
O OUTRO LADO DA MOEDA
Montanha-russa de moedas após tarifaço
Publicado em 03/02/2025 às 14:02
Alterado em 03/02/2025 às 19:22
No primeiro dia de vigência do tarifaço de 25% para as importações americanas dos parceiros do Nafta, Canadá e México, e dos 10% que Trump pretende impor aos produtos chineses, além de ameaças aos países europeus e ao Brasil, os mercados de câmbio reagiram como uma montanha russa. Está havendo um sobe e desce incrível, como uma gangorra, ora elevando as cotações do dólar contra moedas como o peso mexicano, o dólar canadense e o euro, além do real e da lira turca, ora aliviando as pressões contra o iene, a libra esterlina e o dólar australiano.
Depois de abrir a R$ 5,8397, em baixa ante o fechamento de R$ 5,8410 (queda de -.56% no dia), o dólar começou a subir acompanhando os principais pares de moeda e era negociado às 11:57 horas (horário de Brasília) a R$ 5,88960 com alta de 1,04%, devolvendo a recuperação no mês de janeiro.
OLM
Com dólar a R$ 6,00, mercado vê Selic maior
A queda do dólar (5,81% em janeiro) não sensibilizou os participantes do mercado financeiro, consultorias e institutos de pesquisa que, em resposta à Pesquisa Focus, encerrada sexta-feira pelo Banco Central e divulgada hoje, cravaram a manutenção da taxa do dólar em R$ 6,00 no final de dezembro, sendo que a mediana das respostas dos últimos cinco dias úteis apontou para R$ 6,08. Em função da alta taxa do câmbio, a expectativa da inflação do IPCA aumentou de 5,50% para 5,51% e subiu a 5,58% na mediana dos últimos cinco dias. Isso fez com que, embora a maioria apontasse estabilidade na previsão da Selic em dezembro, mantida em 15,00% ao ano, as respostas dos últimos dias úteis apontaram para a mediana de 15,13%.
Para 2025 o dólar foi mantido em R$ 6,00, mas as respostas dos últimos cinco dias elevaram a taxa para R$ 6,10. Isso levou a previsão da Selic (estável em 12,50% em relação à semana anterior) a subir para 12,63% na mediana das respostas dos últimos cinco dias úteis.
As projeções para a inflação de janeiro, que será divulgada pelo IBGE na próxima terça-feira, 11 de fevereiro, ficaram em 0,13% (0,15% nas projeções dos últimos cinco dias). Como a taxa do ano passado foi de 0,42%, isso significaria que a taxa acumulada em 12 meses, que estava em 4,83% em dezembro, cairia para 4,52% (se der 0,13%) ou para 4,55% (com 0,15%).
Nas projeções do mercado, seriam das menores taxas do ano, pois em fevereiro, com os reajustes anuais da educação, do repique do bônus de Itaipu na energia elétrica e do recente aumento do diesel e da recomposição do ICMS dos combustíveis, o mercado espera que o índice fique entre 1,38% e 1,36% (foi de 0,83% em fevereiro de 2024) e empurre o IPCA acima de 5%.
Para março, a expectativa de 0,47% a 0,48% (0,16% em março do ano passado) empurra mais para cima o IPCA. Mas aí a Selic já estará em 14,25% e a entrada da safra de grãos no mercado tende a estabilizar os preços dos alimentos.
Impactos do diesel e do ICMS
A LCA Consultores avaliou impactos bem mais pesados dos recentes reajustes do diesel e do ICMS dos combustíveis. Ela avalia que o aumento combinado de R$ 0,0565 no diesel via ICMS em todo o Brasil. Em fevereiro, o IPCA-15 teria alta de 2,44%, enquanto o IPCA cheio subiria 4,10%. Para março, o IPCA-15 teria alta de 2,85%, mas o efeito no IPCA cheio cairia para 0,60%.
Após errar em 2024, mercado prevê déficit menor
No ano passado, o setor público consolidado registrou um déficit primário de R$ 47,6 bilhões (-0,4% do PIB), bem abaixo da estimativa do mercado que passava de R$ 100 bilhões há um ano. E, também, a previsão de crescimento do PIB era 50% menor do que a que ocorreu. Assim, todos estão revendo para menos os indicadores do déficit primário em relação ao PIB.
A LCA Consultores estima que o déficit do setor público consolidado de 2025 fique em -R$ 53 bilhões ou -0,4% do PIB. O governo central será responsável pela maior parte, com déficit de -R$ 64 bilhões ou -0,5% do PIB. Os indicadores da dívida devem continuar em trajetória ascendente: a dívida bruta do governo geral deve terminar o ano em 82,3% do PIB (+6,2 p.p.) e a dívida líquida do setor público, em 68,7% do PIB (+7,5 p.p.).
O Itaú, que era bem cético, reconhece que o “governo federal conseguiu atingir o limite inferior da meta de resultado primário em 2024, após abatimentos de despesas do resultado efetivo. (...) o cumprimento se mostrou bastante dependente do volume elevado de receitas extraordinárias ao longo do ano. Em 2025, por ora, não esperamos o cumprimento da meta de resultado primário, mas avaliamos que os riscos são de um resultado melhor do que o que esperamos, se o governo avançar novamente na agenda de aumento de receitas. Ainda assim, vemos desafios crescentes para a credibilidade de um ajuste fiscal dependente intensamente em receitas. Dessa forma, iniciativas que desacelerem o crescimento de despesas de forma estrutural e consequentemente levem a revisões na trajetória esperada da dívida pública serão mais relevantes para melhora da percepção de risco doméstico”.
Para o Bradesco “devemos continuar vendo o déficit nominal em nível elevados ao longo de 2025, mantendo a trajetória ascendente da relação Dívida/PIB. Projetamos que a dívida bruta feche 2025 um pouco acima de 80% do PIB. Por outro lado, o déficit primário deve se manter mais próximo de zero”.
Na pesquisa Focus a projeção do déficit público primário de 2025 foi mantido em -0,60% do PIB, mas caiu para -0,50% nas respostas dos últimos cinco dias, quando surgiram as boas notícias da área fiscal; para 2026 a queda foi mais expressiva, de estável em -0,60%, as respostas dos últimos cinco dias úteis caíram para -0,40% do PIB.