O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Minoritários temem Petrobras na AL

Publicado em 24/10/2023 às 13:31

Alterado em 24/10/2023 às 13:31

Segundo uma das fontes a par da reunião do Conselho de Administração da Petrobras que aprovou, dia 23, a mudança nos Estatutos, com quatro votos contrários dos acionistas minoritários, a principal objeção não estava escrita nas intenções da medida, que reduziu a distribuição de dividendos e aumentou as reservas de contingências. O temor é que a maior liberdade de ação da diretoria, diante das exigências e oportunidades da transição energética, facilite investimentos na Argentina, Bolívia e Venezuela, considerados de alto risco.

Entre os 11 conselheiros (sete indicados pela União, acionista controlador, com 50,26% das ações ON, com direito a voto), os quatro votos contra foram encabeçados pelos acionistas representantes dos minoritários com ações ONs, J.J Abdalla. Dono do Banco Clássico, Juca Abdalla é o maior acionista individual da Petrobras. Votaram ainda contra Marcelo Gasparino, representante da RPS gestão de Recursos, Michele da Silva Gonsales Torres e Marcelo Mesquita de Siqueira Filho, sócio da Leblon Equities, que representa os acionistas PNs. As ações PN, que caíram 6% ontem, reagiram com alta de 1% na manhã, mas a recuperação não se sustentou: às 13 hs os papéis PN estavam cotados a R$ 34,50, alta de 0,40%.

Liberdade para a transição

Diante dos desafios da transição energética visando o cumprimento das metas de redução de emissões de gás carbônico, desde o ano passado, as maiores companhias de petróleo do mundo têm diversificado suas atividades para a produção das chamadas “energias verdes” (solar, eólica e o hidrogênio verde), como têm investido nas novas fontes de alimentação dos carros elétricos (movidos a baterias ou híbridos).

O lítio, usado nas baterias, virou alvo da Exxon, da portuguesa Galp, da estatal norueguesa Equinor, avançada na produção de hidrogênio verde, com a transformação de antigas plataformas de petróleo desativadas no Mar do Norte, em produtoras de energia eólica 100% sem emissão de CO2, assim como da gigante estatal chinesa PetroChina.

Mas as grandes “majors” americanas, ao mesmo tempo em que investem no domínio das novas tecnologias energéticas, não perdem oportunidade de explorar as últimas décadas do uso do petróleo como fonte de energia (e transformação de matérias-primas na petroquímica) ampliando a sua escala de produção na exploração de petróleo e gás. O fôlego obtido na maximização de ganhos em O&G é que vai ajudar a bancar os altos investimentos na transição.

No começo do mês, a Exxon, maior companhia petrolífera dos Estados Unidos fez uma associação de US$ 60 bilhões para assumir o controle da Pioneer, uma das maiores produtoras de petróleo e gás extraído do xisto (“shale-gas”). Hoje foi a vez da Chevron, uma das maiores concorrentes da Exxon, fechar acordo de US$ 53 bilhões para assumir o controle da Hess. Neste caso, a Chevron, que foi das pioneiras a voltar a operar na Venezuela desde o fim de 2022, está de olho nas gigantescas reservas da Guiana, onde a Hess já atua.

Pré-sal atrai no Brasil

Por sinal, ao divulgar hoje os interessados no leilão de novas áreas do pré-sal em dezembro, do qual a Petrobras não vai participar, o diretor-geral da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Rodolfo Saboia, disse que o sucesso está garantido com a declaração de interesse de gigantes como a declaração de interesse da BP, da Shell, da estatal Qatar Energy, da americana Chevron, da gigantes franco-belga TotalEnergies e da Petronas, estatal da Malásia, além de companhias de menor porte..

O fato demonstra o interesse das grandes petrolíferas em investir em locais onde há grandes reservas, que oferecem perspectiva de alto retorno pelo baixo custo da extração, enquanto os preços estiverem elevados por impasses causados pelas guerras entre Rússia (2º produtor do mundo) e Ucrânia e o risco do conflito entre Hamas e Israel se alastrar para o Oriente Médio.

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, disse semana passada, após o acordo inicial (de seis meses) entre Estados Unidos e o governo Maduro, para o levantamento das sanções à compra de petróleo venezuelano e investimento das petroleiras, em troca da realização de eleições limpas, transparentes e democráticas na Venezuela, que o país entra no radar da estatal.

Diante das restrições do Ibama à Petrobras para fazer trabalhos exploratórios destinados a avaliar as condições dos campos de petróleo e gás na costa do Amapá, na chamada Bacia da Foz do Amazonas, na Margem Equatorial, a 180 km da costa e a mais de 500 kms da foz do rio Amazonas, a estatal já tinha decidido deslocar uma plataforma para a Guiana. A Venezuela, onde a Petrobras já operou, fica ao lado.

Mais que liberdade a usar o caixa para contingências de execuções fiscais (o Carf retomou cobrança de R$ 6,5 bilhões de impostos devidos em operações internacionais) e oportunidades de negócios (a Petrobras está atenta para eventual “tag along” no controle da Braskem, da qual detém 47% das ações PNs, e sonha em retomar o protagonismo na venda direta de derivados ao consumidor 0iniciada em 1971, com a criação da BR, vendida no governo Bolsonaro), os minoritários temem que a Petrobras, por pressão do governo Lula, retome negócios que não foram bem sucedidos na Bolívia e Argentina.

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