
O OUTRO LADO DA MOEDA
Com 0,24% em outubro IPCA fecha ano em 4,58%
Publicado em 10/11/2023 às 13:42
Alterado em 10/11/2023 às 13:42
Com a taxa de 0,24% em outubro, abaixo das previsões do mercado (O Bradesco previa 0,31% e a LCA Consultores 0,29%) e do Banco Central, que previu 0,41% no Relatório Trimestral de Inflação de 28 de setembro, com base nas projeções da Pesquisa Focus, a inflação em 12 meses desceu a 4,82%. Assim, pelas projeções do mercado para novembro (0,30%, contra 0,41% em 2022) e dezembro (0,50% contra 0,62% em 2022) deve fechar o ano dentro do teto da meta este ano (3,25%+1,50% de tolerância=4,75%).
Mas os méritos não cabem à política monetária do Banco Central e sim à supersafra de grãos, que derrubou a inflação de alimentos (mesmo com alta de 0,31% em outubro). Nos últimos quatro anos, por falta de cuidados do governo Bolsonaro com a formação de estoques reguladores, a inflação dos alimentos quase sempre ficou acima do IPCA. Em 2019, o IPCA subiu 4,31% e os alimentos 6,37%. Em 2020, no ano da pandemia da Covid, o IPCA aumentou 4,52% e os alimentos 14,09% (o país teve de importar soja em grão fazer óleo). Em 2021, para um IPCA de 10,06% os alimentos. Ficaram 7,94% mais caros. Em 2022, o IPCA variou apenas 5,79% (pelo corte dos impostos de combustíveis, energia e comunicações), mas os alimentos subiram 11,64%.
Este ano, de janeiro a outubro, enquanto a inflação acumulou 3,75%, os alimentos e bebidas, principais itens das despesas das famílias com renda até 40 salários-mínimos (R$ 52.800) no IPCA, tiveram queda de 0,70%. Em 12 meses, a IPCA acumula 4,82% e os alimentos subiram apenas 0,48%. O efeito da redução dos preços da alimentação foi mais notável no INPC (mede as despesas das famílias com renda até cinco SM – R$ 6.600), que subiu 0,12% em outubro, 3,04% de janeiro a outubro e 4,14% nos últimos 12 meses.
Os culpados de sempre
Quando se decompõe a inflação de outubro e no acumulado do ano, percebe-se que, além dos preços declinantes da alimentação (apesar da alta de 0,53% em outubro, o preço da carne bovina caiu 11,08% desde janeiro e 10,47% em 12 meses), destaca-se a alta dos itens indexados pela inflação passada.
O reajuste das mensalidades escolares – que ignoram a baixa eleitoreira dos combustíveis em 2022 – foi de 7,96% no ano e de 7,44% em 12 meses. E o item Saúde e cuidados pessoais subiu 0,32% em outubro, por influência da diluição de 1/12 avos dos reajustes anuais dos planos de saúde (+0,76% no mês, +9,84$ de janeiro a outubro e +12,50% em 12 meses).
O golpe da 'black fraude'
Se alguém tem dúvidas de que o comércio faz uma onda de “promoções” para atrair o consumidor com falsas reduções de preços na “Black Friday” de novembro, para antecipar as vendas do Natal, os dados do IBGE sobre a variação dos preços dos Artigos de Residência (que englobam móveis, eletrodomésticos e utensílios) em setembro e outubro comprovam a má-fé.
Após caírem 0,58% em setembro, os preços dos Artigos de Residência lideraram as altas entre os nove itens do IPCA de outubro, com +0,46%. Após queda de 0,30% em setembro, os preços dos artigos de mobiliário aumentaram 0,64% em outubro. Já os eletrodomésticos e equipamentos (sobretudo de informática), que tinham caído 1,06% em setembro, voltaram a subir 1,16% em outubro. Vale dizer, formaram “gordura” para as “ofertas” mais baratas da “black Friday”. Um amigo já disse que setembro tem os melhores preços.
