O OUTRO LADO DA MOEDA
Real sobe em dia de altas de dólar e tarifas
Publicado em 10/02/2025 às 15:18
Alterado em 10/02/2025 às 15:19
Em dia de anúncio de tarifas de até 25% contra as importações de aço e alumínio, que visam principalmente a China e o Brasil (nos dois metais) e atingem Austrália, Índia, Guiné, Indonésia e Canadá no alumínio, o dólar sobe diante de quase todas as moedas. O real ara das poucas exceções. Ao meio-dia (horário de Brasília), o euro caía 0,18% ante o dólar, a libra caía 0,28%, a moeda americana avançava 0,18% contra o iene e 0,10% contra o franco suíço, com ganhos de 0,14% frente ao dólar australiano e de 0,33% contra o dólar canadense. A alta diante do peso mexicano era de 0,36%, a valorização chegava a 0,22% contra o peso argentino e de 0,24% contra o yuan chinês.
O real é alvo de uma batalha contra o dólar nos mercados futuros. Depois de fechar sexta-feira a R$ 5,8058, em alta de 0,77%, a moeda americana abriu o dia cotada a R$ 5,8086, chegou a R$ 5,8191, mas não conseguiu se sustentar acima de R$ 5,80. Às 12:15 era cotada a R$ 5,7840, numa queda de 0,40%. O comportamento do mercado diverge das projeções da pesquisa Focus, encerrada sexta-feira e divulgada hoje pelo Banco Central. Na mediana das projeções, o mercado estimava que o dólar termina o mês cotado a R$ 5,95. Mas as respostas dos últimos cinco dias úteis apontam uma queda expressiva para R$ 5,93. Para o fim de março, a mediana apontava R$ 6,00, mas as respostas dos últimos indicavam R$ 5,85.
Mercado ainda projeta dólar a R$ 6,00 e Selic maior
Embora a visão de curto prazo reconheça uma reversão do câmbio (ainda não transferida aos preços), as 146 instituições financeiras, consultorias e institutos de pesquisa que responderam à Focus ainda mantêm a visão de que o dólar fechará 2025 em R$ 6,00, assim como em 2026. Por isso, com o dólar alto – que não corresponde à visão do trimestre – o mercado manteve na mediana a previsão da Selic em 15,00%, com o IPCA terminando o ano em 5,58% (5,51% na semana anterior) mas os agentes que responderam nos últimos cinco dias úteis reduziram o IPCA novamente para 5,51% (o teto da meta é de 4,50%) e elevaram a Selic para 15,25%. Para 2026, a mediana das respostas elevou a projeção da inflação de 4,28% para 4,30%, mas as respostas dos últimos cinco dias úteis reduziram a projeção para 4,23%. Nas duas métricas a Selic foi mantida em 12,50% em dezembro de 2026.
Como se percebe, está ocorrendo uma batalha de expectativas – que se reflete nas projeções futuras do IPCA, do câmbio e dos juros. O Banco Central está fazendo a sua parte de convencer o mercado (ainda que lentamente) a reverter as projeções altistas na esteira da baixa do dólar.
As projeções para o IPCA de janeiro
O IBGE divulga amanhã, terça-feira, os resultados do IPCA de janeiro. A mediana das projeções do mercado na Focus aponta alta de 0,15% (contra 0,13% na semana anterior) e 0,16% nas projeções dos últimos cinco dias úteis. Mesma taxa prevista pelo Bradesco. Mas o banco da Cidade de Deus, cujo ex-diretor Tesoureiro, Newton David assumiu a diretoria de Política Monetária do Banco Central em janeiro, projeta inflação de 5,7%, dólar a R$ 6,00 e Selic fechando o ano a 14,75%.
A taxa de inflação em 12 meses fechou 2024 em 4,83%. Como o IPCA subiu 0,52% em janeiro de 2024, as expectativas são de que a taxa anual caia para a faixa de 4,60%. O difícil vai ser o Banco Central conseguir que a inflação não estoure o teto de 4,50% até junho.
Quem com aço fere, com aço será ferido
Como escrevi aqui na sexta-feira, os Estados Unidos respondem por 54% das exportações de aço do Brasil. A taxação de 25% anunciada por Trump merece reação brasileira na Organização Mundial do Comércio. Mas é preciso atingir áreas sensíveis da economia americana. No governo Geisel, ameaças sobre as cotas de exibição dos filmes americanos no Brasil, como represália às taxações sobre mel e tesourinhas exportadas pelo Brasil levaram ao rápido recuo da aduana americana. Agora, além do cinema, o Brasil podia ameaçar as “big techs”.