (0,18% em maio), o que provocou alta para a 6,18% na taxa em 12 meses.

Mas o Itaú observa que, na média móvel de três meses, com dados dessazonalizados e anualizados, os serviços subjacentes desaceleraram para 6,3% (de 7,0%), enquanto o núcleo de industriais subjacentes desacelerou para 3,5% (de 4,6%). Na mesma métrica, a média dos núcleos desacelerou para 4,5% (de 5,3%). O banco considera que a alta “foi concentrada em itens fora do núcleo de inflação. Já o qualitativo veio próximo do esperado e seguiu mostrando a média dos núcleos do BCB dentro do intervalo compatível com a meta ajustada pela sazonalidade”. Em outras palavras, tirando Trump, o cenário era favorável à queda da inflação.

Deixe seu comentário