
O OUTRO LADO DA MOEDA
Milei usará Banco Central na largada
Publicado em 20/11/2023 às 13:31
Alterado em 20/11/2023 às 13:31
Após ter dito em campanha que iria dolarizar a economia e extinguir o Banco Central, o presidente eleito da Argentina, o ultraliberal direitista Javier Milei anunciou que sua primeira providência será ajustar as taxas de juros das Leliqs (Letras Financeiras de Liquidez do BCRA). Equivalentes à nossa Selic, por servir de remuneração à dívida pública e servir de piso às operações do mercado financeiro, as Leliqs não conseguem competir com a inflação. Elas subiram 15 pontos em 12 de outubro, passando a 133% ao ano no dia 13, mas a inflação acumulada em 12 meses até outubro alcançou 142,4%.
Em outras palavras antes de extinguir o Banco Central de La República Argentina, o novo presidente terá de usar o Banco Central para fazer a transição no mercado financeiro. Como a 2ª feira foi feriado, em comemoração ao Dia da Soberania Nacional, os mercados de câmbio, ações e bancos da Argentina não funcionaram para se medir a reação ao resultado eleitoral.
Mas o dólar no Brasil, que vinha sendo pressionado por compras de argentinos, teve novas reduções nesta 2ª feira, com as cotações caindo a R$ 4,87, uma baixa de 0,82%. E o Ibovespa sobe 0,63% a 125.561 pontos. Mais expressiva foi a reação dos papéis argentinos negociados nos mercados dos Estados Unidos. Os ADRs de empresas argentinas tiveram valorização de 45% e os bônus dos títulos da dívida externa avançaram 7%.
Transição apertada
O primeiro encontro de Javier Milei com o presidente Alberto Fernández, para definir a transição para o novo governo que tomará posse em 10 de dezembro foi adiado de hoje para amanhã, 21 de novembro. Assim, restarão menos de 20 dias para a troca de informações e dos comandos da nação.
Pressa queima a língua no petróleo
A volatilidade das cotações do petróleo tipo Brent nos mercados à vista e de futuros, que, como toda commodity cotada em dólar, depende muito da própria projeção futura da moeda norte-americana, queimou mais uma língua no Brasil. Na 6ª feira, 17 de novembro, em entrevista à GloboNews, o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, manifestando certa sofreguidão, viu na baixa temporária do Brent, semana passada (caiu a US$ 77,42 na 5ª feira), motivos para pressionar a Petrobras (e fustigar politicamente seu presidente, Jean Paul Prates) a baixar mais os preços do diesel e da gasolina.
Prates, que implementou o uso mais intenso do petróleo mais leve do pré-sal nas refinarias da Petrobras – que chegaram a operar com 96% da capacidade instalada em outubro, contra média inferior a 75% nos dois últimos anos do governo Bolsonaro –, retrucou em redes sociais afirmando que era preciso dar mais estabilidade aos preços domésticos sem acompanhar as curvas do mercado. Na vigência do f
Dito e feito. Nesta 2ª feira, não só as cotações do Brent subiram no mercado à vista como em todos os vencimentos futuros até 2030. O contrato para entrega em janeiro, que havia descido a US$ 77,42 no dia 16 de novembro, seguiu em alta dias 17, 19 e 20, cotado a US$ 82,72 depois das 12hs (horário de Brasília), com alta de 2,62% no dia e de 6,84% desde o fechamento de 5ª feira.
Na Focus, caem IPCA e PIB
E a última Pesquisa Focus, colhida pelo Banco Central na 6ª feira junto a uma centena e meia de instituições financeiras, consultorias e institutos de pesquisa e divulgada hoje, consolidou a previsão de queda de inflação de 2023 e de 2024, medida pelo IPCA. Ela estava há um mês em 4,65% para dezembro de 2023 (fechou na mediana de 4,55% de 153 respostas). Nas respostas de 108 nos últimos cinco dias úteis, a mediana foi ainda mais baixa: 4,52%. Para 2024 as projeções caíram de 3,92% para 3,91%. Ou seja, nos dois casos, dentro do teto da meta de inflação perseguida pelo Banco Central.
O lado ruim é que as projeções do PIB deste ano recuaram após a queda de 0,64% no IBC-Br do 3º trimestre (julho a setembro), de 2,89% para 2,85 (2,84% nos últimos cinco dias). Há um mês, a mediana era de 2,90%. Para 2024, a mediana segue estacionada em 1,50%, bem como as projeções da Selic: 11,75% em dezembro, e em 9,25% para dezembro de 2024 e 8,75% em 2025.
E a visão do mercado não mudou para a medida do déficit público primário (receita menos despesas, sem contar os juros da dívida) em relação ao PIB. Para 2023, o mercado espera déficit de 1,10% do PIB, nível que cai a 0,80% em 2024 e 0,60% em 2025. Ou seja, o mercado não acredita na promessa do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de perseguir o déficit zero.