O OUTRO LADO DA MOEDA
Real/dólar tem menor cotação desde outubro
Publicado em 14/02/2025 às 16:12
Alterado em 14/02/2025 às 16:12
A ameaça do secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, de que além das tarifas e barreiras não tarifárias, o governo Trump vai examinar “a eventual manipulação cambial de países que desvalorizaram suas moedas para compensar possíveis aumentos de tarifas” mexeu com os mercados de câmbio em todo o mundo. Mas a valorização do real, que atingiu sua melhor cotação contra o dólar desde a última semana de outubro, quando foi negociado nesta sexta-feira, após o meio-dia, na mínima de R$ 5,7130, deixa o Brasil em posição confortável. No avanço dos negócios à tarde o dólar subiu um pouco, sendo cotado a R$ 5,7145 às 12:35, com baixa de 0,91% da moeda americana. Desde o pico de R$ 6.3144, em 17 de dezembro, o dólar já recuou 9,50%.
Em palestra na Fiesp, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, que está conduzindo a queda do dólar com sucessivos aumentos dos juros – que tende a ser transferido para os preços no atacado e ao consumidor –, reconheceu que o Banco Central não tem poder de fazer política monetária para combater os “fantasmas” só vistos pelo mercado financeiro, sobretudo no tocante às expectativas negativas sobre a política fiscal. Como se recorda, o dólar disparou a partir de setembro com os temores dos tarifaços de Trump (que o secretário do Tesouro insinua terem sido provocados pelos países ameaçados e não pelas apostas contrárias dos agentes financeiros americanos). Mas, no Brasil, os gestores diziam que a alta do dólar, que levariam a Selic até 17% este ano, eram motivadas pelas desconfianças fiscais.
Realmente, o presidente do Banco Central não pode ser um novo D. Quixote para combater “moinhos de ventos” que existem mais na imaginação dos operadores. No ano passado, apostava-se em déficits fiscais de 1% a 1,5% do PIB, mas ficou em 0,09%. Para este ano, a mediana do mercado (na última pesquisa Focus) apostava em -0,6% este ano e -0,6% em 2025. Mas o Bradesco aposta em -0,5% este ano e -0,3% em 2026, enquanto o Itaú prevê -0,7% este ano (-0,4% sem efeitos de pagamentos de precatórios atrasados) e -0,7% em 2026. Já o Santander prevê déficit de -1,0% este ano.
Juros altos derrubam comércio
Com o aumento real de 2,0% no volume de vendas do comércio varejista restrito em relação ao mesmo mês do ano anterior, já se nota a desaceleração da atividade no final do ano. O Varejo Ampliado registrou alta interanual de 1,4%, também abaixo das expectativas de mercado. A série ajustada para efeitos sazonais mostrou estabilidade no Varejo Restrito entre novembro e dezembro, enquanto o Varejo Ampliado caiu 1,1%. Do 3º para o 4º trimestre de 2024, o Varejo Restrito cresceu 0,6%, e o Varejo Ampliado, mais suscetível aos juros do crediário, caiu 0,4%. No acumulado do ano, o Varejo Restrito cresceu 4,7% e o Varejo Ampliado cresceu 4,1%, impulsionados pelo aumento da renda das famílias e pelo pagamento de precatórios.
Inflação de alimentos pesa nas vendas
Excluindo o Atacado de Produtos Alimentícios, Bebidas e Fumo, segundo a LCA Consultores, o crescimento do Varejo Ampliado em 2024 seria de 6,2%, evidenciando o impacto negativo deste setor. Em dezembro, o comércio sensível à renda caiu 0,7% m/m em relação ao ano anterior, com destaque para a retração de 1,7% no segmento de Combustíveis e Lubrificantes, reflexo da alta dos combustíveis.
Crédito e taxa das blusinhas
O comércio sensível ao crédito cresceu 4,4% a/a, com o setor de Móveis e Eletrodomésticos em alta de 10,2% e 0,7% na margem.
O aumento do imposto de importação para 20% em compras de até US$ 50 pode estar redirecionando a demanda para as lojas varejistas domésticas, com uma queda de 45,9% no valor aduaneiro das remessas internacionais entre julho e agosto.
As vendas de Veículos, Motos, Partes e Peças caíram 0,8% entre novembro e dezembro, mas ainda acumularam um crescimento de 11,7% em 2024.
A desaceleração continua
A projeção preliminar da LCA aponta para crescimento do Varejo Restrito em janeiro de 0,5% em base interanual e queda de 0,4% na margem, com ajuste sazonal. Já o Varejo Ampliado deve ter recuado 0,8% em base interanual e ficado praticamente estável na margem.
Para 2025, as projeções indicam um crescimento de 1,7% para o Varejo Restrito e de 1,9% para o Varejo Ampliado, com a desaceleração da renda das famílias e a alta da Selic que impactará negativamente a demanda e o crédito. A inflação de alimentos também deve pressionar o balanço das famílias.