O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

O OUTRO LADO DA MOEDA

Biruta muda de lado no PIB e na inflação

Publicado em 17/10/2023 às 12:35

Alterado em 17/10/2023 às 12:35

Bem que a LCA Consultores alertou ontem, como dissemos aqui, que os dados de serviços e do comércio, nas pesquisas mensais do IBGE, estavam sujeitos a revisões e a alterar previsões. Dito e feito. O volume da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) de agosto, segundo o IBGE, surpreendeu, com queda de 0,9% ante julho (a LCA esperava alta de 0,6% e o Itaú, +0,3%), após três meses de avanço. Influiu no resultado a queda dos serviços prestados às famílias (-3,8%), com o refluxo na demanda por viagens, hospedagens e serviços turísticos, após as férias de julho.

Os dados são preocupantes e confirmam a suspeita (apresentada pela desaceleração dos preços dos serviços) de que os apertos da política monetária aceleram a redução da velocidade de recomposição dos volumes de serviços, que embora estejam 11,6% acima do nível de fevereiro de 2020 (pré-pandemia) estão 1,9% abaixo de dezembro de 2022 (auge da série histórica). Por sinal, o índice das atividades turísticas teve queda de 1,5% em agosto, após a alta de 0,9% em julho.

O fator que pesou mais na forte desaceleração do volume de serviços foi o enfraquecimento do setor de transportes, com desempenho negativo em todos os modais: terrestres (-0,9%); aquaviário (-1,3%); aéreo (-0,3%) e armazenagem, serviços auxiliares aos transportes e correio (-5,5%). Em boa parte, isto está ligado ao esgotamento da movimentação das grandes safras de grãos (a soja já estava se esgotando nos últimos dois meses, e agora foi a vez dos estoques de milho, da 2ª safra).

Assim, se a movimentação das mercadorias entre indústria e comércio, voltadas para as grandes datas de vendas no último trimestre (Dia das Crianças, 12 de outubro), Black Friday, na 2ª quinzena de novembro e Natal) não for impulsionada, a expectativa do setor de serviços segurar o PIB estaria comprometida (juntos, o comércio, que faz parte do Setor de Serviços no cálculo das Contas Nacional do IBGE, do qual a PMS responde pela maior parte, representam cerca de 55% do Setor de Serviços, que garante 65% do PIB. E o comportamento dos gastos das famílias é determinante.

Deflação chega ao fim no IGP-10

O Índice Geral de Preços-10 (o IGP-10 levantado pela Fundação Getúlio Vargas até o dia 10 de cada mês) subiu 0,52% em outubro, com forte aceleração frente aos 0,18% de setembro. Foi a maior alta mensal desde os 0,60% de julho de 2022. Ao contrário dos índices do IBGE, que medem os gastos dos consumidores, os dados da FGV acompanham os preços agrícolas e industriais no atacado, preços ao produtor (que pesam 60%), os preços ao consumidor (30% de peso) e os custos nacionais da construção civil (10%).

Os números do ano ainda estão negativos em -4,65%, mas a taxa em 12 meses desacelerou de -6,4% em setembro para -4,88% em outubro. No mesmo mês do ano passado (o 1º após os cortes de impostos em combustíveis, energia elétrica e comunicações que gerou deflação ao consumidor), o IGP-10 caíra 1,04% e acumulava alta de 7,44% em 12 meses. O índice de preços ao produtor aumentou 0,61% em outubro, com queda de 1,41% nos produtos agrícolas e alta de 1,34% nos produtos industriais.

A maior influência altista veio do aumento de 7,31% no minério de ferro, reajustados pela China, o maior comprador do Brasil. A gasolina subiu 2,30%, contra 13,58% em setembro. Um fator preocupante foi o aumento dos preços da carne bovina vendida aos frigoríficos (alta de 2,81%, após queda de 5,44% em setembro), indicando os impactos do clima nas pastagens.

Nos preços ao consumidor houve alta de 0,25%, após 0,02% em setembro. Seis das oito classes de despesa do índice aceleraram: Educação, Leitura e Recreação (-1,32% para 2,10%), Vestuário (-0,36% para 0,04%), Despesas Diversas (-0,27% para 0,00%), Alimentação (-0,69% para -0,61%), Saúde e Cuidados Pessoais (0,01% para 0,02%) e Comunicação (0,08% para 0,09%). Individualmente, o maior aumento veio das passagens aéreas (-9,14% para 13,96%), roupas (-0,42% para -0,06%), serviços bancários (-0,42% para 0,12%), aves e ovos (-1,37% para -0,09%), artigos de higiene e cuidado pessoal (-0,91% para -0,77%) e combo de telefonia, internet e TV por assinatura (0,01% para 0,26%), com o fim do período de redução de impostos.

Ao analisar o resultado, o Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco assinalou que “os preços no atacado aceleraram em outubro, mas a dinâmica ainda é benigna”. As principais influências altistas entre os produtos agrícolas concentraram-se em pecuária, sobretudo bovinos, leite in natura e ovos, além de lavouras temporárias, como soja e mandioca.

Sem dúvida, a biruta virou. Na última previsão da Pesquisa Focus, o crescimento do PIB de 2023 é estimado entre 2,90% e 2,92% e o de 2024 cairia para 1,50%. Já a inflação do IPCA fecharia em 4,75% este ano e entre 3,85% e 3,88% em 2024.

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