Seguros segura o Bradesco
Com a experiência de ter presidido o grupo segurador e depois o conglomerado bancário, que controla 100% das atividades de seguros, previdência saúde e capitalização, o presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, já disse que o Bradesco tem duas faces: a bancária e a seguradora. Pois o resultado do 3º trimestre, quando o banco teve lucro recorrente de R$ 4,621 bilhões (ligeiro aumento de 2,3% sobre o 2º trimestre), comprova que a atividade de seguro, que teve ganho de R$ 2,354 bilhões salvou a face do grupo, ao responder por 51% do lucro, cabendo às atividades financeiras 49%. A situação foi pior no 2º trimestre, quando a seguradora garantiu 53% do ganho. Até setembro de 2022, a seguradora contribuía com um máximo de 30%.
A maior parte dos problemas do Bradesco (e dos grandes bancos do país) está ligada aos calotes da Americanas. Ela pediu recuperação judicial em 19 de janeiro, a tempo de os bancos credores fazerem pesadas provisões para devedores duvidosos no balanço não publicado de outubro a dezembro de 2022. As provisões de R$ 4,851 bilhões do Bradesco no 4º trimestre de 2022 deixaram o balanço negativo no período, tendo o lucro de R$ 1,893 bilhão da seguradora respondido por 119% do resultado trimestral do Bradesco.
Conselho tem excesso de reuniões
O impacto da Americanas no balanço do Bradesco, um dos grandes credores que mais fizeram carga judiciais contra a Americanas, até o trio dos controladores anunciar a ampliação para R$ 12 bilhões nos aportes de capital da companhia, pode ser medido nas notas explicativas sobre as reuniões do Conselho de Administração do Bradesco.
O CA "reúne-se ordinariamente seis vezes ao ano e, extraordinariamente, quando os interesses da sociedade assim o exigirem". Pois nos primeiros nove meses de 2023 foram realizadas sete reuniões, sendo uma ordinária e seis extraordinárias, a maioria, claro, versando sobre Americanas.
Inadimplência dos pequenos clientes
Mas, aparentemente, o pior está passando. As provisões para devedores duvidosos que tinham fechado 2022 em R$ 57,741 bilhões e subiram para R$ 60,032 bilhões em março, atingindo o pico de R$ 60,196 bilhões em junho, caíram para R$ 59,137 bilhões em setembro. A questão é que o aumento da inadimplência está migrando do atacado para o varejo.
A carteira de pessoas físicas (R$ 360,8 bilhões) dos R$ 877,5 bilhões em empréstimos (41,11% do total) teve aumento de 5,1% em setembro de 2022 para 6,6% em setembro deste ano nas operações com atraso acima de 90 dias, embora com baixa frente aos 6,7% de junho. Pior desempenho teve a carteira de pequenas, médias e microempresas (R$ 165,2 bilhões, ou 18,82% do total), cuja inadimplência saltou de 4,5% para 7,2% no mesmo período (7,0% em junho).
Ou seja, além das renegociações do “Desenrola”, o sistema bancário só terá melhora da situação financeira dos clientes com a baixa consistente dos juros.
Mundo menor pior em 2024
A Goldman Sachs acaba de atualizar suas previsões para 2024 e 2025, com um quadro melhor do que o que previra antes. Depois de crescer 2,7% este ano, a GS estima que a economia mundial crescerá 2,6% em 2024, bem acima dos 2,1% previstos pelo consenso do mercado. Para 2025 prevê 2,7%.
Apesar da desaceleração da China (5,3% em 2023, 4,8%, acima dos 4,5% previstos pela média do mercado, em 2024 e 4,2% em 2025, quando o mercado aposta em 4,5%), o Brasil se sairia bem: 3,1% este ano, 1,6% em 2024, em linha com o mercado, e crescimento de 2,4% em 2025 (mercado prevê 2,0%).
Já os Estados Unidos cresceriam 2,4% em 2023, 1,9% em 2024 e 1,9% em 2025. A liderança nos três anos seria da Índia, que se consolida entre as seis grandes economias, com expansão de 5,4%, 6,3% e 6,5%, respectivamente.