O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

[email protected]

O OUTRO LADO DA MOEDA

Prós e contras do IPCA de 1,31% em fevereiro

...

Publicado em 12/03/2025 às 17:39

Alterado em 12/03/2025 às 19:36

Preço da energia elétrica impactou Foto: ABR

Por um erro de administração do governo, a inflação de 1,31% fevereiro, que já teria o impacto dos custos da Educação concentrados no mês (4,70%, com impacto de 0,28 ponto percentual no IPCA), teve um impacto bem maior dos aumentos das tarifas de energia elétrica residencial (16,80%) que levaram o item Habitação a registrar alta de 4,44%, com impacto de 0,65 p.p., ou seja, metade da alta da inflação oficial. Tudo porque o governo concentrou em janeiro o bônus de redução das tarifas de Itaipu (36% da energia elétrica do país) e a baixa de 14,21% na energia em janeiro veio com juros e correção monetária.

Mas há lados positivos na leitura da inflação oficial, que acumulou 1,47% no ano e 5,06% nos últimos 12 meses, mantendo-se bem acima do teto da meta de inflação (4,50%). É que, mesmo com nova subida de 10,77% do café moído, que acumula alta de 20,25% no ano e 66,18% em 12 meses, o item Alimentação e Bebidas deu sinais de desaceleração com a entrada da nova safra de grãos no mercado e o recuo do dólar (no Brasil, nesta quarta-feira, o dólar era negociado, às 13h06, a R$ 5,8165, com alta de 0,11%, num dia em que o ouro subia 0,44% e a prata 1,425 contra o dólar nas bolsas internacionais). O índice de difusão dos preços em alta caiu de 65% em janeiro para 61% em fevereiro, com os produtos alimentícios caindo de 71% para 65%. O lado ruim é que, com os aumentos de energia, educação e combustíveis, os outros produtos em alta aumentaram de 60% para 65%, e pressionaram os reajustes de serviços.

A Alimentação e Bebidas subiu apenas 0,70% (0,95% em fevereiro de 2024), contra 0,96% em janeiro (1,38% no mesmo mês do ano passado). Vale recordar que no último trimestre do ano passado, impulsionado pela escalada do dólar, o item acumulou alta de 3,87% (1,06% em outubro, 1,55% em novembro e 1,18% em dezembro). A desaceleração da inflação de alimentos, apesar da resistência do café, em alta no mercado mundial, e do ovo (a gripe aviária nos Estados Unidos derrubou a produção local e atraiu a exportação de ovos para os EUA, onde o grupo JBS, que comprou a Mantiqueira no fim de 2024, atua fortemente nos mercados de carnes), é flagrante no comportamento da alimentação em domicílio.


Fonte: IBGE



Quando se observa o comportamento dos alimentos (que tiveram alta de 0,70%, quase metade dos 1,31% do IPCA), percebe-se que, além do novo alívio nas carnes, que subiram apenas 0,08%, acumulando 0,44% nos dois primeiros meses, contra 1,67% em alimentos e bebidas e 1,47% na inflação geral, fica patente que o conselho do presidente Lula (ridicularizado pela oposição), para a dispensa ou troca dos alimentos mais caros, faz todo sentido quando se observam os altos e baixos em alguns produtos listados (frutas, hortaliças, legumes e tubérculos oscilam muito), e uma boa gestão permite a substituição de itens que subiram, como melancia, mamão e açaí, por outros cujos preços estão refluindo (como a batata inglesa, o arroz, o óleo de soja, a laranja e a banana d’água).


OLM

Incômodos políticos

Mas se o presidente Lula quer usar o combate à inflação para reverter a onda de impopularidade (que já atinge Donald Trump em menos de dois meses de governo, pela alta dos preços dos ovos, do café e do suco de laranja (três elementos fundamentais do “breakfast” americano, além das carnes suína), devia atentar para dois fatos: das 16 capitais ou regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE, nada menos que 10 estão com a variação em 12 meses do IPCA acima de 5%. O IPCA mede as despesas das famílias com renda até 40 salários-mínimos (R$ 60.720).

E o pior é no INPC, que mede as despesas das famílias com renda até cinco salários-mínimos (R$ 7.590), ou seja, a maior concentração do eleitorado, e subiu 1,48% em fevereiro, por maior pressão dos alimentos nos orçamentos das famílias de menor renda. Nada menos que seis das 16 capitais estão com índices inflacionários acima de 5% e todas em ascensão. E a maior inflação na baixa renda está em Brasília: 5,65%.


OLM

Deixe seu comentário