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O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

Focus: IPCA dentro do teto da meta

Como a coluna vem assinalando há algumas semanas e cravou na última 6ª feira, ao citar as projeções da LCA Consultores e do Itaú, que já situavam o IPCA de 2023 dentro do teto da meta de inflação (3,25%+1,50%=4,75%), a Pesquisa Focus colhida pelo Banco Central até dia 13 de outubro e divulgada hoje (16) indicou o IPCA em 4,75%, no limite do teto da meta, na mediada de 154 respostas de instituições financeiras, consultorias e institutos de pesquisa.

As projeções dos últimos cinco dias úteis, feitas por 73 agentes, foi ainda mais otimista, com a mediana situando o IPCA em 4,69%. Os agentes econômicos reagiram favoravelmente à surpresa da inflação de 0,26% em setembro, menor que os 0,33% previstos pelo mercado. Há um mês, a taxa oscilava em torno de 4,86%, acima do teto. Para 2024 a previsão ficou estável em 3,88% (3,85% nas projeções dos últimos dias úteis). O teto da meta é 3,00%+1,50%=4,50%.

Além da alimentação (que acumulou queda de mais de 4% de junho a setembro), por efeito da supersafra de alimentos, neutralizando o reajuste dos combustíveis, um dos fatores que levaram o mercado a reduzir as projeções da inflação foi a queda de 10,20% para 10,10% na variação acumulada dos preços acumulados este ano. A nova política de preços da Petrobras, adotada em maio, em substituição à PPI, evitou que as oscilações especulativas do mercado fossem repassadas aos preços domésticos, atualizadas pelo câmbio, o que, pelo efeito da disseminação da indexação, tornaria impossível o retorno aos patamares anteriores em caso de queda nos preços externos.

Apesar de todas as turbulências no mercado do petróleo e derivados (que vinham desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022 e se agravaram com os atentados terroristas do Hamas em Israel, em 7 de outubro), os preços do petróleo tipo Brent não estão disparando, como alardeiam “especialistas”. O contrato para entrega em dezembro recuou hoje mais de 1%, para abaixo de US$ 90 e os contratos até dezembro de 2024 estão em queda.

Um dos motivos para isso foi a firme determinação dos Estados Unidos de evitar o alastramento do conflito gerado pelo revide de Israel ao Hamas para além das fronteiras de Israel e da Cisjordânia. Como pano de fundo, o que inibe a formação de preços especulativos é a disposição dos bancos centrais (dos EUA, Europa e Reino Unido) de manter os juros elevados para conter a inflação. Isso desacelera a economia e aumenta os riscos de movimentos especulativos em commodities, moedas, ações e títulos de dívida.

Indicadores mostram estagnação

Por sinal, na semana em que o Congresso ameaça retomar a votação de medidas para reforçar a arrecadação do governo em 2023 e 2024, com a tributação sobre investimentos “offshore” e algum tipo de fundo exclusivo (a viagem do presidente da Câmara, Arthur Lira, à China, com ministros e empresários, pode adiar os trabalhos para a semana que vem), serão conhecidos mais indicadores de agosto e setembro que podem confirmar a estagnação da economia no 3º trimestre, após o forte crescimento do 1º e 2º .

Amanhã será divulgado, pela FGV, o IGP-10 de outubro, com expectativa de alta mensal de 0,36%. Isso levaria a taxa em 12 meses, que estava negativa em 6,4% em setembro, para -5,0%. Os preços industriais no atacado poderão acelerar, por impacto da última alta de combustíveis, mas os preços agrícolas no atacado ainda deverão apresentar alguma deflação. O que confirma o otimismo sobre o IPCA, que tem outra metodologia de pesquisa pelo IBGE.

Nesta 3ª feira o IBGE divulga os dados de agosto para a receita do setor de serviços. Na 4ª feira o IBGE divulga os dados da pesquisa mensal do comércio e na 5ª feira será a vez do Banco Central divulgar o índice mensal de atividade IBC-Br de agosto. A indústria teve crescimento de 0,4%.

A LCA Consultores está estimando um aumento de 0,3% no volume mensal de serviços (+2,6% a/a) com sinais mistos em todas as categorias. O dado mais importante para a evolução do PIB (devido à sua aderência em todas as atividades da produção e dos serviços, o consumo das famílias, tem estimativa de crescimento de 0,5% sobre julho.

Para as vendas do varejo, ela espera que o índice amplo recue 0,4% na base anual, com queda de 1% na taxa mensal. A LCA observa que pôs em modo revisão as previsões, porque “há muita incerteza em torno das estimativas amplas do índice, uma vez que uma nova atividade (atacado especializado em alimentos) foi recentemente adicionada à nova metodologia e apenas 19 observações estão disponíveis”.

Para o IBC-Br, ela estima queda de 0,3% na taxa mensal (+1,9% a/a), embora esse número possa mudar de acordo com os resultados da PMC e da PMS.

Previsão para PIB e Selic estáveis

Nas projeções do mercado, o PIB de 2023 foi mantido em 2,92 (2,90% nas projeções dos últimos cinco dias úteis, indicando a tendência de esfriamento, causado pelo aperto monetário) e em 1,50% para 2024. Já a taxa Selic foi mantida em 11,75% em dezembro e 9% para o fim de 2024.

A projeção da Focus para o IPCA nos últimos três meses do ano assinala 0,33% em outubro (0,32% nos últimos cinco dias úteis); para novembro, a projeção é de 0,32% (0,33% em 5 dias) e a taxa sobe para 0,52% em dezembro. Como em todos os meses do ano passado o IPCA foi bem maior, o mercado cravou a redução do IPCA dentro da meta.

Se isso ocorrer, Roberto Campos Neto não precisará escrever uma carta ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, explicando os motivos do não cumprimento da meta (como em 2022, quando quase foi ajudado pelo corete eleitoreiro dos impostos de combustíveis, energia elétrica e comunicações). Mas o mérito não é da política monetária e sim da trajetória bem mais suave dos preços dos alimentos e dos combustíveis. A rigor, o Banco Central errou feio, pois manteve os juros calibrados para inflação bem maior, em função dos alimentos e combustíveis (preços que não controla). Com isso, submeteu a sociedade ao garrote dos juros.

Palavras sensatas

O presidente do Federal Reserve da Filadélfia, Patrick Harker, que integra o “board” do Fed, afirmou que o processo de desinflação segue em andamento, apesar da alta acima do esperado do CPI em setembro. Ele entende que a política monetária é restritiva o suficiente e que a sua continuidade permitirá que o processo de desinflação avance, além de proporcionar maior equilíbrio no mercado de trabalho. Harker enfatizou que o acompanhamento sobre a tendência da inflação não pode se ater apenas a uma leitura mensal, que é normalmente volátil.

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