O OUTRO LADO DA MOEDA
Petrobras faz mercado dar meia volta no IPCA 2023
Publicado em 16/08/2023 às 15:00
Alterado em 16/08/2023 às 18:42
Os reajustes de quase 16% no litro da gasolina vendido pela Petrobras nas refinarias e a alta de 25,8% no litro do óleo diesel, levaram as principais instituições financeiras e consultorias a revisar novamente para cima o IPCA deste ano. Por coincidência, tanto o Itaú, quanto a LCA Consultores haviam reduzido no começo do mês a projeção de inflação deste ano de 5,1% para 4,9%. Após os reajustes, deram meia volta e projetam alta dos 5,1% anteriores. Mas ambas mantiveram as projeções do IPCA 2024: 4% (LCA) e 4,3% (Itaú).
A LCA já previa um reajuste, na análise conjuntural de 11 de agosto, para a 2ª quinzena deste mês, mas se surpreendeu com a magnitude (reflexo da alta do dólar e das cotações internacionais dos combustíveis). Como os aumentos valem a partir de 16.08, seu impacto será maior no IPCA de setembro (quando a LCA espera alta de 6,30% para a gasolina e de 13,75% para o diesel), No IPCA, a LCA espera alta 0,27% em agosto e de 0,56% em setembro. (antes dos reajustes, as taxas esperadas eram de 0,24% e 0,28%). Portanto, a expectativa sobre a taxa de setembro dobrou. E os impactos vão até outubro.
A LCA elevou “a projeção para o grupo Transportes em 2023 de 6,9% para 8,4%, o que empurrou a projeção para o conjunto de preços administrados de 9,3% para 10,8%. A projeção para a alta do IPCA em 2024 foi mantida em 4%, num contexto em que seguimos projetando câmbio médio próximo de R$ 5,00 por dólar para o ano que vem”, diz a consultoria.
A visão do Itaú
Em comunicado na noite de ontem, o Itaú informa que “após o reajuste dos preços dos combustíveis, agora espera alta de 5,1% no IPCA neste ano. O impacto da medida fez o Departamento de Estudos Macroeconômicos do Itaú revisar novamente para cima a previsão da inflação em 25 pontos base. O banco já previa reajuste de 5% e agora está estimando que o aumento de 16% na gasolina produzirá impacto de 32 pontos base no IPCA (a gasolina é o item de maior peso (4,79% entre os 377 pesquisados pelo IBGE). Já o reajuste de quase 26% no diesel terá impacto de 22 pontos base.
A expectativa do Itaú é de que, com os reajustes, o IPCA tenha alta de 0,31% em agosto, de 0,50% em setembro (25 pontos base acima das previsões anteriores) e de 0,37% em outubro. A pressão direta e indireta dos preços dos combustíveis aumentará a taxa da inflação nos preços regulados em 10,3% este ano (sendo de 18,2% a alta prevista para a gasolina e de 9,6% o aumento da energia elétrica residencial). Para 2024, o Itaú prevê alta de 4% nos preços monitorados (sendo 3,6% para a energia elétrica e 3,4% para a gasolina).
Em 2023, os preços livres no mercado terão aumento de 3,5%, com destaque para a leve deflação de 0,5% nos alimentos, causada pela supersafra, cujo impacto pode ser comparado à alta próxima a 13% no grupo no ano passado. Vale lembrar que o Itaú já tinha previsto preços do petróleo em US$ 85 por barril e a taxa de câmbio em R$ 5,00 por dólar no final do ano. Assim, o banco não vê “muito espaço, neste momento, para eventuais ajustes residuais de preços na refinaria”.
O Itaú prevê ainda uma “inflação de 2,4% nos bens industriais e um aumento de 6,0% nos preços dos serviços. Este último grupo, mais pegajoso e com o impacto de um mercado de trabalho ainda resiliente em meio a um ritmo robusto de alta de salários, tende a apresentar uma trajetória desinflacionária mais lenta e gradual, compatível com o estágio atual do ciclo. Esse grupo responde pela principal diferença em nossas previsões em relação à pesquisa Focus, que apontava na 6ª feira (antes dos reajustes) IPCA de 4,8%, com alta de 9% em preços administrados e de 5,6% em serviços”.
