
O OUTRO LADO DA MOEDA
PIB do IBGE cresce mais que o do BC
Publicado em 30/05/2025 às 13:50

O Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre de 2025 teve crescimento de 1,4%, revelou hoje o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, responsável oficial pelo levantamento das Contas Nacionais que formam o PIB. O desempenho da economia brasileira, com crescimento acumulado de 3,5% nos últimos quatro trimestres (maior que a taxa de 3,4% do ano passado) foi influenciado pela supersafra agrícola, que cresceu 12,2% no trimestre, puxada por soja, milho e arroz. O agronegócio pôs o Brasil entre os cinco países com melhor desempenho, à frente dos Estados Unidos, China, Alemanha, França e Reino Unido. A liderança foi da Irlanda, com 3,1%.
O desempenho da economia ficou abaixo das projeções do mercado (mediana de 1,5%, da LCA Consultores e dos 1,8% previstos por Bradesco e Itaú), mas superou ligeiramente a taxa de 1,3% indicada semana passada pelo IBC-Br do Banco Central, que funciona como prévia do PIB. Os três principais segmentos da economista tiveram as projeções do Banco Central desautorizadas pelos dados reais do IBGE, o que deve servir para reflexão dos condutores da política monetária. As diferenças superam em muito eventuais conceitos metodológicos e podem induzir o Banco Central a erros de enfoque na política monetária (ou levar o IBGE a atualizar sua matriz-produto). Enfim, os dois órgãos deveriam fazer reuniões para entender as discrepâncias.
No caso da Agropecuária, que pesa 6,5% na formação do PIB, segundo os dados do IBGE de 2024, o dobro da diferença da alta de 12,2% do IBGE para os 6,1% esperados pelo IBC-Br pode estar ligada à contabilização das safras. A soja, que lidera a produção agrícola, é contabilizada pelo IBGE basicamente no 1º trimestre. Mas o que dizer da diferença entre a queda de 0,1% na produção industrial indicada pelo IBGE, da previsão de alta de 1,6% do IBC-Br?
A Indústria como um todo pesa 24,7% no PIB, sendo de 4,2% a fatia da Indústria Extrativa, que cresceu 2,1%, puxada pela produção de óleo e gás, que compensou a queda dos minérios; de 14,4% a da Indústria de Transformação, que encolheu 1,0%; a Construção, com peso de 3,6%, recuou 0,8% e as atividades de Utilidades Públicas (luz, gás, água e esgoto e coleta de resíduos), com peso de 2,6% no PIB, tiveram avanço de 1,5%
Nos Serviços, que é o item de maior peso na economia (68,8%) no ano passado, o IBGE acusou crescimento de 1,2%, bem acima dos 0,7% projetados pelo IBC-Br. Nos Serviços, o Comércio, que pesa 12,0%, cresceu 0,3%, mas é superado pelos 16,1% da Administração Pública, Educação e Previdência Social (+0,6% no trimestre) e pelos 17,5% de Outras Atividades de Serviços (+0,8%). As Atividades Imobiliárias (8,8%) tiveram com alta de 0,8%, Atividades Financeiras e Seguros (7,2%, com +0,1%), Transporte, Armazenagem e Correio, com peso de 3,6%, teve queda de 0,6% porque a movimentação das safras só começou em março) e Tecnologia e Comunicação (3,5% de peso e +3,0%, o melhor desempenho depois do agro).
Investimentos crescem mais que consumo
Pelo lado da demanda, o dado mais animador do primeiro trimestre foi o crescimento de 3,1% na Formação Bruta de Capital Fixo, que resume a marcha dos investimentos em máquinas e equipamentos, construção para novas fábricas, atividades comerciais e infraestruturas e atualização tecnológica. No trimestre, a variação foi bem superior ao aumento de 1,0% no Consumo das Famílias. No trimestre, os gastos do Governo cresceram apenas 0,1%.
No acumulado dos quatro trimestres o padrão se manteve: os investimentos cresceram 8,8%, mais do que o dobro dos 4,2% de aumento do Consumo das Famílias e do aumento de 1,2% nos desembolsos do Governo.
Importações crescem mais que exportações
Mas o processo de modernização do parque industrial (e comercial e de infraestrutura) do país, mostrou seus efeitos na balança comercial. Ainda sem refletir a movimentação da supersafra de soja (que começou a escoar nos portos no fim de março) as exportações cresceram apenas 2,9% no trimestre (uma reação frente o aumento ainda menor de 1,8% nos últimos quatro trimestres, enquanto as importações, que tinham crescido 15,6% no acumulado de quatro trimestre teve aumento de 5,9% nos primeiros três meses do ano.
Ao destacar o crescimento de 9,1% na FBKF frente ao 1% trimestre de 2024, o IBGE assinalou como destaques o “crescimento da importação (destaque para importação de plataforma petrolífera) e da produção interna de bens de capital em conjunto com o desempenho positivo da construção e do desenvolvimento de “software”. Ou seja o aumento das importações é sintoma de retomada de investimentos na modernização e transição energética da economia brasileira, que tende a se tornar mais produtiva e competitiva, até mesmo contra o tarifaço. E as ameaças da gripe aviária.
Juros continuam o X da questão
O Banco Central divulgou os dados consolidados do setor público em abril, com superávit primário (receitas menos despesas, sem considerar os juros da dívida pública) de R$ 14,1 bilhões em abril (saldo de R$ 6,7 bilhões em abril de 2024). O governo central foi superavitário em R$16,2 bilhões, e os governos regionais e as empresas estatais, tiveram déficits, de R$ 659 milhões e de R$ 1,4 bilhão, respectivamente. De janeiro a abril, com as torneiras do Orçamento fechadas, o país teve superávit primário de R$ 102,860 bilhões. Em 12 meses, o setor público consolidado acumulou déficit de R$ 6,0 bilhões, 0,05% do PIB, ante déficit de R$ 13,5 bilhões, até março.
Quando entram em cena os números dos juros, o quadro muda. As despesas, apropriadas por competência, somaram R$ 69,7 bilhões em abril de 2025, contra R$ 76,3 bilhões em abril de 2024. Mas a redução se deve ao encontro de contas das operações de “swap cambial” (perda de R$ 11,2 bilhões em abril de 2024 e ganho de R$ 15,8 bilhões este ano). Excluída a conta de “swap”, os juros somariam R$ 96,7 bilhões de janeiro a abril deste ano. Em 12 doze meses até abril, os juros nominais somaram R$ 928,4 bilhões (7,71% do PIB), contra R$ 776,3 bilhões (6,93% do PIB) nos 12 meses até abril de 2024.
O resultado nominal do setor público consolidado, que inclui o resultado primário e os juros nominais apropriados, teve rombo de R$ 55,5 bilhões em abril. Em 12 meses, o déficit nominal alcançou R$ 934,4 bilhões (7,76% do PIB), contra déficit de R$ 948,5 bilhões (7,92% do PIB) em março último.