
O OUTRO LADO DA MOEDA
Focus reduz IPCA antes da queda da gasolina
Publicado em 02/06/2025 às 17:27
Alterado em 02/06/2025 às 17:27
Antes mesmo de a Petrobras anunciar a queda de 5,6% na gasolina nas refinarias, a partir de amanhã, que tende a derrubar a inflação, superando o impacto da bandeira vermelha (fase 1) da energia elétrica, o mercado financeiro já apontava na Pesquisa Focus, fechada pelo Banco Central sexta-feira, 30 de maio, a queda da inflação deste ano: de 5,50% na semana anterior para 5,46% (e baixa para 5,42% nas respostas dos últimos cinco dias úteis).
O cenário projetado pelo mercado contemplava as baixas recentes do óleo diesel e dos alimentos. Com a queda da gasolina, a projeção do mercado de 0,36% para o IPCA de julho tende a cair até dois e meio ponto de percentagem, abaixo de 0,33%. Mas o mais importante é o impacto psicológico nos preços e tarifas do segmento de serviços, que vinha rodando em 12 meses até abril acima de 6% (6,03), pode descer para menos de 5,5%.
Assim, quando o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a inflação poderia trazer uma boa surpresa, ela está se desenhando no horizonte. No auge da escalada do dólar no ano passado, surgiram apostas no mercado financeiro de que o IPCA de 2025 poderia superar os 6%. O Itaú previu, em fevereiro deste ano, que a inflação iria a 5,80%. Na semana passada reduziu a previsão para 5,4% e deve baixar ainda mais. O Bradesco também previa 5,4%
Gasolina garante Selic estável
Mais importante, contudo, é considerar que o impacto deflacionário da gasolina deve levar o Comitê de Política Monetária do Banco Central, na reunião do próximo dia 18, a encerrar o atual ciclo de alta da Selic, mantendo-a em 14,75% ao ano. O Copom está disposto a manter os juros elevados por muito tempo para conter a demanda e a inflação. Mas os desdobramentos posteriores da economia – se a inflação se aproximar do teto da meta (4,50% - e na última reunião, de 7 de maio, o Copom projetou IPCA de 4,80% para dezembro de 2025),- dão chances de uma queda na Selic ainda este ano.
Economistas heterodoxos lembram que o impacto da nova política de preços da Petrobras, adotada desde 16 de maio de 2023, em substituição ao sistema de Paridade de Preços Internacionais (PPI), do final de 2016, no governo Temer, deu mais contribuição ao controle da inflação que a escalada dos juros. O PPI, criado num cenário de contenção dos negócios da Petrobras no refino (50% do parque das refinarias seria posto à venda), com concentração na exploração do pré-sal, visando à futura privatização da estatal,
implicava em reajustes constantes dos combustíveis seguindo os preços internacionais, atualizados pelo câmbio.
Isso gerava uma escalada da inflação quando o frio chegava ao Hemisfério Norte, com demanda de combustíveis para aquecimento. Nada a ver com a realidade de um país tropical como o Brasil. E o Copom tinha que elevar os juros. Para que não se acuse o governo Lula de intervencionismo (na opção, acertada, de usar o petróleo mais leve e mais barato do pré-sal no uso mais intenso do parque de refino, o que gera mais impostos e rendas para o país, em comparação à exportação do petróleo bruto), vale lembrar que o intervencionismo de Bolsonaro e Guedes foi muito maior em junho de 2022.
Para tentar ganhar a eleição (Lula liderava as pesquisas) e percebendo que o Banco Central se continuasse elevando os juros não evitaria o estouro do teto da meta (5,50% em 2022), nem a derrota de Bolsonaro, Guedes fez uma das maiores intervenções eleitoreiras no domínio econômico, cortando, até 31 de dezembro de 2022, os impostos federais e o ICMS dos estados e municípios, dos combustíveis, da energia elétrica residencial e das comunicações. A inflação que estava em 12,13% em abril fechou o ano em 5,79%. Mas não evitou o estouro do teto da meta nem, a perda da reeleição do presidente.
Juros X PIB
Antes do anúncio da Petrobras, embora a maioria previsse estabilidade na Selic, havia ainda expectativas no mercado de que o Copom pudesse fazer um último ajuste de 0,25% para 15%. Bradesco, Itaú e Santander esperavam 14,75%. Mas a manutenção de juros elevados por muito tempo levou o Bradesco, que tem sex ex-diretor de Tesouraria, Nilton David, como diretor de Política Monetária do Banco Central a prever um crescimento baixo para o PIB desde ano (1,9%) e ainda menor para 2026 (1,3%).
Depois do PIB de 1,4% no primeiro trimestre, o Itaú manteve a taxa de crescimento em 2,2% para este ano e em 1,5% para 2026. O Santander elevou a previsão deste ano de 1,8% para 2,0%, com “viés de alta” e a LCA Consultores também elevou a previsão de 1,8% para 2,2%.
Mas a Pesquisa Focus apresentou números destoantes. Na mediana da previsão semanal (com respostas anteriores à divulgação do PIB), a taxa de crescimento encolheu de 2,14% para 2,13%. Mas as respostas dos últimos cinco dias úteis, computando o resultado do PIB, a mediana da previsão do crescimento subiu para 2,23%. Há um mês era de 2,0%.
Outro bom sinal para a inflação foi a nova queda do dólar ante as principais moedas devido a novos impasses no tarifaço, que minam a confiança na moeda americana. Cotado a R$ 5,7035, o dólar caía 0,70% ante o real e 0,63% frente ao euro. Mas o temor é de que as restrições comerciais desacelerem a economia mundial, afetando o Brasil.