O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

População e dólar caem e inflam PIB per capita?

Publicado em 18/07/2023 às 13:52

Alterado em 18/07/2023 às 13:52

O IBGE divulgou, em junho, uma parcial do Censo 2022 com uma população de 203,062 milhões em 1º de agosto de 2022. O número surpreendentemente baixo, causou estranheza. Em agosto de 2022 o “relógio” populacional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas registrou população de 215,450 milhões. Mesmo admitindo que os números são incompletos, algo não bate.

A falta de precisão nos números do país tem impactos socioeconômicos e políticos. A “redução” na população de vários municípios pode implicar queda de participação no fundo de participação de cada um deles na repartição tanto do bolo dos recursos tributários da arrecadação federal quanto da estadual (ICMS). Não é pouco, pois muitos municípios sobrevivem dessas mesadas.

Mas há indicadores econômicos que podem ser muito distorcidos se a população, de fato, encolher. Tomemos, como exemplo um importante indicador econômico – o PIB per capita. Ele é calculado pelo montante do Produto Interno Bruto (PIB), atualizado pela taxa de câmbio (ao longo do ano calcula-se um câmbio médio), dividido pelo tamanho da população.

Se a população “encolher” como apontou o 1º resultado parcial do Censo 2022, com o dólar perdendo espaço para o real este ano, haveria um aumento forte do PIB em dólar e uma “explosão” do PIB per capita em dólares. Qualquer governo adoraria produzir esse “milagre econômico”, mas ele não resiste à realidade. Ou estava errado antes; ou está errado agora.

Não é por outro motivo que, quase um ano depois (dos dados parciais do IBGE de 1º de agosto de 2022), os dois maiores bancos privados do país – o Itaú e o Bradesco - seguem projetando a população brasileira em 216 milhões de habitantes até o fim deste ano. Se os dados do Censo fossem definitivos e corretos, Bradesco e Itaú teriam “captado explosão populacional”, causada por um “baby boom” e por imigração em massa para o território nacional.

Nas contas do Itaú, o PIB per capita deste ano (com crescimento estivado em 2,1% para o PIB) e dólar a R$ 5,00, aumentaria dos US$ 8.936 de 2022 para US$ 9.851 de 2013. Já nas contas do Bradesco (+2,1% no PIB), a variação seria de US$ 8.941 em 2022 para US$ 9.986.

Entretanto, se o a população “encolhesse” a 203 milhões, haveria aumento per capita, em dólar, de mais de 6%. Seria um “novo milagre brasileiro”.

IBC-Br não tira alta de 0,3% no PIB no 2º trimestre

A queda de 2% no IBC-Br de maio (a prévia do PIB do Banco Central), após alta de 0,8% em abril, surpreendeu o mercado, que esperava recuo bem menor. Na métrica contra maio de 2022, o IBC-Br registrou alta de 2,1%, na 19ª taxa positiva nesta comparação, mas a previsão do mercado era de +4,0% e LCA Consultores projetava (+4,4%). Na média móvel de três meses maio registrou -0,5%, quebrando a sequência de três fortes resultados positivos.

A gangorra do agro

Depois de alta de janeiro a abril, o setor agropecuário foi o grande responsável pela decepção de maio, quando termina a safra de soja. A gangorra do IBC-Br pode ser justificada devido ao valor recorde da safra de grãos deste ano. Encerrada a colheita, há impactos para baixo no setor de transporte e armazenagem (que compõe a Pesquisa Mensal de Serviços do IBGE).

Entretanto, apesar da forte desaceleração, o cenário para junho e do 2º trimestre como um todo ainda será positivo, avaliam a LCA e o Bradesco, que está trabalhando com um carrego estatístico de 0,3% do 1º para o 2º trimestre, que fecharia o período com avanço de 0,3% sobre os primeiros três meses do ano. Como o PIB avançou 1,9% no 1º trimestre, isso só garantiria um crescimento acumulado de mais de 2,2% - acima das previsões do Bradesco e do Itaú para 2023.

Retomada em junho

Para junho, a LCA está com as seguintes previsões preliminares para os índices do IBGE: i) produção industrial com variações de +0,3% sobre junho de 2022 e de +0,1% frente a maio; ii) volume vendido pelo comércio varejista ampliado com variações de +4,5% sobre junho de 2022 e queda de 0,7% frente a maio e iii) volume de serviços com variações de +4,6% sobre junho de 2022 e +0,7% sobre maio.

Esses números projetariam, segundo a LCA, um IBC-Br de junho, com variações de +1,8% sobre junho de 2022, e de +0,5% sobre maio. Caso estas expectativas se confirmem, o IBC-Br terá registrado variações de +2,5% sobre o 2º trimestre de 2022 e +0,3% sobre o 2º trimestre de 2023.

A LCA reconhece que [com o mesmo número do Bradesco], apesar da surpresa negativa de maio e considerando as diferenças entre o IBC-Br e o PIB, os números apontam para um PIB do período abril-junho algo acima do que estima atualmente (+2,3% sobre o 2º trimestre de 2022 e variação 0,0% sobre o 1º trimestre). Tudo seria melhor se os juros estivessem mais baixos.

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