O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Produtos com isenção sobem nas bolsas

Publicado em 10/03/2025 às 15:07

Alterado em 10/03/2025 às 15:09

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O governo brasileiro deve comemorar que a barril do petróleo tipo Brent teve nova queda (-0,60%) no contrato para entrega em maio, sendo cotado a US$ 69,94. Pode não ser muito bom para as exportações e as receitas da Petrobras, mas a queda nos contratos de combustíveis em geral (com o fim do inverno) prenuncia, junto com o petróleo uma ajuda considerável na batalha contra a inflação de um dos insumos mais sensíveis na economia mundial.

No Brasil, estudos agora apontam que os preços do diesel e da gasolina nas refinarias da Petrobras estão acima das cotações internacionais. Isso é bom. Menos uma preocupação no “front” da inflação. A gasolina é o item, entre os 377 pesquisados pelo IBGE, que tem a maior ponderação no cálculo do IPCA (4,76%). Por sinal, o próprio mercado fez – nos últimos cinco dias úteis - pequenos ajustes (para baixo) nas projeções da Focus para a inflação de 2025 (subiu 5,65% para 5,68%, mas caiu para 5,60% na visão dos que analisaram as últimas medidas. Para 2026, o IPCA foi mantido em 4,40%, mas caiu para 4,26% na mediana dos últimos cinco dias úteis.

O IBGE divulga quarta-feira a inflação oficial de fevereiro. As projeções da Pesquisa Focus, colhida sexta-feira pelo Banco Central junto 142 instituições financeiras, consultorias e institutos de pesquisa e divulgada nesta segunda-feira apontam, na mediana, para um IPCA de 1,35%. Mas a mediana das respostas dos últimos cinco dias úteis, já captando as medidas do governo para isentar do imposto de importação produtos sensíveis na alimentação, como o café, os óleos comestíveis, a soja, o milho, o leite, os ovos e a sardinha, além de macarrão e as carnes, já apontou uma reversão de expectativas para 1,30%. É o maior índice esperado para o ano.

Com a entrada no mercado da supersafra de grãos e os preços dos combustíveis com viés de baixa, basta o Banco Central conseguir manter o dólar estável para afastar o desconforto inflacionário. Com os juros altos os comerciantes não podem sustentar estoques com preços altos e terão de reduzir preços. Isso é a dinâmica natural da economia. As intervenções pontuais do governo visam evitar que a inflação acumulada em 12 meses estacione acima do teto da meta de inflação (4,50%) na perigosa faixa dos 5,00%.

O dólar voltou a ajudar hoje, andando de lado nos principais mercados (exceto em relação às moedas de países já atingidos pelas tarifas de Donald Trump. Depois de operar em ligeira baixa na parte da manhã, a moeda americana registra pequena alta após o meio-dia, sendo negociada no Brasil a R$ 5,7970, alta de 0,15% às 12:54. Euro e libra esterlina também estavam em baixa de 0,1% e 0,11%, respectivamente. Mas o dólar caía 0,57% frente ao iene e subia 0,17% contra o franco suíço. O dólar subia 0,34% contra o dólar canadense e +0,27% contra o peso mexicano. Significativa era a alta de 0,35% contra o yuane chinês, indicando que as autoridades chinesas estão usando a baixa do câmbio para compensar os aumentos de tarifas nos Estados Unidos.

A guerra de tarifas provocou um maremoto nos mercados de commodities (cotadas em dólares), em sequência à dança das moedas. Além do Brent, o complexo soja (grão, óleo e farelo) está em baixa na Bolsa de Chicago, o suco de laranja cai 5%, acompanhando as oscilações para baixo das bolsas de ações com o temor de que a parafernália tarifária de Trump desorganize as cadeias produtivas e produza recessão nos Estados Unidos. Entretanto, as cotações futuras do milho ainda estavam em alta (+0,77% no contrato de maio), assim como o arroz, açúcar e o café o cacau, mercadorias agrícolas atingidas por eventos climáticos mundiais no ano passado.

O paradoxo da Tesla

Pode uma empresa que só produziu 1,8 milhão de veículos elétricos em 2024, contra 44 milhões das nome maiores montadoras, como a Tesla, de Elon Musk, valer US$ 749 bilhões, o mesmo que o valor de mercado das “Big Nines”? Tem gente que faz contas e já percebeu que apenas 25% do valor da Tesla está ligado ao setor automotivo, enquanto a maior parte das apostas vem das expectativas de crescimento com robotáxis e inteligência artificial – tecnologias que Musk promete desde 2016, mas não entrega.

Entre as expectativas e a realidade abriu-se um fosso. Em dezembro, antes da posse no governo Trump, a Tesla chegou a valer US$ 1,5 trilhão em capitalização no mercado. Mas, de lá para cá as ações despencaram 45%. Está sendo uma queda tão turbulenta quando das naves da SpaceX.

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