Efeitos na política monetária
A pressa com a qual o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, acompanhado dos diretores Gabriel Galípolo (Política Monetária) e Fernanda Guardado (Riscos Internacionais), tratou de esclarecer a visão da autoridade monetária sobre os riscos vizinhos (Argentina) e do cenário internacional (desaceleração na China, crise mais profunda na Rússia e Reino Unido) e os impactos dos reajustes, (+40 pontos base de aumento do IPCA), levou a LCA a advertir, em sua Análise Conjuntural, que o período mais benigno da inflação para o consumidor parece ter ficado para trás”. E considera que as expectativas inflacionárias – que vêm recuando há várias semanas – poderão sofrer alguma revisão para cima, o que gera mais cautela na política monetária.
Com base nos bons resultados do 1º semestre, a LCA reconhece que a atividade doméstica apresentou desempenho um pouco melhor que o esperado no 2º trimestre – o que levou a consultoria a revisar ligeiramente para cima as projeções para o crescimento do PIB, tanto em 2023 (de 2,2% para 2,4%), quanto a projeção para 2024 (elevada de 1,5% para 1,6%).
Face os últimos acontecimentos na cena internacional e doméstica, a LCA reforçou “a perspectiva de que o ciclo de flexibilização da política monetária doméstica contará com cortes cautelosos de juros, não superiores a 50 pontos base por reunião do Copom”. Ela espera que a Selic feche o ano em 11,75%.
Bacia de Campos: a volta da velha senhora
Há anos, o Brasil celebra as contribuições do petróleo e gás do pré-sal, concentrado, sobretudo na Bacia de Santos, de onde o país extrai mais de 2 bilhões de barris/dia de petróleo. Mas a produção da velha Bacia de Campos, cujo 1º poço foi descoberto em agosto de 1974 e que deu importante contribuição ao Brasil em 40 anos de produção contínua, está sendo revitalizada pela Petrobras e ainda dará muita contribuição ao país.
Com a entrada hoje em operação do Anita Garibaldi, que se junta ao Ana Neri, a Petrobras completa uma renovação completa nos campos de águas profundas e do pré-sal de Marlim e Voador, na Bacia de Campos. Nada menos que nove velhas plataformas estão sendo descomissionada (aposentadas) e vão garantir o aumento da produção dos atuais 565 mil barris/dia para 920 mil barris/dia até 2027 (+62%). Os navios FPSO separam água salgada do petróleo e gás e os armazenam em tanques especiais até a chegada de navios aliviadores de óleo e gás. O Ana Neri já opera desde 7 de maio, com capacidade para produzir até 70 Mbpd de óleo e processar 4 MMm3 de gás natural/dia. O Anita Garibaldi processará 80 mil barris/dia de óleo e até 7 milhões de m3 de gás/dia.
O mais importante, assinala o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, é que o processo de modernização da Bacia de Campos, além de assegurar sua longevidade, está empregando tecnologias de última geração para a redução de emissões de gases de efeito estufa, combinando eficiência e descarbonização. Em relação às nove plataformas que operavam até 2018 em Marlim e Voador, haverá redução de 60% nas emissões de gás carbônico.
De mãos dadas com a ecologia
As plataformas que estão sendo descomissionadas (em 7 de julho houve o 1º leilão de destinação sustentável da P-32) vão assegurar a reciclagem verde no Brasil com foco na geração de valor e com fomento à economia circular, sustentabilidade, segurança e respeito às pessoas e ao meio ambiente, alinhado com as melhores práticas ASG da indústria mundial.
Esse salto tecnológico, com pegada ecológica na indústria do petróleo não deixa de ser um recado ao agronegócio. Tudo pode ser feito melhor. Muita gente fala da geração de divisas cambiais geradas pelo agronegócio. Mas, a verdade é que sem a aluda da poupança de divisas na importação de petróleo, a partir da entrada em operação dos poços produtores da Bacia de Campos, nos anos 80, o Brasil não teria superado a crise da dívida externa.
Agora, a Petrobras garante vida longa à Bacia de Campos, mas com forte redução de danos ao meio ambiente. O que pode ser possível também no avanço da agricultura sobre terras ocupadas pela pecuária, sem necessidade de derrubar florestas da Amazônia e da Mata Atlântica e ainda do cerrado. Assim, seria tremenda irresponsabilidade crer que a Petrobras não redobrará cuidados na pretendida exploração da Margem Equatorial do Amapá.