O OUTRO LADO DA MOEDA
Fed reduz inflação; Copom trava o PIB
Publicado em 12/07/2023 às 16:30
Alterado em 12/07/2023 às 18:27
Os preços ao consumidor nos Estados Unidos, medidos pelo CPI, tiveram variação de apenas 0,2% em junho, abaixo das estimativas de 0,3%. Isso levou a taxa acumulada do núcleo da inflação nos últimos 12 meses (excluídas as variações de alimentos e energia) a 4,8%. E a projeção anualizada da taxa de junho a 3%. Uma redução notável para a taxa que estava em 9% há um ano.
Com esses indicadores, cresceram nos EUA as apostas de que o Federal Reserve Bank poderá não retomar a alta dos “Fed Funds” na reunião de 25 e 26 de julho. Ou, se o fizer, seria a última alta de 0,25 ponto percentual, para a faixa de 5,25%-5,50%. Os investidores fizeram altas apostas de valorização de ações, commodities e criptoativos, pois juros baixos enfraquecem o dólar.
No Brasil, a notícia provocou valorização do real frente ao dólar, que caiu 1,38% (pela 1ª vez abaixo de R$ 4,80, a menor cotação desde maio de 2022, quando Lula passou a liderar as pesquisas) e alta de mais de 1% no Ibovespa. Para os analistas, que ontem ficaram em dúvida sobre a possibilidade de corte de 0,50 ponto percentual na Selic em 2 de agosto, o cenário de inflação branda nos Estados Unidos abre caminho para o Copom ser mais agressivo, sobretudo com a posse de Gabriel Galípolo e Ailton Aquino no colegiado.
Copom em sinuca de bico
A mudança do cenário nos EUA pegou muita gente no contrapé no Brasil, sobretudo os que advogam uma ação mais parcimoniosa do Copom na redução das taxas de juros a partir de agosto. Esse caminho “parcimonioso”, mais do que a “cautela”, defendida pela diretora de Riscos Internacionais, Fernanda Guardado, em entrevista à “Folha de S. Paulo” de ontem, e reiterada ontem à tarde pelo diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, em palestra no Fórum Anual de Economia e Cooperativismo de Crédito, promovido pelo Sicredi, em Anápolis (GO), é mais uma defesa do atual colegiado contra seus erros de avaliação.
O tempo está mostrando que o Banco Central jogou excessivamente na retranca para tentar derrubar a inflação, mas ao contrário de um editorial “chapa branca” na edição de hoje, 12 de julho, de “O Globo”, com o ridículo título “IPCA de junho é resultado do trabalho do BC”, a queda da inflação é resultado de ações dos governos Bolsonaro e Lula nos preços administrados.
Vale recordar que, no ano passado, o então ministro da Economia, Paulo Guedes, percebendo, em maio, que a escalada da inflação (chegara a 12,13% nos 12 meses terminados em abril) levaria à derrota de Bolsonaro, porque asfixiaria a economia (e o emprego) e não derrubaria a inflação a tempo, rompeu com as teorias monetárias e partiu para o maior intervencionismo na economia brasileira desde o Plano Real.
Guedes dedidiu cortar temporiamente, de julho até 31 de dezembro, os impostos (federais e estaduais) de combustíveis, em especial da gasolina, item de maior peso no IPCA, energia elétrica e comunicações, além de criar benesses eleitoreiras com a distribuição de bilhões de reais aos eleitores (aumento do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600 e distribuição de seis mesadas de R$ 1mil a caminhoneiros autônomos e taxistas).
A medida gerou deflação de 1,32% de julho a setembro e derrubou a inflação para 5,79% em dezembro. Mas não evitou a derrota de Bolsonaro, nem que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tivesse de escrever nova carta ao presidente do Conselho Monetário Nacional (em 2022 fora para o ministro da Economia, Paulo Guedes; desta vez para o novo ministro da Fazenda, Fernando Haddad) explicando o estouro do teto da meta, de 5,25%.
A situação criada em 2022 deixou uma bomba armada para o governo Lula. Se Bolsonaro fosse reeleito, desde 1º de novembro, Guedes estaria tomando providências para retomar os bilhões em impostos de que abrira mão. Cauteloso, face os acampamentos à frente dos quarteis pedindo intervenção militar, Lula adiou a reoneração dos impostos para março e de forma escalonada (os fatos gravíssimos de 8 de janeiro mostraram que o instinto político de Lula estava aguçado).
Mas o Banco Central comprou a aposta do mercado de reoneração plena e automática dos impostos em 1º de janeiro. Prova disso é que os Relatórios Trimestrais de Inflação de dezembro, março e junho, elaborados pela diretoria de Política Econômica, erraram nas projeções de inflação. Na previsão de uma febre mais alta da inflação, o Copom prescreveu dosagem mais forte de Selic, mantida em 13,75% ao ano.
Entretanto, com a forte queda dos preços no atacado dos alimentos, devido à supersafra, plantada em 2022 e colhida no 1º trimestre (com forte alta de 1,9% no PIB) e a nova política de preços da Petrobras, que abandonou o acompanhamento de 100% do PPI (paridade de preço internacional), valendo-se do custo mais baixo do petróleo nacional e do uso mais intenso da capacidade instalada das refinarias, que chegou a 93% em junho – o PPI foi criado visando a redução de 50% no parque de refino da Petrobras, para abrir caminho à importação de combustíveis), a inflação veio sempre abaixo e ficou negativa em 0,8% em junho (a 1ª queda em um ano).
Diogo Guillen, que acumulou a diretoria de Política Monetária desde março, errando duplamente, insistiu ontem que a desancoragem das expectativas (em parte a reversão das expectativas criada pelo próprio BC nos RTIs) trouxe a inflação para baixo, procurando transferir ao Banco Central méritos alheios. Espero que Galípolo e Aquino renovem a visão atrasada do Copom. Mesmo o foco nos preços dos serviços não impediu que o a Pesquisa mensal de Serviços do IBGE registrasse alta de 0,9% em maio. Há serviços ligados ao agronegócio e à exportação que estão imunes às travas do Copom e puxam o trem da economia, junto com a maior atividade interna da Petrobras.
LCA prevê IPCA de 0,03% em julho
Depois da deflação de 0,08% no IPCA de junho, a LCA Consultores está prevendo índice zero no IPCA de julho (na verdade, 0,03% positivos). É uma estimativa bem abaixo dos 0,21% previstos na Pesquisa Focus encerrada no dia 7 de julho, com previsão de 0,15% nas apostas dos últimos cinco dias úteis. Como em julho do ano passado houve deflação de 0,68%, se a LCA estiver certa a taxa acumulada em 12 meses do IPCA, que descera a 3,16% em junho, subiria a 4,18%. E o juro real ficaria em 9,18%. Com queda para 13,50, cairia a 8,94% e com uma baixa para 13,25%, ainda estaria em 8,70%, muito acima do juro real neutro de 4,50%, considerado ideal pela Comitê de Política Monetária.